Edição 161 Outubro/2011

vida boa

Liberdade sobre duas rodas

Conheça a história do aposentado Arthur Pedreira

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Poder me aposentar para passar os dias viajando sobre as duas rodas da minha moto. Esse era o desejo secreto de uma vida inteira, que se intensificou nos últimos meses como gerente do Núcleo de Comunicação da TVBB, em Brasília. Finalmente, em 2007, aos 51 anos, me aposentei e dei início à minha vida de easy rider, ao lado da minha mulher Raquel. Estrada Real, Chapada Diamantina, Jalapão, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Guarapari, Paraty... O destino é apenas uma desculpa. Na verdade, o grande barato é sair por aí de moto, com a sensação de liberdade e do vento no rosto, que eu experimentei desde menino.

E essa paixão começou quando era muito pequeno, aos quatro anos. Eu me lembro dos passeios que dava com meu avô, que era motociclista, já na década de 50. Ele me colocava sentado no tanque da moto e saíamos a passear por Caxias do Maranhão, a pequena cidade onde nasci. Mas só pude realizar o sonho de ter a minha motocicleta ao ganhar meu primeiro salário, em 1976, quando comecei a trabalhar no BB.

Fui à loja da Honda e comprei o lançamento da época, uma CG 125. Depois vieram outros modelos mais potentes, XL 250, CB 400. No entanto, em 1986, casado e com dois filhos pequenos, tive de abrir mão da minha paixão, ficando apenas com o carro para me locomover. Ocasionalmente, durante as férias, alugava uma pra matar a saudade. Se existe um momento mágico, é quando você pilota uma moto por uma estrada tranquila. O capacete vira um confessionário, onde você reflete, filosofa e reza. É melhor do que qualquer divã.

Quinze anos depois, em 2001, já no segundo casamento e com os filhos praticamente criados, a paixão voltou com força total e comprei uma Falcon 400 que, por sua característica trail, me permitia usá-la no asfalto e na terra. Foi quando me juntei a um motoclube, fazendo novas amizades e viajando de moto para outros Estados. O Blues MC é um motoclube “família”, onde as mulheres participam de todas as atividades e passeios.

No caso da Raquel, a paixão pelo motociclismo nos aproximou. A primeira vez que nos encontramos foi na garagem do BB, em Brasília. Quando avistei aquela ‘gata’ saindo de moto comecei a me apaixonar, sem querer. Ainda tentei segui-la, mas a perdi de vista no trânsito. Alguns anos depois, o destino fez com que ela viesse trabalhar na mesma área que eu, na Fundação Banco do Brasil, e daí tudo aconteceu. Estamos juntos há 18 anos.

Finalmente, em 2007, veio a minha aposentadoria. Aos 32 anos de serviço, o BB me ofereceu um incentivo para me afastar (PAA), que aceitei sem pestanejar pois, além de ganhar a liberdade, recebi uns ‘trocados’ com os quais adquiri a moto dos meus sonhos: uma BMW R1150 GS Adventure. Vestido com roupas especiais, usando capacetes modernos e outros ítens de segurança, ela poderia me levar a qualquer parte do mundo!

Bem, com o sonho da moto realizado, partimos para realizar outro desejo: planejar as viagens. No primeiro
percurso pós-aposentadoria, percorremos a Estrada Real, de Diamantina-MG a Paraty-RJ, passando por lugares incríveis e cidades históricas de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Para isso, tivemos que dividir a viagem em duas etapas, pois desta vez haveria um grupo composto de 11 motos. Uma verdadeira caravana formada por 9 casais e 2 motociclistas solteiros. Foram 23 dias percorrendo 3 mil quilômetros pelas cidades de Diamantina, Serro, Caraça, Ouro Preto, Congonhas e Tiradentes.

Na segunda etapa da viagem pela Estrada Real, feita no ano seguinte, sem a participação dos amigos, seguimos de Tiradentes a Paraty. Apenas eu, Raquel e a nossa ‘Fat Girl’ (apelido da GS). Seguimos direto para Tiradentes, passamos por Carrancas e São Lourenço, em Minas; Cunha, em São Paulo, e Paraty, no Rio. Na volta, passamos por Conservatória, Itatiaia e Visconde de Mauá, também no Rio; Juiz de Fora e Ouro Preto, em Minas, e finalmente chegamos em Brasília. Dessa vez foram 3,5 mil quilômetros de estradas de asfalto e terra, sob sol e chuva, calor e frio, por lugares de paisagens belíssimas.

Para mim, até agora, essa foi a ‘nossa aventura’. Nessas viagens paramos onde queríamos, curtimos o caminho, as cidades, as paisagens. Renovamos nossa cumplicidade e parceria.

Este ano foi a vez da Raquel se aposentar. Em março, comemoramos com uma viagem em outro estilo, pois, além das duas rodas, curtimos bastante aventuras em 4x4. Fizemos o que chamamos de ‘Expedição Brasil Profundo’, pelas chapadas Diamantina (BA), dos Veadeiros (GO) e Jalapão (TO). Nesse estilo, já estamos programando uma viagem para a Venezuela, passando pelo Monte Roraima, que é outro sonho.

Mas antes disso já temos programada uma viagem de moto pelo Cone Sul (Peru, Bolívia, Chile e Argentina). Pretendemos sair do Brasil em maio de 2012, pela Rodovia Transoceânica, no Acre, rumo a Macchu Picchu, no Peru. Vamos descer pelo Chile até os lagos andinos, rumo à Patagônia Argentina, e retornando ao Brasil pelo Rio Grande do Sul. É um projeto mais audacioso, por isso contamos com a participação de mais três casais motociclistas e de um carro de apoio. Embora ainda esteja no papel, ele já se tornou assunto obrigatório no Blues MC, que se reúne semanalmente para discutir roteiros e orçamentos.

Enfim, a minha aposentadoria está sendo exatamente do jeito que imaginei: com asas nas rodas da minha moto acompanhado da minha companheira de vida e de aventuras.

Arthur Pedreira, motociclista e aposentado do Plano 1

Contato: arpeneto@gmail.com

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