Revista – Uma das palestras oferecidas por vocês é a “Educação Financeira – Plantando para o Futuro”,
um conceito próximo da questão previdenciária.
Existe uma intersecção entre os dois temas?
Modernell – Sim, a relação é direta. Inclusive
já estamos tratando educação financeira de maneira
segmentada. A educação previdenciária e a
educação securitária são dois dos segmentos mais
representativos, que também devem ganhar mais
espaço na mídia.
Por uma questão legal, todos os fundos de previdência
são estimulados a levar educação financeira
a seus participantes. O enfoque maior, nesse
caso, é a formação de poupança de longo prazo e
a preparação para o período pós-aposentadoria.
Os dados sinalizam uma longevidade cada vez
maior da população. Há poucas décadas a expectativa
do brasileiro era de menos de 60 anos. Muitos
não chegavam sequer a se aposentar, contribuíam
por longos anos e não colhiam os frutos. Hoje a
expectativa de vida está próxima da casa dos 80. Com o avanço da medicina e da qualidade de
vida, é possível que muitos de nós passemos dos
100 anos. Nossos filhos devem ir ainda mais longe.
Aí aparece a importância da educação financeira.
E da educação previdenciária. E mais ainda da
previdência complementar. É preciso mostrar a importância
da formação de poupança e do planejamento
financeiro de longo prazo. Faz-se necessário
mostrar à população que uma parte do consumo
presente deve ser sacrificada para assegurar melhores
condições no futuro. Também faz parte da
educação previdenciária estimular os participantes
dos fundos de pensão e previdência a acompanharem
e participarem ativamente da sua entidade. Das decisões e do desempenho. Da qualidade da
gestão dos recursos depende o futuro financeiro
de todos. Sabemos que o brasileiro de modo geral
ainda poupa pouco. Pouco nos valores e pouco no
prazo. Os fundos de pensão e previdência, por sua
vez, ajudam a compensar essa fraqueza psicológica
por meio de regras e limitações de movimentação.
Além disso, com educação financeira o dinheiro
parece crescer. Rende mais. Aprende-se a
organizar melhor as contas evitando pagamento
de multas e juros. Descobre-se a importância da
pesquisa de preços e o valor da pechincha e das
negociações. Reduzem-se as compras por impulso.
Eliminam-se os desperdícios. Percebe-se o valor
da tranquilidade financeira e criam-se barreiras
ao consumo desenfreado.
Revista – O senhor defende que a educação
financeira deve ser iniciada na infância, inclusive, é autor de vários títulos dedicados a esse público.
Para tanto, diz acreditar que as crianças não podem ser isoladas do consumo, mas devem ser
preparadas para o consumo consciente. Como
se dá esse processo?
Modernell – “Educa as crianças e não precisarás
punir os homens” (essa é uma citação de Pitágoras).
O dinheiro também pensa assim. Crianças
educadas e esclarecidas financeiramente além de “custarem menos” para os pais certamente estarão
mais bem preparadas para evitar as armadilhas do
consumo e para aproveitar as oportunidades que
se apresentam.
Há muitos anos venho me dedicando à educação
financeira infantil. E antes que alguém pense que
isso não é coisa para criança, permita-me lembrar
que todos nós, ainda quando crianças, fomos
apresentados a clássicos dessa área, A Galinha
dos Ovos de Ouro e A Formiga e a Cigarra tratam
exatamente disso: educação financeira. E muitos
de nós nem haviam percebido isso. Nem mesmo
nossos pais. Em meus livros infantis não falo
sequer de matemática. São abordados princípios
como a importância do poupar, de conservar o patrimônio
(brinquedos, roupas, material escolar),
da ética no trato com o dinheiro, da importância
de saber escolher, sonhar e planejar. Apesar de o
tema ser relacionado a fi nanças, destaco que existem
coisas mais importantes do que o dinheiro,
como a família, as amizades, a ética e a natureza.
A questão do consumo consciente é fundamental.
Não dá para querer isolar as crianças do
consumo. Elas são atacadas por todos os lados.
E muitas vezes o consumo de algum produto ou
marca ajuda elas a criarem uma identidade com o
grupo. O que podemos fazer é estabelecer limites,
mostrar as armadilhas, ponderar valores, ajudá-las
nas escolhas.
A minha visão de consumo consciente é mais
ampla do que apenas pensar na responsabilidade
socioambiental. A consciência deve estar
relacionada também com a situação econômicofinanceira da família, com evitar desperdícios, com
a não banalização do ato de comprar.
Revista – Fazem parte do www.maisativos.com.br psicólogos, pedagogos, economistas, jornalistas,
consultores financeiros. Como funciona a
dinâmica do blog? Quais são as vantagens dessa
interdisciplinaridade para tratar do tema “educação
financeira”?
Modernell – A Mais Ativos Educação Financeira
funciona de uma maneira interessante, por projetos.
Percebemos que educação financeira deveria
ter muito mais ênfase na educação que em finanças.
Assim, os aspectos pedagógicos, psicológicos
e comportamentais ganharam relevância na nossa
forma de atuar. A questão da linguagem também.
Abolimos o economês e a linguagem acadêmica.
Procuramos tratar educação financeira de maneira
simples, descomplicada, lúdica muitas vezes.
E essa fórmula vem dando certo. E não apenas
para o público infantil. Com a experiência que
adquirimos escrevendo e falando para e com
crianças, percebemos que os pais passaram a se
interessar mais pelo assunto. E descobrimos o óbvio:
ninguém gosta do que não entende, daquilo
que parece complicado. Passamos a escrever e dar
palestras com linguagem mais simples, sem apresentar
contas. Focamos no comportamento, nas
atitudes. Mostramos exemplos, apresentamos dicas.
Sempre aproximando-nos da realidade de cada
público. Optamos por atingir a grande população,
em vez de aprofundar conhecimentos em temas
específi cos. Há outras pessoas fazendo isso e é salutar
que o trabalho seja complementar. A educação
financeira chegou para ficar. Temos orgulho de
ajudar a semear algo que poderá auxiliar milhares
de pessoas e famílias por toda a vida. E por que não
dizer também o próprio País. É o tipo de estratégia
ganha-ganha. Ganham os indivíduos, as famílias, a
sociedade e a nação. |