O QUE NOS FAZ BEM
Hobbies, artes, jogos, esportes. Associados da Previ contam como atividades realizadas por paixão, fora da rotina de trabalho, são importantes para a qualidade de vida
leia o artigo completo
A pandemia despertou em Danielle Rocha a necessidade de uma válvula de escape para a tensão do dia a dia. Funcionária de uma agência do Banco do Brasil em Muriaé, Minas Gerais, ela manteve a rotina de trabalho presencial e sentiu fortemente o estresse no período mais crítico de disseminação da Covid-19.
Para aliviar a pressão, Danielle voltou os olhos para suas raízes, mais precisamente para a tradição artesanal do Vale do Jequitinhonha, onde nasceu. “Decidi voltar a praticar o crochê, que aprendi na adolescência”, explica ela.
Com isso, passou a produzir peças em fio de malha. Primeiramente, para presentear amigos e colegas na agência. Depois, passou a vender algumas peças em pequena escala por meio de seu perfil nas redes sociais. “Mais para manter a ocupação”, diz Danielle, surpreendida com o resultado. “Não imaginava que teria talento de verdade para isso”, conta.
Mais do que o talento revelado, Danielle ganhou algo mais com a descoberta do artesanato em crochê: autoconhecimento. “Me ajuda muito a fugir do dia a dia e a me interiorizar”, diz. Cursando os últimos períodos da faculdade de Psicologia, ela tem reduzido um pouco a produção em função da jornada dupla entre o BB e o curso, mas não pretende abandonar as agulhas de crochê: “Para relaxar, dar vazão à criatividade e evitar os remédios psiquiátricos”, brinca.
O caso de Danielle não é o único entre os associados da Previ. Aposentados ou na ativa, trabalhando em agência ou fora dela, muitos mantêm atividades paralelas fora da rotina de trabalho. Por pura paixão ou como parte de uma expressão individual, essas atividades se tornam um ingrediente fundamental para a qualidade de vida e o bem-estar.
Aventura literária
Para Adriano Pereira, que trabalha na agência BB Inconfidentes, em Minas Gerais, a aventura literária precede a carreira no Banco. Essa trajetória como autor começou em 2008, dois anos antes de tomar posse no Banco do Brasil, quando entregou seu primeiro poema (“O Sentimento”) a Mauro Gouvêa, poeta e professor na faculdade em que estudava. O texto viria a integrar o primeiro livro de poesia de Adriano, “O Coração que Carrega”, lançado em 2016. “Dias depois, no final da aula, ele afirmou que eu tinha aptidão para a escrita e que eu deveria escrever mais nesse formato”, lembra.
Adriano tem uma lista respeitável de influências: Adélia Prado, Affonso Romano de Sant'Anna, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Manoel de Barros, Mário Quintana e Fernando Pessoa. “A obra desses autores apresenta questões existenciais, cotidianas, reflexivas, lúdicas e de uma qualidade inefável”, justifica. Para Adriano, a escrita tem um impacto especial na forma como vê o mundo. “Gosto quando escrevo algo: é uma forma de lazer, de reflexão ou desabafo”, explica.
Dessa produção literária, “Afago dos Dias” (2021) é seu maior orgulho até agora. “Considero que esse livro mostra uma maturidade em minha escrita e que abrange assuntos com mais intensidade e sentimento”, avalia. Com oito livros escritos (disponíveis em www.linktr.ee/adrianovox), Adriano se sente feliz e realizado enquanto espera seu novo trabalho, que deve ser editado em janeiro de 2022. “São textos que representam o lado B da minha obra.”
Da paixão à profissão
Para Luiz Carlos de Oliveira, aposentado desde 2005, o que era uma brincadeira se tornou um esporte e, mais tarde, deu origem a um negócio. Tudo começou em 1988, na Agência Imperador, em Petrópolis, Rio de Janeiro, quando Luiz Carlos propôs realizar um torneio de futebol de botão depois do expediente. “Cresci jogando com meu pai, meu avô e meu irmão”, lembra. O campeonato reacendeu a paixão pelo futebol de mesa e acabaria levando Luiz Carlos a disputar torneios oficiais pelo Clube Petropolitano. “Ajudei a montar a equipe do clube em 2001”, conta.
Na mesma época, sua antiga mesa de botão estava inutilizada pelo excesso de umidade e Luiz Carlos decidiu fabricar uma nova e usou como base uma antiga mesa de cozinha de sua avó. Ao comprar a chapa para instalar a mesa, no entanto, ele não encontrou a peça no tamanho certo. “Só havia chapas grandes demais, por isso acabamos construindo duas mesas”, conta.
Um amigo viu o trabalho e pediu para comprar a mesa de botão. As encomendas continuaram e, em 2005, Luiz Carlos abriu uma fábrica para atender os aficionados do futebol de mesa. Já recebeu encomendas de todo o país e até do exterior, mas a paixão por jogar não foi abandonada: atualmente, Luiz Carlos defende as cores do América-RJ nos campeonatos estaduais e nacionais de futebol de mesa.
