Edição 191 Novembro/2016

gente do futuro

Uma maneira especial de enxergar a vida com as mãos, os ouvidos e o coração

As lições de vida de Dimaranje José, escriturário em Fortaleza (CE)

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Olhar o mundo através de ‘outros olhos’. Foi mais ou menos isso o que aconteceu com Dimaranje José, o Didi, escriturário em Fortaleza, desde muito cedo. Quando tinha cinco anos, ele ficou cego em decorrência de uma uveíte, doença inflamatória na vista.

“Enxerguei com meus olhos durante cinco dos meus 60 anos. Depois disso, aprendi a ver o mundo com os meus outros sentidos, mas isso não me trouxe qualquer tristeza ou incapacidade, e sim outra noção de vida. Para mim, tornou-se natural não enxergar”, explica.

A ausência da visão não impediu que Didi corresse atrás de seus sonhos e fizesse o que tinha vontade. Logo depois de confirmada a cegueira, ele se mudou do vilarejo de Faraó, em Cachoeiras de Macacu, no estado do Rio de Janeiro, para o Instituto Benjamin Constant, na Urca, na capital fluminense. No internato, onde era bolsista, Didi aprendeu a ler e a escrever em braile, entre tantas outras atividades na sua nova condição.

“Não deixei de fazer nada que quis por ser cego. Aprendi com professores que também eram cegos a jogar bola, tocar instrumentos musicais, praticar judô, ser escoteiro, cantar em coral. Todas essas atividades me deram habilidade para desenvolver o que quisesse na vida. Tanto que, após terminar meus estudos regulares, fiz licenciatura em Música, na UniRio. Aprendi a levar uma vida normal, sem limitações”, conta Didi.

Amor pela música e por uma musicista

A música faz parte da vida de Didi desde sempre, despertando muitas paixões. Aprendeu cedo a tocar instrumentos como cavaquinho, violão, viola caipira, pandeiro e bandolim. E esse amor o levou a se apaixonar e casar com uma musicista, no Ceará, há 35 anos. Lá, iniciou sua carreira na área de processamento de dados, fincou raízes e criou sua própria família.

“Em janeiro de 1979, um amigo me convidou para viajar de férias para Fortaleza. Me encantei pela cidade, pelo povo e nunca mais voltei a viver no Rio de Janeiro. Em fevereiro daquele mesmo ano, passei em um concurso para uma empresa estadual de processamento de dados. A seleção foi cancelada, mas logo depois, em abril, passei no processo seletivo para a Tele Ceará e iniciei minha carreira nessa área”, conta.

Em julho de 1981, Didi conheceu e se apaixonou pela maestrina Izaíra, com quem se casou em 26 de setembro. “Foi uma paixão avassaladora que ninguém acreditava que duraria. E lá se vão 35 anos de uma união muito feliz, embalada por muita música, companheirismo, dois filhos lindos, Davi e Isabel, e um neto maravilhoso, o Caio”, afirma.

Didi conta que sua ligação com os filhos sempre foi intensa. “Davi e Isabel perceberam cedo que eu era cego, mas nunca tiveram qualquer problema ou preconceito. Para eles, era normal ter um pai que não enxergava, mas que conseguia cuidar deles e brincar como todos os outros. Mesmo quando houve alguma dificuldade, o amor e a compreensão sempre foram maiores”, lembra, emocionado.

Artes no dia a dia

Ter aprendido a tocar vários instrumentos desde cedo, ter se formado em Música e a convivência com sua esposa maestrina fizeram com que Didi quisesse dividir esse amor com outras pessoas. “A música é apaixonante. Dá graça e traz alegria à vida. Como sempre cantei em coral, toco vários instrumentos e participo de orquestra, busquei um caminho para dividir esses presentes que a vida me deu com outras pessoas. Junto com Izaíra e em parceria com a Universidade Federal do Ceará e a Secretaria Estadual de Educação de Fortaleza, criamos a Orquestra Escola de Música Popular do Ceará para ensinar pessoas da comunidade a tocar instrumentos populares. Fazer parte desse projeto me dá muito orgulho”, revela.

Mas as habilidades de Didi com as artes não se restringem aos instrumentos musicais. Ele também faz crochê e esculturas em pedra-sabão e argila. “São uma terapia e uma diversão”, diz.

Uma instituição inclusiva

E, assim como na vida pessoal, a cegueira nunca atrapalhou Didi, no âmbito profissional também não houve problemas. Depois de trabalhar na Tele Ceará, em 2002 ele foi contratado para prestar serviços como terceirizado na área de tecnologia da Cesup (Centro de Suporte das agências do Banco), em Brasília, onde ficou por três anos até fazer concurso e tomar posse, em 2005, na cidade de Cristalina, em Goiás, também na área de tecnologia. Em 2008, foi transferido para Crato, no Ceará. Em 2011, nova transferência levou Didi para trabalhar em Fortaleza.

“Comecei a trabalhar no Banco como analista de sistemas. Sempre fui apoiado pela área de TI, que me ofereceu desde o início acesso a tecnologias e aplicativos para exercer o meu trabalho da melhor forma possível. Na minha função de escriturário, utilizo um software leitor de tela que, junto com um sintetizador de voz, ‘traduz’ o conteúdo da tela do computador para mim. Assim, eu ‘leio’ mesmo sem usar os olhos ou os dedos”, explica.

Didi lembra que, quando tomou posse no Banco, não havia muitas agências adaptadas para funcionários cegos, mas que isso foi mudando ao longo dos anos. “Hoje, tanto o número de bancários quanto de unidades preparadas para nos receber é bem maior. Contamos com uma boa estrutura para desenvolvermos nossas funções, mas, como temos necessidades próprias e dúvidas, criamos um grupo num aplicativo de celular para nos comunicarmos. A iniciativa tem dado muito certo. É bastante interessante e estimulante”, conta.

Para quem se pergunta como membros do grupo podem se comunicar por um aplicativo de texto, Didi explica que os celulares mais modernos vêm de fábrica com programas que facilitam a acessibilidade para visão e audição em diversos aspectos do dia a dia. “Basta configurar seu aparelho para ativar as funções de acessibilidade. Assim, cegos e surdos conseguem utilizar o telefone como qualquer outra pessoa. Além disso, existem aplicativos que facilitam o dia a dia, como fazer compras, pagar contas, chamar um táxi. Enfim, ser cego não é empecilho para praticamente nada. Basta estar atento às tecnologias e fazer uso delas”, observa.

Pensando no futuro

Desde que entrou no BB, Didi é participante da PREVI. Ele acha fundamental ter um plano de previdência complementar para garantir uma aposentadoria mais tranquila. Filiado ao PREVI Futuro, ele sabe que seu benefício de aposentadoria depende do saldo de contas que terá ao se aposentar e tem procurado se informar mais sobre as contribuições adicionais. O Empréstimo Simples ele já utilizou mais de uma vez. “A facilidade do ES é um atrativo para os participantes da PREVI”, afirma.

Para Didi, o futuro nunca foi uma incógnita com empecilhos ou sonhos impossíveis de serem realizados. Para ele, o futuro é agora, com muitas realizações, a despeito de qualquer obstáculo que a vida tenha colocado em seu caminho, já que isso ampliou sua maneira de enxergar o mundo com as mãos, com os ouvidos e com o coração. 

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Superação em busca dos objetivos
Enxergando a vida com outros olhos

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