Um jogo de ganha-ganha
Para o especialista em educação financeira e funcionário do BB, Álvaro Modernell, o conhecimento nessa área é cada vez mais difundido, trazendo benefícios para as pessoas e para toda a sociedade
Funcionário do BB há mais de vinte anos, Álvaro Modernell é sócio-fundador
do site www.maisativos.com.br, especializado
em educação financeira.É consultor do Ministério da Educação e
membro do Grupo de Apoio Pedagógico (GAP)
na formulação da Estratégia Nacional de Educação
Financeira (Enef). Escreve e colabora para
edições institucionais, informativos empresariais,
portais da Internet, jornais e revistas de circulação
regional e nacional. Graduado em administração
de empresas, com mestrado em finanças. Coordenador
do site www.edufinanceira.com.br, nesta
entrevista exclusiva à Revista PREVI fala da importância da educação financeira desde a infância
e também dos benefícios que iniciativas como o
consumo consciente trazem para os indivíduos,
para toda a sociedade e o País.
Revista PREVI – A educação financeira tem sido
pauta cada vez mais frequente na mídia. Por que
o tema ganhou relevância nos últimos tempos?
Álvaro Modernell – Esse não é um fenômeno
exclusivamente brasileiro. Está acontecendo no
mundo. Para termos uma ideia, em dezembro de
2009 aconteceu no Rio de Janeiro congresso internacional
de educação financeira no qual estiveram
presentes representantes de mais de quarenta países, como Nova Zelândia, Estados Unidos, Índia,
Reino Unido e África do Sul. E todos buscavam
intercâmbio de informações para intensificar as
ações nessa área. Do Brasil, havia representantes
do governo federal, de órgãos reguladores, do
Ministério da Educação, Bovespa, secretarias
estaduais e municipais de educação, entidades
públicas e privadas, ONGs, profissionais do setor e
jornalistas. O evento foi organizado pela Comissão
de Valores Mobiliários (CVM), em conjunto com a
Organização para o Comércio e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) e fez parte das atividades de
consolidação da Estratégia Nacional de Educação
Financeira, em fase final de revisão. Não há dúvidas de que a educação financeira será pauta
ainda mais frequente na mídia nos próximos anos.
E para o bem do futuro do nosso País, estará presente também em todas as escolas públicas,
do ensino fundamental ao ensino médio. Já há decisão do MEC a esse respeito. As novas gerações
serão mais bem preparadas para lidar com suas
próprias finanças e as finanças do País.
Vários fatores vêm contribuindo para que a
educação financeira ganhe espaço. Primeiro, há a valorização de temas ligados à educação de
maneira geral. O desaparecimento do fantasma
da volta da inflação galopante e as oportunidades
para o planejamento financeiro de médio e longo
prazos também geraram oportunidades para que
o tema ganhasse importância. A consciência da
população sobre a maior longevidade e a constatação
de que os programas de previdência oficial
estavam cambaleando motivaram muita gente a
pensar no futuro com mais seriedade. Também a
estabilidade do setor financeiro, a democratização
do crédito, a melhor distribuição de renda, a
melhoria da situação econômica do País, o crescimento
da população bancarizada e a melhoria dos
instrumentos de defesa do consumidor, incluindo
legislação mais responsável, contribuíram para
que mais gente buscasse informações sobre a
gestão dos seus próprios recursos.
Revista – O senhor defende que a educação
financeira é o caminho para o desenvolvimento e
consolidação da economia do País e, inclusive, faz
parte do Grupo de Apoio Pedagógico (GAP) na
formulação da Estratégia Nacional de Educação
Financeira (Enef), coordenada pelo MEC, CVM
e Banco Central. No que consiste essa estratégia
nacional? Qual é o maior desafi o a ser enfrentado?
Modernell – Pessoas e famílias que poupem mais
e invistam com visão de longo prazo vão contribuir
efetivamente para o desenvolvimento do País. Com
mais poupança disponível e mais consumo responsável
e sustentado, as empresas investem mais.
Mais empregos são gerados. Melhor a riqueza se
distribui, além de crescer. Aumenta a arrecadação
de impostos e melhora a infraestrutura nacional. É um ciclo virtuoso e de longo prazo.
Por outro lado, preocupa-me o consumo desenfreado
e o crédito fácil sem que a população
tenha sido educada financeiramente. Há muitos
riscos nisso. Apesar do crescimento da renda da
população nos últimos anos, o endividamento das
famílias cresceu de maneira desproporcional.É uma bomba-relógio, mas que pode ser desativada
com educação financeira. O consumo deve ser
consciente e o crédito responsável.
A Estratégia Nacional de Educação Financeira
(Enef ) preocupa-se também com isso. Estão
sendo trabalhados conceitos, fundamentos e
princípios muito abrangentes. Sempre com visão de longo prazo. A ideia é levar informação ampla
e simplificada à população. Serão desenvolvidas
ações para diversos públicos, adultos e crianças,
jovens e idosos. Do interior e das grandes cidades.
População de menor renda e consumidores de
produtos bancários.
O maior desafio da Enef, a meu ver, é compatibilizar
interesses de diferentes áreas envolvidas e
produzir materiais que “falem a língua do povo”.
Querer fazer muito em pouco tempo implica assumir
riscos desnecessários. Entendo que deveriam
ser priorizados os fundamentos, o preparo dos
professores da rede pública, a formação de multiplicadores
comunitários e devem ser incentivadas
todas as iniciativas existentes, sejam na esfera
pública ou privada. Não é hora de seletividade. |