Brasileiro com coração chinês |
|
Carlos Tavares de Oliveira é aposentado pelo BB e especialista em comércio exterior. Mais precisamente, em portos e economia da gigante China
Consultor em comércio exterior, especialista em portos, articulista econômico e membro da Academia de Letras do Banco do Brasil. Aos 82 anos, Carlos Tavares de Oliveira, aposentado pelo Banco, segue trabalhando ativamente no Rio de Janeiro na área em que se tornou uma das principais referências no país. |
Autor de 14 livros, lançou a quarta edição de seu Modernização de Portos (Edições Aduaneiras) em novembro de 2006, 12 anosdepois da primeira publicação. Além do interesse pelos portos, especializou-se também na história e nas relações comerciais daChina com o resto do mundo, a ponto de ter seus artigos traduzidos para o mandarim para publicação em jornais de Pequim. Ainda percorreu diversos países em viagens de delegações brasileiras para se tornar uma referência nas relações externas.
|
|
Carlos Tavares lançou a
quarta edição de seu livro,
Modernização dos Portos
(destaque). |
|
|
A relação com o comércio exterior, que o levou a tantas atividades, começou dentro do Banco, logo que Tavares prestou concurso em janeiro de 1943. Aos 18 anos, em plena Segunda Guerra Mundial, foi alocado na Carteira de Exportação e Importação (Cexim). Como todas as transações brasileiras ocorriam por meio do departamento do BB, era o melhor lugar para se aprender a respeito de comércio internacional. Como a maior parte das transações ocorria com os Estados Unidos, responsáveis pela segurança do Atlântico Sul e um dos poucos destinos seguros para navios durante o conflito, a maior parte dos chefes da seção era formada por norte-americanos radicados no País.
Terminada a guerra, o comando do setor passou a ser definido por indicação política. O problema é que começaram a surgir fraudes cambiais, que resultaram na extinção da Cexim. Tavares havia integrado a comissão apuradora das irregularidades e, por isso, participou da organização do substituto, a Carteira do Comércio Exterior (Cacex), em 1953. Dez anos de dedicação lhe conduziram à subchefia da Seção de Importação do Órgão. O trabalho no combate ao superfaturamento cambial em compras de medicamentos estrangeiros lhe rendeu a secretaria-executiva do Grupo Executivo para Indústria Farmacêutica (Geifar), no qual representava o Banco. A posse ocorreu no Palácio do Planalto, com o presidente João Goulart.
A aplicação, porém, produziu inimigos. Depois do Golpe Militar, em 31 de março de 1964, foi acusado de esquerdista, segundo ele, por um advogado de uma indústria multinacional. Afastado das funções depois de 21 anos dedicados ao comércio exterior e ocupando o posto de conferente de seção, Tavares foi transferido para o arquivo da Agência de São Paulo. Seis meses depois, “retornei ao Rio, mas para funções bancárias na Agência Centro, longe, portanto, da querida Cacex e da apuração de superfaturamento e fraudes cambiais”, lamenta. Ao órgão de comércio exterior retornou em 1969, como subchefe de seção. Três anos depois, ocupou a chefia, cargo no qual se aposentou em 1972.
Paixão por escrever
A experiência nas relações externas abriria portas após a aposentadoria. Em julho de 1966, foi secretário da primeira missão comercial ao Oriente Médio, para tentar ampliar o mercado árabe aos produtos brasileiros. Era o início de outra fase da vida de Carlos Tavares: a produção de livros a respeito de comércio exterior. Na viagem, ele foi cedido pelo Banco para a Associação Nacional de Exportadores de Produtos Industriais (Anepi) e para a Confederação Nacional do Comércio (CNC), para quem presta assessoria até hoje.
Se a escrita começou vinculada ao comércio exterior, o jornalismo entrou na vida de Tavares a partir do mesmo tema. Em 1969, passou a colaborar com o suplemento econômico do jornal O Globo. Mais que escrever na coluna “Comércio Internacional”, também ajudava jornalistas estrangeiros a obter informações, o que lhe rendeu o título de Sócio Honorário Número 1 da Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira (Acie).
E o jornalismo o levou a outra de suas paixões. Depois de uma temporada de três anos em Paris como representante da CNC no Comitê Brasileiro na Câmara de Comércio Internacional (CCI), tornou-se colaborador semanal do diário carioca. Escreveu para Gazeta Mercantil, para a revista Comércio & Mercados, entre outras.
Nesses espaços, passou a dedicar mais e mais colunas a discutir a situação dos portos no país e a tentar compreender os mistérios da economia chinesa. Até hoje, a estrutura portuária é apontada como um dos grandes desafios para o crescimento das exportações e da economia no Brasil. Afinal, é a porta de entrada e saída da maior parte do comércio exterior.
Quanto à China, em 1971, três anos antes de o país reatar as relações comerciais com o Brasil, Tavares escreveu o primeiro de seus mais de 300 artigos sobre o gigante asiático, hoje o mais populoso e cuja economia é a que mais cresce no planeta. Em 1993, lançou o primeiro de seus cinco livros a respeito: China, Superpotência do século XXI. Alguns de seus textos chegaram a ser traduzidos para o mandarim. O tratamento dispensado pelos chineses parece valer como uma condecoração. “Achei simpático quando, em uma das publicações, fui identificado como ‘o brasileiro com coração chinês’ ”, orgulha-se.
Depois de ter livros prefaciados por ministros de Estado, como Rubens Ricúpero (da Fazenda, em 1994) e Luiz Fernando Furlan (do Desenvolvimento e Comércio, em 2004), e até pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (em 1995), foi indicado para ocupar uma das cadeiras da Academia de Letras do Banco do Brasil. A posse ocorreu em julho de 2006, resultado de 64 anos dedicados ao comércio exterior, 30 dos quais como funcionário do Banco. |