Como surgiram as expressões “colocar no prego”, “riso amarelo” e “fazer boca-de-siri”? Qual a origem das palavras sanduíche, maratona, gandula e larápio, por exemplo? Movido pelo interesse em conhecer a procedência de palavras e termos populares, o carioca Márcio Cotrim, 68 anos, dos quais 28 dedicados ao Banco do Brasil, tornou-se pesquisador do assunto.
Em 2003, começou sua busca em dicionários e livros de etimologia e não tem planos para encerrá-la tão cedo.
“Enquanto houver palavras não vou parar”, avisa.
Desde que iniciou sua pesquisa, o escritor assina aos domingos “O berço da palavra”, coluna no jornal Correio Braziliense, hoje reproduzida em 12 periódicos e na revista mensal Língua Portuguesa, lançada em 2005.
O autor geralmente abre a coluna com uma expressão do cotidiano, explica a origem de duas ou três palavras e sacia a curiosidade de leitores, verdadeiros colaboradores, na opinião de Cotrim. Essa interatividade com o público permite que o escritor perceba a aceitação de seu trabalho.
“Toda segunda-feira, quando chego ao jornal e abro meu e-mail, recebo várias mensagens com sugestões e perguntas dos leitores”, diz entusiasmado.
Para Cotrim, que vive em Brasília (DF) desde 1972, quando assumiu o cargo de assessor de marketing da presidência do Banco do Brasil, essa curiosidade pela origem dos vocábulos tem uma razão fundamental: “Quem escreve lida com as palavras. Por escrever há tanto tempo, comecei a me interessar pela origem delas. Mas não sou um filólogo, sou um curioso”, avalia.
Durante esses anos de pesquisa para abastecer sua coluna dominical, Cotrim acumulou explicações e curiosidades a respeito de uma infinidade de termos.
E não foi só isso. O escritor encontrou outra forma de registrar suas descobertas. Em 2005, publicou O Pulo do Gato (Geração Editorial). “O livro nasceu da minha convicção de que ‘viver é ter curiosidade’, como sabiamente afirmou Burle Marx. As explicações não têm a formalidade nem o ranço da coisa didática. Elas são bem leves. Pretendo ao mesmo tempo ensinar, instruir e divertir o leitor”, afirma.
Em O pulo do gato, Cotrim explica a origem de 270 palavras e expressões populares. “Algumas são especialmente interessantes, como elefante branco, cavanhaque, biquíni, as cores do Boca Junior, bocó, cor de burro quando foge, ficar a ver navios, hipopótamo, Onofre e tantas outras igualmente curiosas. Companheiro, por exemplo, vem do latim cumpanis, que quer dizer aquele com quem se divide o pão”.
A fonte de pesquisa de Cotrim, segundo ele próprio, “é infinita”. “Essa é uma vertente inesgotável. Na coluna e no livro, conto ainda a origem de marcas de produtos, nomes de países, cidades e pessoas, por exemplo. E esse é um tema que não cessa”, afirma. Tanto o assunto parece não ter fim que, em agosto de 2007, o escritor lançou O Pulo do Gato 2 (Geração Editorial). “Essa é uma extensão do primeiro e a ela se seguirá O Pulo do Gato 3, que lançarei em 2008. Depois dele, virão os volumes quatro, cinco e assim por diante. Não vou parar, pois dá para escrever vários livros sobre etimologia e origem das expressões. Enquanto houver palavras, vou continuar a escrever O pulo do gato”, afirma.
Vida dedicada à imprensa
A experiência de Cotrim como escritor relaciona-se com sua história como cronista na imprensa de Brasília. “Em 1983, passei a colaborar com crônicas no semanário brasiliense José – Jornal da Semana Inteira, na coluna ‘Amor a Brasília’. O jornal fechou nesse mesmo ano e fiquei como colaborador do Correio Braziliense, numa sessão de crônicas com o meu nome, publicada aos sábados ininterruptamente no caderno de cultura, até hoje”, informa.
Para o escritor, que de 1990 a 1992 exerceu o cargo de secretário de Cultura e Esporte do Governo do Distrito Federal, a crônica é uma forma de “flagrante da vida”.
Nesse ato de contemplar a realidade e transmiti-la ao leitor, tudo pode se tornar inspiração: “Brasília, o Brasil, o mundo e assuntos variados”.
O dia-a-dia de Cotrim, formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, é repleto de trabalho. “Em 1992, assumi a direção de marketing do jornal, cargo no qual fiquei até 1996, quando passei a diretor executivo da Fundação Assis Chateaubriand, um órgão corporativo do grupo Associados de Comunicação, do qual faz parte o Correio Braziliense. Na Fundação, a proposta é perpetuar o legado de informação e cultura de Assis Chateaubriand, por isso a rotina de trabalho é muito intensa. Além disso, também me dedico constantemente à produção das minhas colunas”, conclui.
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