Edição 184 Setembro/2015

recursos do plano

A travessia da Vale

Programa de corte de custos e aumento de produtividade fortalece competitividade da mineradora, que é o maior ativo da carteira de ações da PREVI

investimentos - vale.jpgA Vale deu uma boa notícia a seus acionistas no final de julho. A empresa anunciou um lucro de R$ 5,144 bilhões no segundo trimestre de 2015. O resultado superou em 2,5 vezes as projeções do mercado. Num vídeo dirigido aos acionistas, o diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, disse que o resultado foi expressivo e mostra que a companhia está preparada para um cenário desafiador no mercado de commodities. “Esse é um resultado limpo, sem nenhum fator exógeno que prejudicasse o resultado da empresa, como, por exemplo, a desvalorização do câmbio em relação ao dólar.”

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O bom resultado no balanço é um sinal de que as medidas estratégicas adotadas pela mineradora estão fazendo efeito, o que é uma excelente notícia para a PREVI. A participação da Entidade na companhia estava avaliada no final de 2014 em R$ 32 bilhões.

O valor corresponde a cerca de 20% dos ativos da PREVI e dá uma ideia da importância da mineradora para a Entidade. Esse peso se reflete no pagamento de dividendos. Entre 2010 e 2014, a empresa distribuiu R$ 3 bilhões apenas para a PREVI.

Locomotiva chinesa

Maior produtora de ferro do mundo, a Vale atravessa um período de transição de um mercado extremamente aquecido para uma nova realidade, de preços mais modestos. Entre 2000 e 2011, a empresa viveu o melhor dos mundos. Foi um período de crescimento excepcional no mercado global de minério de ferro. Em termos de consumo, comparável ao movimento de urbanização dos Estados Unidos e da Europa no século 19 e à reconstrução da Alemanha e do Japão, depois da Segunda Guerra Mundial.

Agora, a grande locomotiva vinha sendo a China. Ao tirar 100 milhões de pessoas da linha da pobreza em apenas 30 anos e iniciar um processo feroz de industrialização e urbanização, o país jogou nas alturas o preço das commodities, em especial, a cotação do ferro.

A maré do mercado, no entanto, virou. A recessão atingiu o mercado europeu, o crescimento da China arrefeceu e o país entrou num ciclo de desenvolvimento menos intensivo no consumo de commodities. Antes, a construção civil e a infraestrutura representavam 60% do consumo de aço no mercado chinês. Hoje, esses setores pisaram no freio.

Resultado: se a demanda por aço crescia 15% quando a economia chinesa crescia 10%, este ano a previsão de crescimento do PIB é de 7%, e a demanda por aço ficará estável. Com isso, até o fim de 2014 o preço da tonelada do minério de ferro caiu 61,5% em relação ao pico histórico registrado em 2011, afetando diretamente os resultados da Vale.

Controle rigoroso

O balanço do segundo trimestre de 2015, no entanto, mostra que as medidas adotadas pela companhia para enfrentar o cenário desafiador vem surtindo efeito. A Vale vem mantendo uma política rigorosa de controle de custos, fundamental para manter a competitividade da empresa e ainda mais crítica em um período de queda de preços. Esse plano envolveu o adiamento de alguns projetos de menor importância estratégica para concentrar esforços em investimentos de classe mundial, capazes de fazer a empresa dar um grande salto para o futuro.

A Vale define como ‘projeto de classe mundial’ aquele de baixo custo de produção, alto retorno e que produz bons resultados em qualquer nível de preço. Um bom exemplo disso foi o investimento de US$ 3,7 bilhões no projeto de cobre de Salobo, no Pará. A mina produz 200 mil toneladas de cobre por ano. Junto com o metal, vem um subproduto valioso: ouro. Pois a venda dessa produção futura de ouro já rendeu à Vale US$ 2,8 bilhões, mais da metade do valor investido no projeto.

O trampolim dessa nova fase será a mina S11D, em Carajás, no Pará. O projeto orçado em US$ 16,4 bilhões é o maior investimento da história da companhia, um marco comparável à construção do Porto de Tubarão, no Espírito Santo, e à abertura do Projeto Carajás, nos anos 1980.

Produção dobrada

Trata-se de um grande avanço para a companhia. A mina, que deve entrar em operação em 2016, vai aumentar significativamente a capacidade de produção de minério da Vale. E, o que é melhor, com baixíssimo custo de produção. Isso tem um alto valor estratégico, pois, quanto mais barato para extrair, mais competitivo é o minério no mercado internacional.

Enquanto hoje o custo médio de extração do minério de ferro da Vale é de US$ 15,8 por tonelada, o minério de ferro da S11D será extraído por US$ 11, podendo chegar a US$ 10 ao ser colocado no porto. Ao mesmo tempo, por seu alto grau de pureza, o minério extraído da S11D deve obter um preço superior. Essa equação será um fator chave para a competitividade da empresa brasileira no mercado global nas próximas décadas. A Vale tem feito seu dever de casa no que diz respeito à eficiência operacional. O desafio é entregar um produto de qualidade a um custo de produção inferior.

E como nunca é demais falar em gestão de custos, a Vale tem uma boa notícia: a administração eficiente do projeto permitiu reduzir em US$ 3,3 bilhões o orçamento original da S11D. O projeto prevê a duplicação da Estrada de Ferro Carajás até o Terminal Portuário Ponta da Madeira, no Maranhão, aumentando a capacidade logística para escoar a produção da nova mina.

Horizonte 2018

Ao mesmo tempo, a empresa faz movimentos estratégicos para viabilizar outros investimentos importantes, como a conclusão da fase 2 do projeto de carvão de Moatize, integrado ao corredor logístico de Nacala, em Moçambique. Com isso, no ano passado, a Vale reduziu sua participação no projeto, se associando à japonesa Mitsui. A venda de parte do ativo representou uma economia de US$ 3,6 bilhões, que teriam de ser desembolsados pela Vale para a conclusão do projeto.

A combinação dessas estratégias permite que a companhia realize seus investimentos prioritários, mantendo as finanças sob controle, mesmo num cenário global complexo. Desse modo, a partir de 2018, a Vale deve dar início a um novo ciclo, segundo seus gestores. Com os projetos principais concluídos, o volume de desembolso de investimentos cairá ao mesmo tempo em que a produção aumenta, com alto nível de competitividade. Isso vai aumentar a geração de caixa, reduzir o endividamento da mineradora e gerar mais dividendos para os acionistas, inclusive a PREVI. 

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