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Esforço dobrado
Com juros baixos, será preciso suar mais a camisa para atingir as metas e garantir recursos suficientes para o pagamento de benefícios no longo prazo.
As Políticas de Investimentos 2013-2019 da PREVI foram aprovadas no final de novembro pelo Conselho Deliberativo da Entidade. Coordenadas pela Diretoria de Planejamento, elas são elaboradas anualmente, sempre com um horizonte de seis anos. É esse conjunto de parâmetros que orienta a PREVI na gestão dos recursos dos participantes.
Em julho de 2011, a taxa de juros Selic, que serve de balizador aos investimentos no País e é definida pelo Comitê de Política Monetária, iniciou uma trajetória de redução. Naquela ocasião, o índice era de 12,5% e atualmente é de 7,25%. O cenário aponta para um período prolongado de juros baixos. “Com os juros altos, ficávamos em uma posição confortável só com a rentabilidade dos recursos aplicados em títulos públicos de renda fixa. O esforço de gestão era para melhorar ainda mais a rentabilidade”, explica Vitor Paulo Camargo Gonçalves, diretor de Planejamento da PREVI. “Agora, teremos que dobrar esforços para atingir as metas atuariais e conseguir os recursos necessários ao pagamento dos benefícios que queremos conceder no futuro.”
O Plano 1 tem como meta atuarial uma rentabilidade de INPC + 5%. O PREVI Futuro teve recentemente seu índice de referência reduzido de INPC + 5,5% ao ano para 5%, igual ao do Plano 1. O que isso significa na prática? Que estimamos que nossos investimentos podem obter essa rentabilidade e que ela é compatível com nossas reservas para assegurar o pagamento dos benefícios de forma perene. Com os juros baixos, os investimentos tendem a render menos e fica mais difícil atingir as metas. E as metas têm que ser realistas. Elas têm que refletir o que é possível obter de rentabilidade com os investimentos, para garantir o equilíbrio dos planos.
“As Políticas de Investimentos procuram reagir a essa mudança de paradigma em relação aos juros”, continua Vitor Paulo. Isso significa que os gestores terão uma postura cada vez mais ativa na hora de buscar rentabilidade para os investimentos da PREVI. “O ajuste fino da gestão será mais exigido do que nunca. Vamos precisar de muita agilidade na tomada de decisões”, diz o diretor.
Foco na liquidez
Outro ajuste importante na Política de Investimentos é a busca por liquidez. Ou seja, por ativos que possam ser negociados facilmente e convertidos em dinheiro em caixa. E por que a PREVI precisa de dinheiro em caixa agora? Porque o Plano 1 é um plano maduro, com muito mais aposentados recebendo benefícios do que funcionários na ativa ainda sem recebê-los. E esse número só crescerá nos próximos anos. Em breve, aproximadamente quinze anos, todos os participantes do Plano 1 deverão estar aposentados e recebendo seus benefícios. Portanto, é necessário ter dinheiro em caixa para cumprir esses compromissos.
Um olhar isolado sobre o patrimônio de aproximadamente R$ 150 bilhões da PREVI pode dar a impressão de que a Entidade tem dinheiro sobrando. Esta é uma visão distorcida, que não traduz de forma fidedigna a realidade. A PREVI não é grande, nem pequena, ela é do tamanho dos seus compromissos. Todos os recursos do Plano 1 serão utilizados durante as décadas seguintes com o pagamento de benefícios. E esses recursos serão consumidos mais velozmente nos próximos anos, com o natural e esperado aumento do número de aposentados. “O ano de 2022 deverá ser o ápice do pagamento de benefícios para o Plano 1. Será quando teremos o maior volume de desembolsos a um maior número de pessoas”, lembra Vitor Paulo.
A busca por liquidez também vale para as participações em blocos de controle de empresas. A tendência, explica o diretor, é reduzir gradualmente esse tipo de participação, buscando outras estruturas acionárias, em que o controle é pulverizado, ou seja, a maior parte das ações é negociada em Bolsa e nenhum dos acionistas possui papéis suficientes para controlar a empresa. Deste modo, as ações ganham liquidez e passam a ser negociadas muito mais facilmente na Bolsa, permitindo melhor aproveitamento das oportunidades. “Isso eleva o valor de mercado da companhia”, diz Vitor Paulo.
A nova Política de Investimentos continua trilhando o caminho da diversificação. Assim, busca diminuir o risco dos investimentos e aumentar a rentabilidade. Essa diversificação abrange não apenas as classes de ativos (renda fixa, variável, fundos, imóveis etc.), mas também diferentes segmentos do mercado e regiões geográficas. “Procuramos carteiras variadas por setores, em que os eventuais efeitos negativos de determinada área da economia sejam contrabalançados pelo crescimento de outros”, explica Vitor Paulo. “Também vamos sair cada vez mais em busca de oportunidades em outras regiões do país, fora do eixo Sul-Sudeste.”
Transpondo fronteiras
A diversificação geográfica também traz uma novidade. Pela primeira vez, a PREVI vai investir no exterior. Serão quase R$ 500 milhões entre recursos do Plano 1 e do PREVI Futuro, que serão alocados em fundos em que a Entidade terá uma participação máxima de 25%. A estratégia segue a mesma lógica dos investimentos no Brasil, buscando equilibrar o risco e a rentabilidade dos diferentes mercados. “Há boa possibilidade de retorno mais alto em países da África e da Ásia”, diz Vitor Paulo.
Esses fundos no exterior seguem o modelo multimercado, investindo em diferentes classes de ativo, como títulos públicos, privados, ações, participações e projetos em outros países, onde quer que haja um bom equilíbrio entre o risco e o retorno. O valor inicial autorizado na Política de Investimentos, no entanto, é relativamente baixo em comparação com os recursos totais da PREVI. O motivo? Cautela. “Vamos começar devagar, para desenvolver conhecimento sobre como operar nesses mercados, sem descuidar das rentabilidades mesmo nesta fase inicial”, explica Vitor Paulo.
Não houve mudanças nos limites dos investimentos estruturados no Plano 1 e no PREVI Futuro. O chamado private equity continua como uma boa opção de rentabilidade de longo prazo. E, apesar da queda dos juros, o mercado de renda fixa permanece como item importante no cardápio de investimentos. No entanto, como a rentabilidade dos títulos públicos está em queda, a PREVI deve, nesta modalidade, concentrar-se em papéis com prazo de vencimento mais longo, que coincidam com as necessidades futuras de caixa e proporcionem ganhos maiores. Títulos privados de renda fixa também são bem-vindos na carteira dos dois planos, que podem investir nessa modalidade até 20% do total aplicado em renda fixa. Esses papéis são emitidos por empresas privadas como forma de captação de recursos e normalmente pagam juros mais altos do que os de títulos públicos. No entanto, em função do risco embutido, serão privilegiadas operações com vencimento mais curto. “Não tem havido muitas oportunidades disponíveis no mercado, mas continuamos de olho”, conclui Vitor Paulo.