É cada vez mais importante a questão da previdência
Para o professor emérito da FGV-SP, Paulo Sandroni, é importante a população em geral entender os conceitos da economia e se preparar para um mundo em que a previdência social e o mundo do emprego geram incertezas sobre o futuro
Paulo Sandroni é professor emérito da
Escola de Administração de Empresas
da Fundação Getúlio Vargas de São
Paulo, trabalha também como pesquisador
e consultor. Conhecido por livros
que tentam traduzir o “economês” para estudantes
e para o grande público, como o Dicionário de
Economia do Século XXI, obra que existe há 20
anos e que já vendeu mais de 200 mil exemplares
em suas diversas edições, sendo considerada o “Dicionário Aurélio” da economia. Nesta entrevista
exclusiva à Revista Previ , Sandroni fala
sobre a importância de a população acompanhar
a economia, pois ela influencia a vida de todos,
e também ter educação financeira e aderir a planos
de previdência complementar por conta das
incertezas que rondam a previdência social e o
mundo do trabalho.
Revista PREVI – O senhor tem livros lançados
com a preocupação de traduzir a economia para
o grande público, qual a importância disso?
Paulo Sandroni – Desde que comecei minha
carreira na universidade, percebi que os alunos
tinham muita dificuldade em entender os conceitos
de economia, então procurei tornar mais
fácil seu entendimento e sua abordagem. Escrevi
coisas com grau de complexidade maior, mas em grande medida meus trabalhos mais conhecidos
são aqueles dedicados a divulgar a economia, em
transformar também a vida dos professores em
algo mais fácil no trabalho cotidiano.
Revista – No dia a dia, é importante para a população
em geral conhecer economia?
Sandroni – Acho que sim. As pessoas se assustam
muito também porque grande parte dos
economistas encarrega-se de deixar a economia
mais complicada do que realmente é. Usa uma linguagem
muito cifrada, que quando não entendida
faz parecer que a coisa é instransponível. Quando
se está falando para o grande público, não se pode
falar como se estivesse entre seus pares. E o grande
público merece isso porque sofre as consequências
do que acontece na economia. Por essa razão me
veio a ideia de fazer um dicionário de economia
e agora um dicionário de economia e finanças.
Os dois, de certa maneira, buscam ser um apoio
para quem não entende muito bem o que está
acontecendo na economia e procura se informar.
E mesmo muitos alunos não entendem os autores
mais famosos, que precisam ser, de alguma forma,
mais simplifi cados, para que aqueles que estão
entrando na escola não sintam repulsa por aquilo
que não entendem.
Revista – Voltando para o dia a dia de um fundo
de pensão, a PREVI lançou a possibilidade de o associado
de um dos planos, o PREVI Futuro, optar
por um perfil de investimento. Basicamente, se
quer maior exposição ou não em renda variável,
do saldo de conta que ele acumula para formar
o benefício. O que é importante levar em conta
nesse tipo de opção?
Sandroni – O mercado financeiro caracterizase
pela incerteza e instabilidade, ninguém pode
garantir qual o futuro imediato ou o médio prazo,
nem o longo prazo. A primeira coisa que deve ser
esclarecida para os participantes é que ninguém
pode dar garantias de que aquela aplicação em
renda variável será exitosa, deve-se advertir sobre
os riscos e a incerteza. A segunda coisa que deve ser
estimulada é que cada um faça uma análise de sua
propensão ou aversão ao risco. Antes de procurar
conselho de outras pessoas, precisa saber se se sente
bem correndo riscos, se a perda será muito dolorosa.
A satisfação de um pouco mais é maior que a
dor de perder? Quem não está muito acostumado
com mercado financeiro entra no momento em
que deveria sair e sai quando deveria entrar. Mas é claro que, no caso da PREVI, há profi ssionais especializados
para tocar os investimentos. Ao fazer
a opção por renda variável, os gestores aplicam e
podem fazer as distintas advertências e análises. O
importante é que a pessoa, se perder, saiba porque
perdeu. Segundo lugar, se perder, já estar contabilizando
isso como uma possibilidade, não ficar como
aquele que aplica e acha que vai ganhar sempre.
Revista – Para a pessoa poder ter opções é necessária
a educação financeira. Qual a importância
desse tipo de conhecimento?
Sandroni – A educação financeira cobra um significado muito grande agora, quando todo mundo
está vendo que as condições da previdência universal
tornam-se cada vez mais frágeis, porque a situação de grande geração de empregos na década de 1970
mudou. Além de as pessoas estarem vivendo mais,
com necessidade de uma provisão maior para fazer
frente aos desembolsos suplementares. O número
de contribuintes também vem caindo em relação
a quem recebe os benefícios. Então, a previdência
complementar deve ser uma alternativa cada vez
mais divulgada, principalmente para quem está entrando
no mercado de trabalho. Tem gente que entra
e já faz seu fundo de previdência, porque também
há questão do desemprego ou da não existência do
emprego permanente, como era antes. Portanto, é
cada vez mais importante a questão da previdência.
Temos de atuar como os japoneses e asiáticos, que
fazem poupança para enfrentar um futuro em que
a incerteza e a insegurança têm papel importante.
Esse hábito deve ser estimulado. Brasileiro, hoje,
ainda tem um hábito meio norte-americano de
consumir, mesmo com taxas de juros muito altas.
Mas agora eu vejo que a prática da previdência está
se difundindo. Outra coisa que existia no passado
e não existe mais, principalmente em famílias que
vinham do campo, era a esperança de os filhos garantirem
o futuro dos pais, hoje a coisa se inverteu.
Em muitas famílias, é a aposentadoria dos pais que
garante a manutenção da família.
Revista – Essa preocupação influencia no conhecimento
da economia, como cálculo de juros etc.
Sandroni – O importante é fazer cálculo de
juros compostos para o futuro, ver com quanto é
necessário contribuir para ter a remuneração que
se pretende. Todos esses cálculos são complexos,
mas isso cada vez mais vai se tornando presente.
Agora, com os meios de comunicação e com os
computadores, em que há programas que fazem
cálculos, simuladores, dá para planejar muito
mais. É importante também que estamos passando
por um período de baixa inflação, que contribui
muito para poder fazer esses cálculos. Na hiperinflação
quem poderia fazer cálculos para mais
de uma semana? Tem uma série de mudanças que
hoje estão contribuindo para isso.
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