|nº 136| Set 08

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Crises cíclicas

Lehman Brothers: Quarto maior banco de investimento dos Estados Unidos, com 158 anos de fundação, entrou com pedido de falência depois de ser atingido pesadamente pela crise com os títulos imobiliários de alto risco, conhecidos como “subprime”.

Se a crise é clara, entender como é gerada e por que acontece não é tão fácil. E fica a pergunta se é possível para os governos e autoridades monetárias evitarem-nas. Segundo o economista e consultor Marcelo Perón, o fato é que, para o bem e para o mal, essas crises são cíclicas no sistema capitalista. “Essa é uma formação econômica que ajusta a produção excessiva de riqueza por meio de sua desvalorização. Este é o fenômeno que vivemos no presente momento, do qual a quebra do Lehman Brothers, destruindo aproximadamente US$ 600 bilhões em riqueza, é um ícone. é claro que em momentos como estes há uma tendência, até certo ponto natural, de dar uma dimensão maior à crise. Não se pode esquecer, contudo, que essas crises fazem parte da normalidade capitalista e que, do ponto de vista estritamente econômico, são funcionais para o sistema, na medida em que, uma vez superadas, preparam um novo ciclo de crescimento”, afirma.

Posições alavancadas: Alavancagem financeira – Utilização de recursos de terceiros para aumentar as possibilidades de lucro. Quando o rendimento do capital é superior ao seu custo, o investidor tem lucro. Mas quando ele aposta e o ativo em que investiu se desvaloriza, tem prejuízo. Foi o que aconteceu com muitos bancos que emprestaram dinheiro de terceiros para comprar e especular com títulos imobiliários. Com a crise, não tiveram como honrar seus compromissos.

Marcelo destaca também que grande parte do problema é a existência por parte dos investidores de posições “alavancadas”, isto é, empréstimos para que determinados agentes financeiros pudessem adquirir ativos e especular com seus valores. Quando vem a crise, eles exigem o retorno de parte de seus recursos. “Nesse sentido, a saída dos investidores estrangeiros das bolsas brasileiras pouco tem a ver com suas percepções de risco, quer da economia como um todo, quer das ações que carregavam em seus portfólios. A rigor, com a liquidação das posições no Brasil, fazem caixa para suportar perdas que tiveram em outros mercados e classes de ativos. é de se notar, ainda, que este movimento apresenta certa assimetria, pois se liquidam normalmente em primeiro lugar os ativos que apresentam alta liquidez, e atendem a este critério, tanto as ações das companhias brasileiras, quanto os títulos representativos de nossa dívida soberana”, analisa Perón.

Até onde vai

Commodities: Negociação de mercadorias primárias, cuja cotação acontece em bolsas em todo o mundo. Correspondem a quase 50% das exportações brasileiras, principalmente em produtos como minério de ferro, soja, celulose e petróleo.

Se em grande parte a crise econômica e os efeitos que provocam nas bolsas independem de ações do governo brasileiro, deve-se considerar que os avanços obtidos pelo país em sua economia são muito importantes (veja matéria Impactos no Brasil: consenso de que estamos mais fortes). Mas o consultor Einar destaca que existem alguns gargalos a serem enfrentados pelo mercado de capitais brasileiro. Um deles é a dependência da comercialização de commodities por parte das maiores empresas negociadas em bolsa. “Estamos num mercado focado em exportação de commodities, quando há recessão ou diminuição de seus preços, as empresas brasileiras acabam sendo muito penalizadas.”
Por conta disso, além do combate à crise norteamericana, para analisar corretamente o valor das empresas brasileiras e sua possível valorização, é necessário saber como ficará o crescimento econômico mundial no próximo período. Se o mundo entrar em recessão, com nossos maiores importadores, como a China, diminuindo suas compras, a tendência é que demore mais para que as empresas brasileiras recuperem seus valores. Se a crise passar logo e vier novo ciclo de crescimento, a aposta é que devem se valorizar porque seus fundamentos econômicos são muito bons.

Lucratividade no mundo real

Antes da crise, as maiores empresas brasileiras bateram recordes de lucratividade. Segundo a consultoria Economática, 317 empresas de capital aberto, de 22 setores, obtiveram lucro de R$69,287 bilhões de janeiro a junho deste ano, o que equivale a um crescimento de 8,96% anualizado. O setor que mais obteve retorno foram as instituições financeiras, com lucro líquido de R$ 6,579 bilhões, que representa 23,9% do lucro total das empresas analisadas. No segundo lugar vem óleo e gás, com lucro total de R$ 15,809 bilhões, acréscimo de 41,3% sobre os R$ 11,19 bilhões no mesmo período do ano anterior. Depois vem o setor elétrico, com lucro de R$ 8,765 bilhões (12% de crescimento), de mineração, com R$ 6,937 bilhões (redução de 36,6%), siderurgia e metalurgia, R$ 6,802 bilhões (42,7% mais). Os dados foram coletados por meio de informações enviadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os valores são nominais, sem ajuste pela inflação.

Valor de Mercado em bilhões US$
Quantidade de empresas País 31/12/2007 25/9/2008 em 2008
US$ US$ US$ %
1.234 USA 16.152,0 13.239,4 -2.912,6 -18,0
326 Brasil 1.181,6 897,3 -284,3 -24,1
Quantidade de empresas País 20/5/2008 25/9/2008 De 20/5/8 até 25/9/8
US$ US$ US$ %
1.234 USA 15.388,9 13.239,4 -2.149,5 -14,0
326 Brasil 1.379,4 897,3 -482,1 -34,9

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