Edição 168 Dezembro/2012

Bem-estar

Ano novo, hábitos novos?!

Como ter força de vontade para mudar hábitos e tornar o próximo ano de fato diferente

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Cinco, quatro, três, dois, um... Feliz Ano Novo!!! Com a chegada de 2013, são 365 dias novinhos em folha para colocar em prática tudo aquilo que se desejou ou prometeu no ano anterior e não foi cumprido. É comum, nessa virada de ano, propormos a nós mesmos trocar hábitos negativos por positivos. Entre os campões da lista estão: parar de fumar, começar a fazer exercícios, emagrecer, fazer um novo curso, procurar um novo emprego.

Mas mudar hábitos não é simples, e ter força de vontade é uma das principais virtudes para fazer as coisas acontecerem. Pesquisas mostram que não é verdadeira a máxima de que mudamos pouco ao longo da vida. É possível, sim, deixar para trás comportamentos que nos incomodam – como assistir à TV até de madrugada, comer muito, manter-se sedentário ou tomar café demais. Nesta reportagem, especialistas explicam como potencializar essa força para tornar nossos desejos realidade e o ano novo de fato diferente.

Temos a tendência de fazer muitas coisas sem refletir sobre elas. Escovar os dentes, dirigir e tomar banho são exemplos. Como se ligássemos o ‘piloto automático’. Estes são hábitos bons, saudáveis. No entanto, quando assumimos ações repetidas que podem gerar mal-estar, fazer mal ao corpo, ou não nos permitem evoluir, aí, sim, precisamos mudar. Porém, perceber e alterar algo rotineiro é um grande desafio. “Para mudar um hábito, temos de assumir a direção, ter consciência desse comportamento repetitivo, o que exige esforço. Além disso, nem sempre somos capazes de visualizar os benefícios que uma mudança promete, porque às vezes nem enxergamos que um hábito gera desconforto ou nos faz mal. O que é novo pode também nos trazer insegurança e gerar desistência”, revela Billy Nascimento, biomédico, doutor em Neurofisiologia pelo Instituto de Biofísica da UFRJ, fundador e CEO da Forebrain Neurotecnologia.

bem estar - billy nascimento.jpgNossos hábitos são padrões de comportamento registrados pelo cérebro, e a busca para alterá-los pode demandar um grande empenho. O cérebro tende a se esforçar para aprender coisas novas e não para mudar o que já conhece. Billy afirma que os seres humanos tendem a ter comportamentos adaptativos, de forma a garantir uma melhor sobrevivência para si mesmos. Por isso, têm a capacidade de entender que ações feitas hoje influenciam diretamente o futuro. “Alterar um mau hábito, hoje, pode significar ter uma vida mais saudável em todos os aspectos, lá na frente”, revela o biomédico.

bem estar - julia amaral foto cortada.jpgPara a psicóloga Julia Andrade, especializada em Psicoterapias Corporal e Junguiana pela PUC-Rio, qualquer troca de hábito marca uma nova fase de vida. “Um fenômeno coletivo próprio da virada de ano são as práticas que ritualizam uma ligação com o divino: acender velas e jogar flores no mar, para quem pertence ou não a uma religião específica, são gestos que expressam a busca de uma força maior que dê apoio aos anseios de mudança. Por isso, é muito comum as pessoas se comprometerem com essas intenções nos festejos de fim do ano. Pode-se convencionar esse dia ou outro dia qualquer como o início de uma nova etapa, mas ela só irá se consolidar nas ações do dia a dia. Pensar que uma alteração é para sempre pode ser penoso em alguns casos. Vale seguir o exemplo de quem conhece bem as dificuldades desse tema – como os Alcoólicos Anônimos – e refazer diariamente o compromisso, lembrando o que motivou a mudança de hábito”, explica a psicóloga.

bem estar - janaina ferreira alves.jpgJanaína Ferreira Alves, professora de Gestão de Pessoas e Liderança do Ibmec, sustenta que é importante ter vontade própria, mas apoio e estímulo externos podem ser úteis para promover as mudanças que se desejam. “A força de vontade para fazer qualquer coisa, inclusive alterar hábitos, vem de dentro, sempre. Podemos até encontrar um apoio, mas essa força vem do querer, e o querer vem de dentro de nós. Quando nos damos conta do que queremos, fazemos as mudanças acontecerem mas, quando isso não ocorre, procuramos ajuda”. Janaína acrescenta que a força de vontade é individual e, para que as coisas deem certo, não se deve transferir a responsabilidade para o outro. “Quando as situações ficam difíceis, temos a tendência de colocar a responsabilidade em outra pessoa. Muita gente diz: ‘poxa, se fulano me ajudasse a cuidar das crianças, eu teria tempo para fazer ginástica’. Mas não é assim que funciona. A responsabilidade de arrumar tempo é sua. Você tem de negociar consigo mesmo para arrumar esse tempo. Pode ser mais fácil jogar a responsabilidade para o outro porque gera um desconforto muito grande perceber que não estamos fazendo o movimento de mudança que deveríamos. Fica um conflito interno entre o querer e o não fazer”, observa.

Força de vontade é essencial

Para mudar hábitos é preciso ter, além de força de vontade, pensamento positivo. Segundo pesquisadores americanos, alterações de comportamento motivadas unicamente por aspectos negativos – como culpa, medo ou arrependimento – não são efetivas. A mudança de longa duração é mais provável quando enraizada no pensamento positivo. O ideal é trocar o conceito de felicidade, que remete aos prazeres momentâneos, pela ideia de bem-estar. É preciso, no entanto, ficar atento, pois qualquer exagero pode fazer aflorar um lado negativo da força de vontade, e o pretenso bem-estar pode virar um tormento. Pessoas com pouca flexibilidade podem transformar autocontrole e disciplina em neurose e obsessão, como os que malham compulsivamente, os que cortam radicalmente doces e bebidas e os que se limitam a economizar dinheiro.

“Não adianta ter apenas a intenção de mudar, sem querer fazer nada, esperando um milagre. É preciso querer, convencer-se da importância disso para sua vida e da necessidade de agir. Toda mudança pressupõe trabalho e é preciso estar pronto para agir e lutar para que ela ocorra. Com o acompanhamento profissional, esse processo pode se tornar mais prazeroso e menos sofrido: a pessoa muda superando cada uma de suas dificuldades”, explica Julia.

Se todos sabem que alterar hábitos não é fácil, o que poucos entendem é de onde vem essa dificuldade. “É difícil mudá-los justamente porque são hábitos, estão incorporados ao dia a dia de uma pessoa, que os pratica automaticamente, sem pensar e sem se dar conta, como algo mecânico”, explica Billy. Mas ele alerta: “mesmo que os hábitos sejam prejudiciais, quando alguém persiste neles é sinal de que obtém algum ganho em mantê-los”.

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A professora Janaína Ferreira fala sobre mudar velhos hábitos

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