“O Futebol de Mesa tem um grande benefício, que é o contato social. Conheci gente do Brasil todo, da Polônia, dos Estados Unidos, da Inglaterra”, conta Luiz. Segundo ele, além de desenvolver as habilidades motoras, o jogo ensina muito sobre o convívio e o respeito entre colegas e adversários. “É o único esporte disputado sem juiz”.
Lado lúdico da vida
Um dos colegas de Luiz Carlos nos clássicos de futebol de botão na Agência Imperador, em Petrópolis, é Márcio de Souza, atleta do futebol de mesa do Botafogo Futebol e Regatas e diretor de Administração da Previ. “Regra Paulista, 12 toques; bolinha de feltro e botões de acrílico”, diz ele, enumerando suas preferências.
Márcio lembra com carinho títulos como o Brasileiro Série Prata de 2011, ainda pelo Petropolitano, na mesma equipe de Luiz Carlos; o mesmo título em 2017, agora pela sua atual equipe, o Botafogo, e o vice-campeonato nacional no ano seguinte, também pelo clube Alvinegro. Porém, mais do que a alegria nas vitórias, o diretor destaca um lado importante do jogo.
“Brincadeira também é coisa séria quando falamos de equilíbrio emocional”, diz Márcio. Para ele, o futebol de mesa é uma forma de se reconectar com a criança que ainda vive dentro dele. “Quando crescemos, as obrigações da fase adulta nos afastam desse lado lúdico da vida e isso é importante para a nossa saúde mental.”
Afastado dos jogos durante a pandemia, Márcio tem voltado a frequentar as mesas de botão do Botafogo pouco a pouco, após a vacinação contra a Covid-19. Segundo ele, trata-se de um esporte para todas as idades. “O jogo de botão fez eu encontrar uma ‘tribo’, um círculo de amizades muito importante para mim fora do ambiente de trabalho e familiar".
Razão de viver
Samuel Arantes, funcionário do Banco do Brasil em Formiga, Minas Gerais, por sua vez, encontrou no vôlei mais do que uma atividade para relaxar, exercitar o corpo ou mesmo fazer novos amigos: encontrou uma razão de viver. Em 2006 ele foi atropelado por um automóvel. No acidente, teve a perna direita esmagada contra uma parede, o que levou a uma amputação abaixo do joelho.
“Pensei que era o fim”, diz Samuel. Um ano depois, no entanto, ele viria a encontrar o ex-medalhista olímpico Amauri Ribeiro, que o apresentaria a uma nova modalidade esportiva: o vôlei sentado. “Eu jogava vôlei antes do acidente e me interessei”, conta. Samuel acabou ingressando na equipe do Sesi Suzano e participando das Olimpíadas de Pequim, em 2008. O esporte acabava de ganhar uma dimensão diferente na vida dele.
Samuel ainda participaria da campanha do bicampeonato brasileiro nos Jogos Paralímpicos Panamericanos de 2011, em Guadalajara, no México. Mas não conseguiu ir às Olimpíadas de Londres, em 2012. “Na época, eu trabalhava em outro banco e não consegui liberação do trabalho”, conta.
O atleta, no entanto, não desistiu e continuou a participar dos campeonatos nacionais. Em 2014, Samuel tomaria posse no BB, onde trabalha desde então. Com isso, pôde voltar à seleção brasileira e defender o país no Para Pan de Lima, em 2019, e nas Paralimpíadas de Tóquio, realizadas em 2021, quando o Brasil igualou sua melhor colocação na história, um 4º lugar.
“Desde sempre, eu pulava o muro da escola para jogar vôlei. Se o acidente não tivesse acontecido, acho que jogaria como amador até hoje”, diz Samuel. A tragédia deu um novo significado ao esporte. “Foi de extrema importância na minha reabilitação, especialmente do ponto de vista psicológico, encontrar uma nova paixão e conhecer pessoas com a mesma realidade ou semelhante à minha”.
Todas essas histórias mostram que todos nós temos diferentes talentos, diferentes facetas e trilhamos os mais diversos caminhos para encontrar o que nos faz bem. Por isso, vale sempre a pena tirar um tempo para si mesmo e perguntar: o que nos faz bem?
Daniele Rocha, funcionária do BB em Muriaé, Minas Gerais.
A arte em crochê de Daniele.
Adriano Pereira, associado da ativa, trabalha na agência BB Inconfidentes, em Minas Gerais.
Um dos livros escritos por Adriano.
Luiz Carlos de Oliveira, aposentado do BB e associado da Previ, e as mesas de futebol de botão que de paixão viraram empreendimento.
Márcio de Souza, atleta do futebol de mesa do Botafogo Futebol e Regatas e diretor de Administração da Previ.