Mais atendimento pela internet
Professora da USP afirma que
relacionamentos migrarão cada vez mais,
ganhando também confiabilidade
A professora Elizabeth
Saad Corrêa é coordenadora
do Núcleo de
Jornalismo, Mercado
e Tecnologia da Escola
de Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo, USP. Nesta
entrevista exclusiva, fala da utilização
da internet junto com canais
tradicionais de atendimento, além
da possibilidade de novas formas de
comunicação, com maior interatividade
para todos os públicos.
Revista PREVI – Ocorre cada vez
mais a mudança dos canais tradicionais
de atendimento, como carta e
telefone, para a internet. O que isso
muda no relacionamento com clientes,
no caso das empresas, e com os
associados, no caso da PREVI?
Elizabeth Saad Corrêa – Existe um
ponto positivo que é o ganho em agilidade,
porque o mundo digital exige
essa coisa mais acelerada. Por outro
lado, dependendo da forma como se
propõe esse atendimento, corre-se o
risco de perder em relacionamento,
em proximidade, contato com quem
está do outro lado. Embora os sistemas
hoje permitam uma personalização
e um relacionamento mais direto
e individualizado. Isso é possível e
muitos já fazem.
Revista – Existem públicos mais
refratários ao uso desses canais
eletrônicos?
Elizabeth – Sim, e é similar à resistência
que muitos têm ainda em
relação ao uso da internet. Se for pensar
em termos de banco, mesmo nas
agências em que o atendimento é on-line
nos terminais, há a necessidade
de pôr alguém ajudando. Um pouco
por característica de nossa sociedade, porque existe uma questão socioeconômica
e também de idade, o que
acaba dificultando a aproximação
com o meio digital. O público mais
jovem e que já usa a internet para outros
fins não tem nenhum problema. É uma forma de ganhar tempo, não
precisar se deslocar etc.
Revista – O atendimento eletrônico
tem aumentado?
Elizabeth – Os terminais das agências
bancárias estão exercendo uma
função educativa, de as pessoas
ao usarem perceberem que é mais
rápido, mais fácil. Outro fator importante
é a ampliação do acesso à
internet para a classe C e parte da D,
que estão comprando computadores.
Muitas empresas também permitem
que as pessoas fiquem on-line. Isso
tudo está favorecendo o atendimento
eletrônico.
Revista – É possível falar em convivência
da internet com os meios tradicionais,
como telefone e cartas?
Elizabeth – Acho que sim. Hoje
dá para direcionar o que é feito pela
internet e e-mail, que, às vezes, é mais
rápido que o telefone. Creio que a
carta é a ponta final, hoje tende-se a
reduzir cada vez mais a correspondência
em papel. Os relacionamentos
de qualidade migrarão cada vez mais
para a internet, ganhando também
confiabilidade.
Revista – Existe ainda muito receio
em usar canais de internet. A segurança
está evoluindo?
Elizabeth – Sou uma usuária contumaz,
então efetivamente acredito
nos sistemas de segurança. Embora
ache que seja uma relação de reciprocidade.
Não adianta quem está
lá, exercendo a transação do outro
lado, ter todos os sistemas de segurança
se você não tem segurança na
sua máquina. Acho que ainda falta
seguir algumas regras, e as empresas têm de atuar para informar sobre essa
necessidade.
Por exemplo, as pessoas instalam
programas antivírus e acham que
o problema está resolvido, mas se
esquecem de atualizar. Acabam sendo
pegas na curva porque vírus são
criados de um dia para o outro. É
necessário sempre atualizar ou instalar
um sistema que tenha atualização
automática.
Há um outro fator de segurança
que não tem a ver com hardware ou
software, mas sim com a inocência do
usuário, como uma série de e-mails
falsos em que as pessoas clicam por
curiosidade ou inocência, como
aqueles em que vêm escrito, “você
acabou de ser premiado” etc. Coisas
evidentemente fora do padrão, mas
muita gente ainda cai.
Revista – O que tem mudado na
forma de acesso à informação em
relação às mídias tradicionais?
Elizabeth – No Brasil, as mudanças
ainda acontecem de maneira lenta.
Mas a idéia de uma informação com
o uso da multimídia dá uma amplitude
no conteúdo que não é possível
pelos meios tradicionais. Se falarmos
dos nossos veículos tradicionais, a
ida deles para a internet ainda não
ocorre com todas as possibilidades de
multimídia e de hipermídia. Estamos
num ritmo bastante lento em comparação
com outros países. Quase
sempre acabam transpondo o veículo
impresso para a internet. E há pelo
menos três avanços que seriam muito bons para quem produz conteúdo e
para quem lê.
O primeiro é criar o costume do
clique, complementar o conteúdo e
não fazer o copia e cola do jornal.
Com possibilidades de explicação,
complementação das matérias. O
segundo é a questão da participação do usuário, seja na oferta de
informações, seja no comentário,
seja na avaliação e divulgação para
outros canais e instrumentos que
não são os das informações tradicionais.
Como o uso de blogues,
espaço para comunidades temáticas,
relacionamento mais próximo com
o produtor de conteúdo. A terceira,
talvez uma conseqüência dessa
maior participação, é trabalhar mais
com informação visual. Gráficos
animados, mapas em que você clica
e aparecem diversos conteúdos...
O usuário se sente muito atraído
quando o convite a visitar determinado
conteúdo vai para uma linha
mais visual e lúdica.
Revista – Na PREVI há muitos usuários
com mais idade, alguns começando a
mexer com computador, há experiências
de incentivo a este usuário?
Elizabeth – Nos Estados Unidos,
existem programas de incentivo à
utilização de computador pela “terceira
idade” (embora não goste desse
termo), há a criação de clubes de uso
da internet, da mesma maneira que
se faz aqui para sensibilizar jovens de
classes menos favorecidas. Aqui isso
não existe.
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