Edição 162 Dezembro/2011

vida boa

Um apaixonado pelas letras

Conciliar o trabalho com qualquer outro tipo de atividade é difícil, ou mesmo impossível, para muitas pessoas. Para mim, no entanto, foi algo natural. Durante quase 30 anos, enquanto atuei no Banco do Brasil, pude concluir minha graduação e pós-graduação e exercer com prazer minha grande paixão: a vida acadêmica.

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Comecei minha carreira no BB em 1973, aos 21 anos, na agência Centro de Campinas (SP). Fui instrutor do Departamento Geral de Seleção e Desenvolvimento do Pessoal (Desed) de 1979 a 1990 e me aposentei aos 50 anos, em 2002, como escriturário. Durante esse período, por conta da vontade de me tornar professor, os horários facilitados de trabalho no Banco me permitiram dar início à minha vida universitária.

Conciliar as profissões de bancário e estudante/professor foi possível porque trabalhava e morava em uma cidade pequena, Itu, onde a universidade e a agência eram próximas. Concluí minha formação acadêmica utilizando as horas livres do início da manhã, do fim da tarde ou mesmo à noite, após o expediente. Depois da aposentadoria, no entanto, os estudos passaram a receber dedicação exclusiva, o que me possibilita terminar o pós-doutorado com calma. Lembro com saudades do meu tempo de banco, mas não me sinto aposentado. Há muitas coisas que ainda quero fazer na vida acadêmica.

A paixão pelas letras, e consequentemente pelos livros, é antiga. Aprendi em casa, com minha mãe, que era costureira, e meu pai, caminhoneiro, a importância e o gosto pela leitura. Ao longo da vida, fui adquirindo exemplares para minha formação e para meu lazer, que hoje se encontram em minha biblioteca, que reúne entre 7 mil e 8 mil títulos. Um orgulho para qualquer amante da literatura.

O fascínio por esse universo mágico de aprender e ensinar sempre esteve presente em minha vida, e por isso me dediquei com afinco aos estudos para minha formação acadêmica, ampliando muito meus conhecimentos. E a idade, que para muitos pode ser um fator impeditivo, para mim serviu como estímulo. Aprender coisas novas é tão fascinante que não consegui me contentar em apenas concluir meu curso universitário. Sou formado em Letras, pelo Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio, em Itu; fiz mestrado em Literatura; mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica, na PUC/SP; e estou cursando pós-doutorado em Tecno-Arte-Poesia e Teoria Literária, na Unicamp.

Escolher como tema de estudo assuntos pouco conhecidos, como poesia digital e teoria literária, abriu um novo horizonte de possibilidades profissionais para mim. Minhas escolhas nunca foram simplórias. Na fase da faculdade, estudei poesia e ciência, e escolhi a obra de Augusto dos Anjos. No mestrado, o tema foi poesia e pintura, a partir da poesia de Cesário Verde. Nesse período, fui apresentado à infopoesia pelo professor português E. M. de Melo e Castro – um dos pioneiros da poesia experimental portuguesa –, e me encantei com a novidade. E fui em frente, estudando o assunto a fundo, me especializando. Com o tempo, tive chance de publicar o que aprendi. Minha tese de doutorado, Poesia Eletrônica: Negociações com os Processos Digitais, concluída em 2005, virou livro, em 2008, com o mesmo título. Em seguida, os estudos me levaram a escrever Poesia Digital: Teoria, História, Antologias, lançado em 2010. Em breve, devo lançar Tecno-Arte-Poesia.

Como o assunto é novo e pioneiro no meio acadêmico, tenho sido convidado a participar de pesquisas, produção de livros, revisão, aulas, palestras que estão me proporcionando oportunidades incríveis de conhecer lugares que nem imaginava, dentro e fora do Brasil, como Portugal, Uruguai, México, Espanha, Estados Unidos, Cuba.  

Minha pretensão, claro, é compartilhar meus estudos com os alunos. Meu objetivo é me tornar professor universitário e passar em um concurso público. Ainda tenho 59 anos e até os 70 anos isso é possível.

Compartilhar minha vida de bancário com a acadêmica exigiu uma grande disciplina e força de vontade. Afinal, trabalhar e estudar, ao mesmo tempo, durante tantos anos, acaba se tornando cansativo em alguns momentos. No entanto, o resultado vale muito a pena. Aprender e ensinar é algo que se pode fazer a vida inteira, e eu faço com muito prazer.

Jorge Luiz Antonio,

pós-doutorando em poesia digital e aposentado do BB

Contato: jlantonio@uol.com.br

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