Jovens aos 60 anos
Com maior expectativa de vida, melhores condições de saúde, muitas pessoas se aposentam para começar outra carreira, trabalhar em causas sociais ou concretizar sonhos guardados por toda a vida
A aposentadoria, saída da empresa na
qual trabalhamos às vezes por toda
uma vida, pode estar ligada à imagem
de um sessentão de pijama em casa.
Mas isso vem mudando radicalmente
a cada dia por conta dos avanços da medicina, dos
cuidados com alimentação e hábitos mais saudáveis.
Hoje, boa parte das pessoas chega aos 60 anos
com vitalidade e disposição para encarar novos
desafi os, como começar outra carreira, trabalhar
como voluntário, descobrir vocações ou mesmo ter tempo para escrever, viajar, fazer aquilo com
que se sonhou a vida inteira.
E esse processo é cada vez mais evidente e
profundo. Há quem afirme, como Ana Amélia
Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), que não se vem assistindo
apenas a um processo de envelhecimento da
sociedade, mas a quase um “rejuvenescimento”.
“As fragilidades e as degenerações da saúde estão
sendo empurradas cada vez mais para frente.
As pessoas na faixa dos 60 anos estão em plena
capacidade física e cognitiva”, afirma.
Exemplos das peripécias desses “novos jovens”
não faltam. Em maio deste ano, por exemplo, o
inglês Ranulph Fiennes, de 65 anos, chegou ao
cume do Monte Everest, após escalar seus 8.850
metros. Antes, já havia dado a volta ao mundo a
pé, fez uma circum-navegação marítima de um
polo a outro e correu sete maratonas na Patagônia,
Falklands, Sidnei, Cingapura, Londres, Cairo
e Nova Iorque.
Eduardo Valente Júnior, de 58 anos, que se
aposentou no BB em 2001, depois de 32 anos de
trabalho, não foi tão radical quanto Fiennes, mas
também acumula muitos quilômetros viajados.
Na nova vida, chegou a trabalhar cerca de dois
anos como guia turístico, para ganhar algo e
fazer aquilo de que mais gosta, viajar. Também
tornou-se secretário de Turismo de São Luiz do
Paraitinga, cidade no interior de São Paulo, mas
acabou optando por sua verdadeira paixão, sair
pelo mundo sem muitos compromissos.
Boa parte dos milhares de quilômetros foi feita
a bordo do Poderoso, um Vectra que tem esse
apelido em homenagem a Ernesto Che Chevara,
que em 1952, ainda estudante de Medicina, saiu
de motocicleta pela América do Sul, num roteiro
semelhante ao percorrido por ele e a esposa em sua primeira aventura depois da decisão de abandonar
as outras atividades. Hoje Eduardo Valente se diz
um “turista profissional”. Viaja, em média, oito
meses por ano; nos outros quatro tira férias em
sua casa em São Luiz do Paraitinga.
Eduardo conta que o casal costuma pegar estrada
fora do período de férias escolares, o que garante
preços mais baixos e evita lotações. Normalmente,
escolhem o destino e fazem pesquisas na internet
sobre as cidades que pretendem visitar, deixando
em aberto a possibilidade de esticar ou encolher
a viagem. Dão preferência aos apart-hotéis, que
oferecem cozinha para o preparo das refeições e são
mais confortáveis e baratos. Todas as experiências
são compartilhadas em seu site (www.valentesnaamerica.com) numa espécie de diário de bordo.
“Sempre controlo os gastos de uma forma que
eles nunca excedam o valor que recebo mensalmente”,
afirma, ao mesmo tempo que diz não pretender
deixar as estradas tão cedo: “Enquanto nossas
condições de saúde permitirem, essa é a vida que
queremos levar. O mundo é muito grande, existem
coisas belas e interessantes em todos os lugares.”
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