Mais ferramentas para fazer escolhas
A psicanalista e psicóloga Vera Ferreira fala sobre a importância do autoconhecimento na hora de investir
É preciso vencer a tendência de agir com a
emoção na tomada de decisões em relação
a investimentos. Ter informações confiáveis,
conhecer a si mesmo e traçar objetivos para a
aposentadoria são fatores essenciais na escolha
de como investir. Veja abaixo os principais trechos da entrevista
exclusiva concedida à Revista PREVI por Vera Rita
de Mello Ferreira, representante no Brasil da Associação
Internacional de Pesquisa em Psicologia Econômica.
Revista PREVI – A senhora, em livros, diz que é praticamente
impossível tomar decisões puramente guiadas
pela razão. Elas vão da euforia à depressão. Como fugir
dessas armadilhas e ser mais racional?
Vera Rita de Mello Ferreira – É bom entender um
pouco sobre quando falo das emoções estarem indissociadas
da razão. O nosso funcionamento mental vem
evoluindo desde o início da espécie humana e até há
algumas dezenas de milhares de anos o que dominava era
a parte do cérebro que processa as emoções. A tomada
de decisão era quase instintiva. Se vejo um perigo, corro
dele. Alguma coisa me agrada, corro em direção a ela.
Essa sinalização em termos de prazer e sofrimento é o que
nos guia desde quando viemos dos macacos. Os macacos
não têm a parte do lóbulo frontal, onde é processada a
razão. Esse nosso mecanismo é mais recente e mais frágil.
A gente tem de vencer a tendência a funcionar com a
parte emocional para colocar em ação o circuito racional,
mas não tem como deixar a emoção de lado.
Revista – Os jovens, atualmente, estão mais preparados
para os investimentos?
Vera – Começam a estar. Para a minha geração, com
mais de 50 anos, não existia isso, a gente era hippie, então
era até feio pensar em dinheiro. Culturalmente, as coisas
foram mudando a partir dos anos 80 e virou moda falar
em dinheiro, as pessoas perderam até um pouco do pudor,
mas agora está mudando de novo por causa da crise. O
lado bom de falar sobre dinheiro é que as pessoas ficaram
mais conscientes sobre a necessidade de planejar, além do fato de não ter mais inflação alta desde 1994. Com a estabilidade
e mais longevidade, as pessoas começam a ficar
um pouco mais ligadas, mas ainda é insuficiente.
Revista – Na hora de tomar decisão sobre investimentos,
o que é mais importante levar em consideração?
Vera – Tem de pensar em seu próprio caso, idade, perspectivas
para a aposentadoria... Tem gente que pensa em
se aposentar aos 65 para abrir um novo negócio, outros
querem morar na praia. A pessoa tem de conhecer o máximo
possível suas pretensões e entender como está sua
situação atual financeira, familiar, pessoal, profissional
para tentar casar o que pretende com o que tem condições
de fazer. O que todo mundo tem é aversão a perder, não
a se arriscar. Em situações determinadas, mesmo o mais conservador é capaz de correr muitos riscos. Por exemplo,
se está perdendo ou quando perdeu e está inconformado.
Fica tomado pelo desconforto e quer virar o jogo e correr
risco, como uma pessoa que perde num cassino. |