“Só não sabe quem não procurou saber”

Foto: P. R. de Bruno

A condução do descruzamento das participações acionárias da PREVI na Cia. Vale do Rio Doce e na Cia. Siderúrgica Nacional bem como a gestão atual da Vale foram questionadas. Luiz Tarquínio, que esteve à frente da operação, contesta e diz que a Diretoria e o Conselho Deliberativo da PREVI tiveram amplo acesso às informações.


O que foi o descruzamento entre as participações da PREVI na Vale do Rio Doce e na CSN?
O que se convencionou chamar de descruzamento foi a eliminação das participações acionárias recíprocas entre a Cia. Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
No âmbito do descruzamento, PREVI, Bradesco e a própria Vale deixaram de ser acionistas da CSN, por meio da venda de suas ações ao Grupo Vicunha. A CSN, atualmente controlada pelo Grupo Vicunha, vendeu sua participação no capital da mineradora para PREVI e Bradesco.

Diretoria responde à Revista Isto É Dinheiro. A carta foi publicada em 20/2/2002O que esta operação representou para a PREVI?
Em primeiro lugar, o descruzamento gerou ganho financeiro bruto de
R$ 530 milhões para a PREVI. Foi um negócio excelente, tendo em vista o fato de que vendemos, com prêmio de controle, ações adquiridas diretamente na bolsa de valores. Além disso, a operação trouxe outros benefícios para as duas empresas, seus acionistas e para a mineração e a siderurgia no Brasil.

Que outros benefícios são estes?
Os benefícios a que me refiro são ligados ao início de uma nova era na administração da Vale. Concluído o descruzamento, os acionistas remanescentes empreenderam, com auxílio da McKinsey, uma das principais consultorias internacionais, significativo esforço para definição da estratégia corporativa, redesenho do modelo de governança da empresa e de sua forma de gestão.

A Vale progrediu muito desde a conclusão do descruzamento, em 15/3/2001, progresso que começa a ter reconhecimento do mercado. Há pouco tempo o JP Morgan, um dos maiores bancos de investimento do mundo, recomendou a Vale como a empresa com maior potencial de crescimento em 2002 no Brasil. A empresa tem enorme capacidade de geração de resultado e deve fechar 2001 com lucro excelente – nos nove primeiros meses o lucro atingiu R$ 2,4 bilhões, contra R$ 2,1 bilhões observados ao longo de 2000.

A PREVI chegou a emprestar algum dinheiro ao Bradesco para fazer essa operação?
A PREVI não pode, por lei, atuar como instituição financeira. Portanto, não poderia ter emprestado dinheiro ao Bradesco para a execução da operação.

A PREVI foi acusada de ter entregue a gestão da Vale ao Bradesco.
Quem comanda a Vale hoje?

Isto é um absurdo completo. A Vale é uma empresa controlada por PREVI, Bradesco, Investvale e Sweet River, que integram o bloco de controle, sendo que PREVI e Bradesco formaram aliança para viabilizar o descruzamento e hoje detêm, em conjunto, o comando da empresa. Nenhum dos sócios tem o poder isolado de aprovar o que quer que seja na Vale. Essa acusação provavelmente se baseia no fato de que, antes de ser presidente da Diretoria Executiva da Vale, o Roger Agnelli era um executivo do Bradesco. Os nomes do presidente e dos demais diretores, provenientes de grandes grupos do Brasil e do exterior, foram aprovados pelo Conselho de Administração porque os controladores entenderam que ele tem competência para exercer o cargo. É absurda a idéia de que o Bradesco é quem comanda a Vale. Como toda empresa, a Vale é comandada em duas esferas: pelo Conselho de Administração e pela Diretoria Executiva.

Como foi a condução do processo? A Diretoria da PREVI discutiu a operação e levou ao conhecimento do Conselho Deliberativo?
Todas as decisões a respeito do descruzamento foram aprovadas por unanimidade pelos membros da Diretoria. Quanto ao Conselho Deliberativo, todas as nossas decisões passam, de uma forma ou de outra, por ele. Eu pedi, inclusive, num certo momento, reunião extraordinária do Conselho ao presidente Paulo Trapp para tratar do assunto. O Conselho Deliberativo sabia do andamento da negociação, sabia das questões que vinham sendo tratadas. Só não sabe, só não soube quem não procurou saber. Depois de concluída a operação, o Conselho solicitou uma apresentação por conta de questões que foram levantadas pela Auditoria da PREVI. Feita a apresentação, o Conselho se declarou satisfeito. O Conselho está suficientemente informado sobre o andamento das coisas na Vale, tanto quanto no caso da telefonia, onde temos disputa judicial com o Opportunity. Eu posso apresentar como prova a ata do Conselho onde está consignada a realização da apresentação. Quem não sabe de nada é porque nunca procurou saber.

A Petros também contestou a Revista Isto É Dinheiro em carta publicada em 27/2/2002Os negócios da PREVI com o Opportunity são outro alvo. Foram lançadas suspeitas à parceria que a PREVI tem com a TIW nas empresas de telefonia celular, a Telemig e a Telenorte (Amazônia Celular).
A PREVI mantém ligação com a TIW porque tem o mesmo problema da empresa canadense: pagou prêmio pelo controle da Telemig Celular e da Tele Norte Celular (Amazônia Celular) e não tem os direitos que deveriam decorrer desse pagamento registrados em contrato. Em outras palavras, pagou para ser controlador e não é. Também é bom que se esclareça de uma vez por todas que, na origem, quem trouxe a TIW para o consórcio que venceu o leilão de privatização das operadoras de que se trata foi o Banco Opportunity. Se intensificamos nosso relacionamento com a TIW, foi com o objetivo de formar um bloco com maior capacidade para resolver os problemas existentes e, assim, melhor defender o interesse da PREVI e de seus participantes. Disso, tanto quanto sobre o caso da Vale, tem consciência o Conselho Deliberativo ou, pelo menos, a maioria de seus integrantes.

Existe algum pedido de informação do Conselho Deliberativo pendente de atendimento pela Diretoria?
Não.

Você é ou foi filiado ao PT?
Não.


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