Revista – Há um bê-a-bá de conceitos que as
pessoas deveriam saber?
Sandroni – A primeira noção não tem a ver com
as finanças imediatamente. É saber que a condição
para que exista riqueza, é que essa riqueza seja produzida.
E para produzir é indispensável o tempo, e
o tempo implica uma duração. Portanto, para você
ganhar juros sobre um investimento é preciso que
haja tempo para a produção se desenvolver. Se o
tempo é indispensável, é necessário calcular o que
você vai investir, ganhar ou perder nesse tempo.
Portanto, a taxa de juros está relacionada a isso,
pois é um pagamento diferido no tempo. Sem
crescimento da riqueza não há como pagar juros.
Como o tempo traz um grande elemento de incerteza,
não dá para garantir qual será a taxa de juros
no futuro. O mercado financeiro não é como um
beija-flor, que se apoia na própria vibração. Precisa
ter alguma sustentação aqui embaixo. Se o setor
produtivo vai mal, o setor financeiro não pode ir
bem no longo prazo. Não dá para todos ganharem
quando o PIB está encolhendo. A segunda noção é
que as empresas que participam do mercado costumam
guardar as informações ruins até o último
momento, então uma crise pode advir de forma
quase inesperada, porque grandes corporações deixaram
para revelar no último momento que estão
com uma fragilidade estrutural. Isso também se
deve deixar claro, que é desconfiar sempre e buscar
o máximo grau de informação. E em terceiro lugar é muito importante para o investidor não arriscar
o que chamo de “leite das crianças”, o fundamental
para o sustento da família. Ele pode arriscar aquilo
que não vai fazer falta, que não comprometerá a
estabilidade material da família.
Revista – De maneira geral, as pessoas entendem
mais de economia hoje?
Sandroni – Entendem, porque nos últimos 20
anos tivemos mudanças sensacionais na comunicação.
Hoje você pode acessar a internet e receber
notícias de qualquer canto do mundo e também
explicações sobre muita coisa que está acontecendo.
Para isso a internet é um instrumento fantástico.
Por outro lado, como essas comunicações
se tornaram muito fáceis, amplas e baratas, elas
mesmas contribuem para que você seja vítima
de qualquer coisa que aconteça no mundo. As
repercussões de uma crise são muito rápidas.
Algo que acontece na Inglaterra, nos Estados
Unidos ou no Japão infl uencia a bolsa brasileira
quase imediatamente, nem dá tempo de você se
preparar. É necessário fi car o tempo todo atento e
acompanhar bem. Muita gente transmite notícias
para outras pessoas também por redes de e-mail,
de relacionamento. Tudo isso serve para divulgar
mais os problemas econômicos que afetam a cada
um no dia a dia.
Revista – Mesmo com esse acesso maior, o senhor
acha que a população consegue entender os
conteúdos da economia?
Sandroni – Nem sempre, porque, ao mesmo
tempo que as comunicações se difundiram, os
processos financeiros, principalmente, tornaram-se muito complexos. E essa complexidade
só vem à tona nos momentos de crise. De uma
hora para outra surgem manejos financeiros
que ninguém conhecia, só os especialistas. Por
exemplo, ninguém falava em subprime, que era
uma prática que já existia há algum tempo. Derivativos
e opções, mecanismos complexos das
finanças, também são difíceis de ser entendidos.
Porque são filhotes desse mundo das comunicações
e da generalização do processo financeiro
internacional. Hoje você tem na verdade um
pregão só, mundial, porque investidores de
qualquer canto do mundo podem aplicar em
bolsas do outro lado do planeta. Por exemplo,
no momento em que a bolsa do país fechou, as
da Ásia estão abrindo.
Revista – Falando especificamente para um participante
de fundo de pensão, o que é importante
para ele acompanhar e fiscalizar sua entidade?
Sandroni – Em primeiro lugar ver qual o sistema
de fiscalização e de auditoria que seu fundo tem.
Saber quem participa e quais os informes que são
divulgados. Segundo lugar, se o fundo acompanha
ou não as regras que estão sendo instituídas agora
para a proteção do mercado financeiro internacional,
quais são as articulações das empresas que
compõem o portfólio fundamental do fundo e a
situação dessas empresas. Se há informes sobre
essas empresas ou não. E pedir que sejam divulgadas
informações sobre as principais empresas.
E que haja, pelo menos de tempos em tempos,
reuniões de prestação de contas aos associados
para explicar como vão as empresas em que o
fundo detenha ações. |