O exército da boa governança
No calendário de empresas, existe uma
data importante, quando se realiza a
Assembleia Geral Ordinária (AGO),
tradicionalmente entre os meses de
março e abril. Além de tratar de assuntos
como aprovação do balanço e de algumas
verbas, tais como remuneração dos administradores,
a AGO também é palco de um fato determinante
para a gestão da empresa: a eleição dos
membros do Conselho de Administração e Fiscal.
São os Conselheiros de Administração que aprovam
todas as diretrizes estratégicas da empresa:
orçamento, maiores investimentos, políticas gerais
de risco, aumento de capital e captação de novos
recursos, contratação dos diretores estatutários,
fusões e aquisições etc. O Conselho Fiscal, por sua
vez, funciona como o principal órgão de controle
da empresa, revisando balancetes mensais, políticas
de aprovisionamento, execução orçamentária,
demonstrações contábeis etc. Esses dois órgãos juntos dão suporte e orientação
aos executivos e, por outro lado,
cobram resultados e conferem
se os planos foram executados
conforme o combinado.
Quem elege os Conselheiros são
os acionistas da empresa, segundo
regras gerais estabelecidas na Lei
das S/A, ou regras específicas
fixadas no Estatuto da empresa,
ou ainda em acordos de acionistas.
Nas palavras de um dos mais
importantes pensadores sobre
governança corporativa no Brasil,
Bengt Hallqvist, o Conselho de
Administração funciona como a
representação dos “donos”. Enquanto os executivos
são contratados para efetivar um plano e administrar
a empresa, recebendo uma remuneração por
esse trabalho, os acionistas “financiam” a empresa,
investindo seus recursos por intermédio da compra
de ações para que a empresa possa funcionar. São os
acionistas, portanto, que correm o risco econômico,
pois a valorização ou desvalorização das ações vai
determinar o retorno do investimento, ou, na pior
hipótese, até a perda dos recursos.
PREVI elege conselheiros para proteger investimentos dos Planos
Quando os acionistas abrem mão de exercer
o seu papel na gestão da empresa, é como se os
donos de uma loja ou de uma casa estivessem
ausentes. Os riscos de que ocorram desvios de
rumo na empresa são grandes. Os estudiosos da
governança corporativa cunharam um termo para
tratar do potencial desalinhamento entre os interesses dos acionistas e os interesses dos executivos
e empregados. Essa situação passou a ser chamada
de “conflito de agência”, por envolver diferentes
agentes cujos ganhos são auferidos a partir do
resultado da empresa, mas de formas diferentes.
Enquanto o acionista ganha apenas com a valorização
das ações e pagamento de dividendos,
executivos e empregados ganham remuneração
mensal e benefícios (às vezes no curto prazo), e a
agenda de cada parte pode ser divergente.
A boa governança procura alinhar os interesses
de todas as partes, conjugando a perspectiva de
perpetuação da empresa (que interessa a todos)
com a valorização constante de suas ações e a distribuição
periódica de benefícios, tanto na forma
de dividendos quanto na de salários e remunerações.
Para que esse sistema funcione bem, o acionista
precisa se envolver, estar presente, entender
os principais fundamentos da gestão empresarial
e do ramo de negócio, e tudo isso é feito por meio
dos conselheiros.
A PREVI, na medida em que tem um grande
volume de recursos aplicados em diversas empresas,
não abre mão do seu papel de acionista, e procura
participar tanto nas Assembleias quanto na eleição
dos conselheiros. A seleção e eleição de conselheiros
que a PREVI faz para participar das empresas têm
foco na valorização dos investimentos. A missão
do conselheiro não é honorária nem figurativa: é
cobrado que os conselheiros se envolvam, estudem
a empresa, analisem as pautas de reunião, vejam o
que está acontecendo no mercado, atualizem-se
em relação a normas e procedimentos legais que
as empresas devem observar (tais como normas
contábeis, divulgação de resultados, políticas de
transação de ações etc.). É necessário que o conselheiro
contribua com a empresa, controle os riscos
que podem afetar o negócio, avalie o desempenho
da companhia e dos seus executivos e some com
os demais conselheiros para exercer o seu papel.
O desempenho do bom conselheiro está longe
daquela imagem de uma pessoa que só tem uma
reunião mensal para participar. Hoje em dia existem
comitês (de auditoria, de desenvolvimento
humano, de fi nanças etc.) com a participação
dos conselheiros. Existem eventos importantes
de apresentação de investimentos, planos e resultados.
Há também os fóruns de governança corporativa, em que são discutidas práticas gerais
de gestão. Existem ainda os fóruns específicos da área de atuação da empresa que ajudam a entender
o mercado em que ela atua e seus desafios.
E existem também riscos. O conselheiro é um
administrador da empresa e responde por todos os
seus atos. Caso a empresa cometa irregularidades,
a atuação dos conselheiros também será analisada.
A responsabilidade pode ocorrer por omissão ou
aprovação de medida inadequada. Portanto, qualquer
imagem de que o conselheiro é um cidadão
que pode relaxar e se acomodar não corresponde à dinâmica do mercado de capitais de hoje.
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