Revista – É difícil ter pensamento de longo prazo numa
sociedade cada vez mais imediatista?
Vera – Sempre foi. Hoje ainda mais porque é valorizado
o já, a juventude, a questão consumista. É muito difícil
pensar no longo prazo e no contexto inteiro. Quando a
bolsa estava “bombando”, as pessoas só pensavam “vou me
dar bem para o resto da vida, não tem risco”. Quando virou,
passaram a ter uma atitude inversa: “o mundo está desmoronando”.
Há um movimento de manada tanto para subir
como para descer. É uma visão parcial, fragmentada.
Revista – Aposentadoria é um projeto de vida. Fazer
um planejamento desse tipo é mais difícil para os investidores
mais jovens?
Vera – De um lado sim, porque está mais longe da aposentadoria.
Mas o fato de a pessoa ter um emprego fixo é
um facilitador, porque é mais difícil para um autônomo
ter um projeto de previdência. No caso da PREVI, já há um
apoio da instituição, você não tem de ir atrás, é só mostrar
com mais clareza os benefícios no longo prazo.
Revista – A crise tem um lado didático, lembra que investimentos
podem trazer perdas. Isso é importante?
Vera – A gente só realiza as coisas dentro da “realidade”.
Pode sonhar, ter desejos, tudo é importante, mas só
realiza no plano real. A situação econômica anterior não
era sustentável e eu já mostrava isso há dois anos porque
autores como o (Paul) Krugman já falavam.
Revista – Como lidar com as emoções nesse sobe-e-desce
dos investimentos?
Vera – Os especialistas em Finanças Comportamentais
costumam dizer algumas coisas que as pessoas não querem
ouvir, como “deixa o investimento quieto”, não fica olhando
no dia-a-dia. Tem gente que fala para olhar apenas uma
vez por ano, para não ficar com tentação de achar que é
um gênio das finanças e o único que vai ganhar se mexer
daqui para lá. Uma vez por ano é exagerado, mas as pessoas
devem ter a disciplina de fazer a contribuição mensal e não
ficarem o tempo todo olhando para os investimentos.
Revista – Quais as informações necessárias na hora de
aplicar ou escolher um perfil de investimento?
Vera – Informações concretas sobre o mercado financeiro
e de qualidade. A dica do vizinho pode não ser relevante.
Por outro lado, as informações sobre o próprio comportamento,
como são tomadas as decisões, são importantes.
Quanto mais a pessoa se conhecer, mais interessantes são
suas ferramentas para escolher. Por exemplo, quando se
está triste, tende-se a escolher qualquer coisa. Se estiver
alegre, a ser mais otimista. É importante que a pessoa
troque informações com a família, converse com consultores.
E quanto mais sossegado estiver, maior a chance de
escolher bem.
Revista – Como na vida, os investidores também podem
“amadurecer”?
Vera – Essa é a pergunta que me faço desde o mestrado,
quando estudei inflação. Talvez um pouquinho. Na crise
agora, aconteceu uma coisa com a bolsa de valores. Os
investidores aqui não
ficaram tão em pânico.
Saíram mais dos fundos,
mas nem tanto das
ações. É possível que
isso seja fruto de todas
as campanhas de popularização
da própria
bolsa, de divulgação de
matérias em nossa área,
de psicologia econômica,
iniciativas de levar
informações sobre o
mercado para os investidores.
Podem ter
se sentido um pouco
mais seguros. |