Intercâmbio entre gerações
O aumento da longevidade da população brasileira
já proporciona e continuará estimulando a
convivência e as transferências entre as gerações,
desde o mais idoso ao mais jovem. Como resultado,
cresce o intercâmbio de valores, expectativas e
experiências vividas, segundo Fernando Albuquerque,
gerente do Projeto Componentes da Dinâmica
Demográfica, do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), e professor de demografi a
da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (veja
sua análise sobre o comportamento demográfico na próxima página). Também para Agostinho Both,
os jovens dos anos 60 e 70, que romperam com o
comportamento padrão da época de submissão aos
adultos, envelheceram e também não aceitaram o
papel até então reservado aos mais idosos.
Um dos exemplos dessa mudança de papéis na
sociedade é Casimiro Correia Nunes, de 57 anos,
dos quais 37 deles no BB. “Desde que me aposentei,
em setembro de 2007, não passei uma tarde
em casa. Olha que tenho bons motivos, meu sofá
é bem confortável, e tenho uma ótima televisão”,
diz. Em lugar de botar o pijama, Casimiro tornouse
uma figura vital para pelo menos 70 crianças
de um bairro carente de Joinville, onde montou
uma escola. Ele conta que ao longo da vida sempre
procurou ajudar quem precisasse. Tinha como
projeto vender tudo o que conquistou e, após a
aposentaria, mudar-se para o interior do Nordeste
e dedicar-se a uma comunidade local. Porém,
percebeu que não precisava ir tão longe.
A cerca de 20 quilômetros de sua casa, conheceu
o Jardim Paraíso. Apesar do nome, um bairro
perigoso e carente. Começou com o trabalho de
alfabetização de adultos que a esposa já fazia. Aí,
percebeu que era necessário fazer algo pelos filhos
daqueles adultos. Então foi alugada uma casinha
de madeira e criada a sede do Grupo de Assistência
Social Paraíso (Gasp), uma sociedade civil voltada à
assistência social. Mais tarde, a prefeitura doou um
terreno onde foi montada a escola, com duas salas
de aula, um refeitório e um “escovatório” de dentes,
em que são atendidas crianças entre 3 e 6 anos. Há
duas merendeiras, três professores e um assistente
pedagógico, todos da própria comunidade. As
crianças além das refeições recebem material escolar,
uniformes, calçados e tratamentos dentários.
“Prefiro usar meu tempo na busca de apoio
ao Gasp, atrás das documentações exigidas pela
Secretaria de Educação, além de fazer todo o trabalho
burocrático e contábil de lá. Também estou
empenhado em transformá-la numa Organização
da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) para ter direito a verbas federais. Como sou jipeiro,
também não parei nas últimas enchentes, levando
enfermeiros e alimentos nas áreas de difícil
acesso daqui de Santa Catarina. Ainda pretendo
instigar meus colegas da AABB a arregaçarem
as mangas porque tem muita coisa a ser feita. Se
estão cansados do trabalho burocrático, podem
contar histórias para as crianças”, avisa Nunes, que
recebeu dois prêmios como exemplo de trabalho
voluntário indicados pelo Sesc.
Casimiro, Eduardo e Carlos são apenas alguns
exemplos dessa nova realidade vivida por pessoas
que chegam à idade da aposentadoria joviais e com
muita disposição. Mas não é preciso ter grandes
projetos ou mudanças radicais para “rejuvenescer”.
Simplesmente ter mais tempo disponível para dedicar-se aos afetos (cônjuges, pais, filhos, netos),
aos estudos ou aos hobbies já é uma forma de
viver melhor no período cada vez mais longo da
pós-aposentadoria. Eduardo Valente, por exemplo,
lembra que a perspectiva de se desligar do Banco
era um tanto aterradora. “O segredo é ter um novo
objetivo na vida. Provavelmente se eu tivesse me
aposentado em 2001 e vestido o pijama, hoje não
estaria dando entrevista. No site que mantenho,
tento mostrar para outros aposentados que é
perfeitamente possível conhecer novos lugares e
novas culturas. Meu pai está com 82 anos e ainda
viaja bastante, dirigindo seu próprio carro”, diz. E
a vida continua.
BRASIL – Participação (%) dos grandes grupos populacionais na população total 1940/2050
|
Grandes Grupos |
Participações relativas (%) |
1940 |
1950 |
1960 |
1970 |
1980 |
1991 |
2000 |
2010 |
2020 |
2050 |
0 a 14 anos |
42.6 |
41.8 |
42.7 |
42.1 |
38.2 |
34.7 |
29.6 |
25.6 |
20.1 |
13.1 |
15 a 64 anos |
55.0 |
55.7 |
54.6 |
54.8 |
57.7 |
60.4 |
64.5 |
67.6 |
70.7 |
64.1 |
65 anos e + |
2.4 |
2.4 |
2.7 |
3.1 |
4.0 |
4.8 |
5.9 |
6.8 |
9.2 |
22.7 |
Total |
100.0 |
100.0 |
100.0 |
100.0 |
100.0 |
100.0 |
100.0 |
100.0 |
100.0 |
100.0 |
Fonte: Censos Demográficos 1940/2000. Projeção da população do Brasil por sexo e idade para o período 1980/2050. Revisão 2008. |
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