|nº 145| Out 09

Nesta Edição » Entrevista » É cada vez mais importante a questão da previdência

Revista – Há um bê-a-bá de conceitos que as pessoas deveriam saber?

Sandroni – A primeira noção não tem a ver com as finanças imediatamente. É saber que a condição para que exista riqueza, é que essa riqueza seja produzida. E para produzir é indispensável o tempo, e o tempo implica uma duração. Portanto, para você ganhar juros sobre um investimento é preciso que haja tempo para a produção se desenvolver. Se o tempo é indispensável, é necessário calcular o que você vai investir, ganhar ou perder nesse tempo. Portanto, a taxa de juros está relacionada a isso, pois é um pagamento diferido no tempo. Sem crescimento da riqueza não há como pagar juros. Como o tempo traz um grande elemento de incerteza, não dá para garantir qual será a taxa de juros no futuro. O mercado financeiro não é como um beija-flor, que se apoia na própria vibração. Precisa ter alguma sustentação aqui embaixo. Se o setor produtivo vai mal, o setor financeiro não pode ir bem no longo prazo. Não dá para todos ganharem quando o PIB está encolhendo. A segunda noção é que as empresas que participam do mercado costumam guardar as informações ruins até o último momento, então uma crise pode advir de forma quase inesperada, porque grandes corporações deixaram para revelar no último momento que estão com uma fragilidade estrutural. Isso também se deve deixar claro, que é desconfiar sempre e buscar o máximo grau de informação. E em terceiro lugar é muito importante para o investidor não arriscar o que chamo de “leite das crianças”, o fundamental para o sustento da família. Ele pode arriscar aquilo que não vai fazer falta, que não comprometerá a estabilidade material da família.

Revista – De maneira geral, as pessoas entendem mais de economia hoje?

Sandroni – Entendem, porque nos últimos 20 anos tivemos mudanças sensacionais na comunicação. Hoje você pode acessar a internet e receber notícias de qualquer canto do mundo e também explicações sobre muita coisa que está acontecendo. Para isso a internet é um instrumento fantástico. Por outro lado, como essas comunicações se tornaram muito fáceis, amplas e baratas, elas mesmas contribuem para que você seja vítima de qualquer coisa que aconteça no mundo. As repercussões de uma crise são muito rápidas. Algo que acontece na Inglaterra, nos Estados Unidos ou no Japão infl uencia a bolsa brasileira quase imediatamente, nem dá tempo de você se preparar. É necessário fi car o tempo todo atento e acompanhar bem. Muita gente transmite notícias para outras pessoas também por redes de e-mail, de relacionamento. Tudo isso serve para divulgar mais os problemas econômicos que afetam a cada um no dia a dia.

Revista – Mesmo com esse acesso maior, o senhor acha que a população consegue entender os conteúdos da economia?

Sandroni – Nem sempre, porque, ao mesmo tempo que as comunicações se difundiram, os processos financeiros, principalmente, tornaram-se muito complexos. E essa complexidade só vem à tona nos momentos de crise. De uma hora para outra surgem manejos financeiros que ninguém conhecia, só os especialistas. Por exemplo, ninguém falava em subprime, que era uma prática que já existia há algum tempo. Derivativos e opções, mecanismos complexos das finanças, também são difíceis de ser entendidos. Porque são filhotes desse mundo das comunicações e da generalização do processo financeiro internacional. Hoje você tem na verdade um pregão só, mundial, porque investidores de qualquer canto do mundo podem aplicar em bolsas do outro lado do planeta. Por exemplo, no momento em que a bolsa do país fechou, as da Ásia estão abrindo.

Revista – Falando especificamente para um participante de fundo de pensão, o que é importante para ele acompanhar e fiscalizar sua entidade?

Sandroni – Em primeiro lugar ver qual o sistema de fiscalização e de auditoria que seu fundo tem. Saber quem participa e quais os informes que são divulgados. Segundo lugar, se o fundo acompanha ou não as regras que estão sendo instituídas agora para a proteção do mercado financeiro internacional, quais são as articulações das empresas que compõem o portfólio fundamental do fundo e a situação dessas empresas. Se há informes sobre essas empresas ou não. E pedir que sejam divulgadas informações sobre as principais empresas. E que haja, pelo menos de tempos em tempos, reuniões de prestação de contas aos associados para explicar como vão as empresas em que o fundo detenha ações.

<< Primeira | < Anterior | 1 | 2 | Próxima > | Última >>