Mudança de perfil
Segundo Agostinho Both, professor do mestrado
sobre Envelhecimento Humano da Universidade
de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, com diversos
livros publicados sobre o assunto, há razões
cruciais para explicar essa mudança do perfil da
população na faixa dos 60 anos. A primeira delas
são as conquistas da medicina, especialmente a
partir dos estudos da microbiologia, a descoberta
de vacinas e o desenvolvimento de antibióticos. “Doenças como a pneumonia, que debilitavam
muito o organismo, hoje são tratadas sem grandes
prejuízos”. Ele também cita os avanços tecnológicos
das intervenções cirúrgicas, sendo que muitos procedimentos
sofi sticados estão disponíveis inclusive
no Sistema Único de Saúde, SUS. Aponta também a
tomada de consciência de que os hábitos saudáveis
garantem maior preservação do organismo.
Outro ponto importante é o aspecto cultural da
sociedade, que reduziu as barreiras cronológicas. “Uma pessoa da faixa dos 60 está nas ruas, convivendo
com jovens, adultos e crianças, sentindo-se
socialmente mais jovem, o que faz a maior diferença.
Além disso, há vários meios de ocupação
do tempo livre para pessoas aos 60 anos, como a
internet, o teatro, o cinema... Elas estão inseridas
culturalmente e socialmente”, avalia.
Ana Amélia Camarano reforça que a sociedade
está cada vez mais receptiva em relação à presença
dos idosos tanto no mercado de trabalho como
socialmente. E isso pode ser visto em pesquisas,
que mostram que hoje 30% dos homens aposentados
voltam para o mercado de trabalho. Nesse
universo, há profi ssionais liberais que são ainda
mais valorizados pela vasta experiência, como os
médicos e os advogados, mas não faltam pessoas
com baixa escolaridade e renda que continuam
trabalhando até mesmo por necessidade.
Na realidade, segundo o geriatra João Senger, da
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia,
presidente da Associação Brasileira de Neuropsiquiatria
Geriátrica e professor de pós-graduação
da PUC de Porto Alegre, o fenômeno é ainda mais
complexo. A partir do aumento da perspectiva
de vida, tudo foi sendo empurrado para frente: a
saída da casa dos pais, o casamento, a paternidade
e a maternidade, assim como o envelhecimento. “Aproveita-se mais o tempo de vida. As pessoas
aprenderam a se cuidar e a manter a saúde,
chegam aos 60 anos com um vigor físico bom,
sem as enfermidades degenerativas e limitantes,
conseguindo fazer coisas que eram impossíveis
há 20 ou 30 anos. Ao se aposentar, as pessoas não
ficam mais dentro de casa, querem continuar no
palco da vida. Seja viajando, estudando, abrindo
um negócio”, relata.
Para ele, exemplo extremo dessa mudança é o
roqueiro Mick Jagger que, aos 65 anos, continua
fazendo shows, cantando e dançando. Ele ressalva
que ainda existem alguns grandes desafi os para
a medicina, entre eles as doenças degenerativas,
como Mal de Alzheimer e o de Parkinson, que
afetam gravemente a qualidade de vida, além dos
diferentes tipos de câncer.
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