Postura
ativa em momento de crise
PREVI adota medidas e
pede explicações a empresas das quais
é acionista
minoritária e tiveram prejuízos
milionários com a variação cambial,
entre elas Sadia, Aracruz e Votorantim
No dia 3 de
novembro, a
Sadia realizou
Assembléia Geral Extraordinária convocada a
partir de pedido de esclarecimentos formulado pela PREVI –
acionista minoritária da empresa, com 7,32% do capital total
– sobre os prejuízos de cerca de R$ 777
milhões anunciados pela Sadia no terceiro trimestre. A
iniciativa da PREVI se baseou no Artigo 123 da Lei no
6.404/76, que
faculta o pedido de convocação de
assembléias aos acionistas que tiverem pelo menos 5% do
capital total das companhias.
O caso da Sadia é um dos mais emblemáticos entre
empresas que fizeram apostas financeiras arriscadas com derivativos
cambiais e acabaram amargando prejuízos
milionários, frente à
variação cambial dos últimos meses, a
qual interrompeu trajetória de quatro anos de
valorização do real frente ao dólar.
Além da Sadia, também anunciaram
prejuízos milionários gigantes como a Aracruz e
Votorantim, das quais a PREVI também é acionista
minoritária (3,07% da Aracruz e 1,84% do capital total da
Votorantim Celulose e Papel – VCP – empreendimento
do Grupo Votorantim). No caso da Aracruz, as perdas
chegaram a US$ 2,1 bilhões. Na VCP, foram de R$ 2,2
bilhões. A situação das empresas
chegou a ser apelidada de “subprime
brasileiro”,
numa referência às hipotecas americanas que
iniciaram a crise econômica dos últimos meses.
“A PREVI, na condição de acionista,
solicitou explicações detalhadas à
Sadia porque o nosso interesse é na saúde da
empresa e na proteção do patrimônio dos
nossos participantes”, afirmou Sérgio Rosa,
presidente da PREVI.
Conforme a Sadia, o prejuízo foi realizado porque, diante da
severidade da crise internacional e da alta volatilidade da
cotação da moeda norte-americana, a companhia
decidiu liquidar antecipadamente a posição em
operações cambiais, para reenquadrar a
exposição de risco da empresa. No Fato
Relevante divulgado em 25/09, a Sadia informa que possuía
operações ligadas ao dólar em
“valores superiores à finalidade de
proteção das atividades da Companhia expostas
à variação cambial”.
Entre os assuntos propostos pela PREVI, a AGO da Sadia abordou a
Política Financeira Geral da Companhia e o detalhamento das
operações financeiras atreladas à
variação cambial. Entre as
deliberações, a assembléia acolheu,
por unanimidade, a solicitação da PREVI de
realização de Auditoria Especial para
apuração de eventual responsabilidade dos
administradores. A empresa BDO Trevisan foi indicada pela Companhia
para realizar a auditoria e tem 90 dias para entregar
relatório detalhado com a indicação
dos responsáveis. Nesse prazo, nova assembléia
será convocada para deliberar sobre o resultado do
relatório.
A fim de garantir a disponibilização de
informações mais detalhadas sobre a
exposição das companhias abertas às
operações com derivativos, a Comissão
de Valores Mobiliários (CVM) editou, em 17/10, a
Deliberação no 550. A
medida traz
recomendação às companhias para que
divulguem, além do detalhamento de
informações, análises de sensibilidade
de suas posições, fornecendo aos seus acionistas
e ao mercado referenciais concretos para a
avaliação do risco trazido pelas
posições assumidas pela companhia.
A Associação dos Investidores do Mercado de
Capitais (Amec), com o apoio do Instituto Brasileiro de
Governança Corporativa (IBGC) e da
Associação dos Profissionais de Investimento
(Apimec Nacional), também defende a
transparência. As associações pedem que
as empresas forneçam espontaneamente mais
informações aos acionistas e aconselham
também que os acionistas cobrem ativamente as companhias,
solicitando dados e participando das assembléias que venham
a ser convocadas sobre o assunto.
Com participação em cerca de 80 empresas, a PREVI
recomendou aos conselheiros que
estejam atentos ao desenvolvimento e ao cumprimento de
políticas de movimentações financeiras
adequadas quanto à exposição ao risco
e à consonância com as
operações produtivas.
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