|nº 117| Agosto 06

Nesta Edição » Entrevista - Ana Amélia Camarano
Uma postura diferente em relação ao idoso
Ana Amélia
Camarano, professora
do Ipea
Para Ana Amélia Camarano, professora e pesquisadora do Ipea, a maior longevidade da população trará desafios como a ampliação dos gastos com previdência e busca de novas alternativas de trabalho

Coordenadora do grupo técnico de População e Cidadania do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), representante do Ministério do Planejamento no Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos, professora do curso de mestrado em Estudos Populacionais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas e do Curso de Gerontologia Social da Universidade Cândido Mendes e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Ana Amélia Camarano é uma autoridade no estudo de questões populacionais.
É a organizadora do livro Os Novos Idosos Brasileiros: Muito Além dos 60?, trabalho que reuniu a colaboração de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. Os textos procuram analisar as diversas faces do fenômeno do aumento da expectativa de vida do brasileiro. Por ser um tema da maior relevância para um fundo de pensão, a Revista PREVI foi ouvi-la.
Revista PREVI – Que mudanças ocorreram no País que levaram ao aumento da expectativa de vida?

Ana Amélia Camarano – A fecundidade elevada no passado, aliada à redução da mortalidade em todas as idades, proporcionou crescimento acentuado do grupo populacional de 60 anos e mais. Além disso, as pessoas hoje comem mais, têm acesso a energia elétrica. Enfim, uma conjunção de fatores tem feito com que as pessoas vivam mais.

Revista – Quais são os fatores que contribuem para a maior longevidade? Renda, escolaridade, saúde?

Ana Amélia – Existe uma relação direta entre nível de escolaridade e expectativa de vida. Isso porque há também uma relação direta entre escolaridade e renda. As pessoas de maior nível de renda, por terem alimentação melhor, mais acesso à saúde, acabam vivendo mais.

Revista – Que impactos esse fenômeno traz para a sociedade ?

Ana Amélia – Os impactos na Previdência já são amplamente conhecidos. Agora, temos verificado também o impacto nos segmentos de lazer, cultura, turismo. Temos visto também novidades no mercado de trabalho, com o surgimento de vagas para idosos. Mudanças nos ambientes, com a construção de rampas, corrimão, piso antiderrapante. Até mesmo no Direito, pois os processos têm que correr mais rápido.

Revista – E no núcleo familiar? O status do idoso mudou?

Ana Amélia – Sim, as relações familiares mudaram. O fato de ter renda faz com que o idoso tenha mais status na família.

Revista – Os idosos hoje estão vivendo melhor?

Ana Amélia – Podemos dizer que sim. Os idosos hoje têm mais renda, temos uma sociedade com uma postura diferente, menos preconceituosa com relação ao idoso.

Revista – Os dois participantes mais idosos da PREVI têm 102 anos de idade e cerca de 900 já passaram dos 85 anos. Com o passar do tempo, a longevidade será cada vez mais comum e deixará de estar restrita a nichos como o Banco do Brasil?


Ana Amélia – O aumento da expectativa de vida é uma tendência. Agora, como disse anteriormente, a expectativa de vida está diretamente relacionada a questões como nível de escolaridade e renda. Os segmentos que têm mais renda, mais escolaridade, como é o caso dos funcionários do Banco do Brasil, tendem a viver mais.

Revista – Qual é a importância da previdência complementar nesse novo contexto?

Ana Amélia – Para quem tem direito e pode pagar é ótimo ter um fundo de pensão. É ótimo ter uma previdência complementar, mas hoje só uma pequena elite tem acesso.


Revista – A PREVI trabalha com uma expectativa de vida de 89 anos para mulheres e 84 para homens. Como a senhora vê esses números em comparação à população brasileira?


Ana Amélia – Esses números dos funcionários do Banco do Brasil são superiores aos da população brasileira. A explicação para isso está no fato de os funcionários do BB terem um padrão educacional e econômico superior ao da população brasileira.

Revista – De que maneira a questão do envelhecimento se constitui num desafio para toda a sociedade?

Ana Amélia – É um desafio porque muda a distribuição da idade na sociedade e, por conseqüência, muda a distribuição da renda. Vão ter que ser ampliados os gastos com previdência e saúde para o idoso. E esses recursos vão ter que sair de outras áreas. É uma disputa em que alguém vai ter que ceder.