Educação Financeira
Agentes multiplicadores
O diretor do Banco Mundial para o Brasil, Makhtar Diop, reforça que a Educação Financeira tem impacto sobre os hábitos de consumo dos alunos e de suas famílias
Cristian Torres afirma que o ensino financeiro nas escolas é muito importante e que os adolescentes, e também as crianças, são agentes multiplicadores poderosos em nossa sociedade. “Esse conhecimento que os jovens adquirem é fruto do ensino nas escolas. Os alunos atendidos pela Enef se sentem mais seguros para responder a perguntas sobre taxas de juros, financiamentos, seguros, imposto de renda e pagamento mínimo de cartões de crédito. E ainda aproveitam para repassar seus conhecimentos aos pais e familiares, colocando em prática, no dia a dia, o que aprenderam”, avalia.
Rogelio Marchetti, especialista financeiro sênior do Bird, explica que a experiência pioneira de aplicar um programa de Educação Financeira na escola – e de instituir um programa-piloto antes de universalizá-lo – viabiliza políticas públicas mais responsáveis.
A presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Maria Helena Santana, diz que o objetivo das aulas é preparar os jovens para planejar seu futuro sem influência de modismos ou necessidades criadas artificialmente. “O programa de Educação Financeira ainda será ampliado: vai se tornar nacional, e vai incluir as famílias”, adianta.
O diretor do Banco Mundial para o Brasil, Makhtar Diop, reforça que a Educação Financeira tem impacto sobre os hábitos de consumo dos alunos e de suas famílias, e cria uma cultura de poupança. “É impressionante como o que se ensina a um jovem é absorvido e repassado adiante. Percebemos, por meio dos números da pesquisa e de relatos dos professores e dos próprios jovens, que o programa de Educação Financeira já está mudando a realidade das famílias. Os filhos ensinam os pais a fazer planilhas de custos, pedem descontos nos pagamentos à vista, estudam os juros possíveis em uma compra parcelada e já pensam em poupar dinheiro, seja muito ou pouco, para conseguir realizar seus objetivos futuros, que vão da compra de uma mochila da moda a uma viagem”, explica.
Crédito responsável evita endividamento
“Se comprar é muito bom, manter a conta bancária no azul e não ter dívidas ao adquirir bens é melhor ainda”, afirma Gilberto Braga, professor de Economia do Ibmec-RJ. Mas com o crédito cada vez mais facilitado, é necessário fazer as contas para não utilizá-lo de forma irresponsável, evitando o endividamento, que gera muita dor de cabeça e afeta a vida de muita gente. Para isso, o segredo, de acordo com o especialista, está em usar o crédito com cuidado, evitando tanto entrar no cheque especial, quanto se limitar a pagar o valor mínimo do cartão ou parcelar compras a perder de vista. “Quem possui Educação Financeira sabe o real valor do dinheiro e como usá-lo, o que permite uma utilização consciente do crédito, que só traz benefícios à saúde financeira e mental dos consumidores”, avalia.
Segundo o Banco Central, existem, atualmente, mais de 25,7 milhões de devedores no país, o que representa um passivo de R$ 526 bilhões. O maior índice de inadimplência está nas operações de empréstimo pessoal (com cheque, boleto ou carnê), que somam R$ 166,4 bilhões. No segundo lugar estão os financiamentos de veículos novos e usados, que representam cerca de R$ 91,1 bilhões; e, em terceiro, o financiamento para compra da casa própria, totalizando R$ 81,7 bilhões.
Gilberto dá duas dicas a quem tem muitas dívidas: “O ideal é pegar um empréstimo bancário para quitar todas as contas, incluindo cartão de crédito e cheque especial. Com isso, o consumidor passa a conhecer a sua dívida real, já que tudo fica concentrado em um único banco, evitando, assim, a possibilidade de se pagar o mínimo da fatura do cartão, ou utilizar o cheque especial para cobrir uma outra dívida, ou, ainda, esquecer de pagar alguma fatura. O crédito consignado, que tem o desconto direto na folha de pagamento, costuma ter as menores taxas de juros porque o credor tem a certeza do recebimento dos valores”, alerta.
Planejamento doméstico
O controle das contas deve começar com o planejamento dentro de casa. “Em primeiro lugar, você tem de fazer orçamento mensal. Pode ser numa planilha, ou até no papel de pão. O importante é ter noção dos gastos e controlar as despesas. As pessoas acham que fazer orçamento é desnecessário porque têm noção do que gastam. Essa noção é falsa”, alerta Gilberto.
O especialista também sugere aos endividados compartilhar a situação em casa. “Eles devem revelar à família a real situação financeira. Assim, todos podem ajudar, gastando menos. Na maioria dos casos, isso não acontece porque as pessoas têm vergonha de falar”, afirma.
Outro conselho de Gilberto é uma providência rápida. “Quanto mais tempo se demorar para reagir, maiores serão os juros. E aí quem sofre é a saúde: pessoas com dificuldades financeiras têm mais tendência a estresse”, explica.