Edição 169 Fevereiro/2013

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"Meu negócio é investimento"

Ubirajara Gomes da Silva era morador de rua quando passou no concurso do Banco. Agora, sua meta é evoluir na carreira e aumentar o saldo de sua conta de aposentadoria

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O pernambucano Ubirajara Gomes da Silva tinha 27 anos quando passou no concurso para o Banco. Como milhares de pessoas em todo o país, ele procurava um emprego estável, com possibilidade de crescimento na carreira e outros benefícios. Só tem um detalhe: Ubirajara morava nas ruas de Recife quando fez a prova. “Fazia 15 dias que eu não tomava banho quando eu prestei o concurso”, lembra. “Imagina só o cheirinho na sala.”

Hoje, com 32 anos, trabalhando como escriturário em uma agência da capital pernambucana, ele sonha em crescer dentro do Banco. Para isso, quer estudar Economia, Ciências Contábeis ou Administração, para aproveitar as oportunidades nas seleções internas. “Gostaria de trabalhar na PREVI ou na BBDTVM”, diz. “Meu negócio é investimento.”

O começo da história de Ubirajara é parecido com o de muitos jovens que acabam nas ruas. Ele morava com a avó materna e tinha problemas familiares quando a rotina de desentendimentos o levou a fugir de casa, aos 15 anos de idade. “Minha avó me acusou de usar drogas. Larguei tudo e fui parar na rua”, conta.

Ao todo, foram 12 longos anos ao relento, dormindo na soleira da porta de lojas e vivendo com dois reais por dia. Ubirajara vivia próximo a um hospital e fazia bicos para o pessoal dos bares e restaurantes no entorno, ganhando uns trocados. De vez em quando, o pagamento vinha acompanhado de um bem-vindo prato de comida. Água e café, tomava em uma biblioteca pública. A roupa, ele lavava em um tanque na Praça Madalena e deixava secar no próprio corpo.

Apesar das dificuldades, nunca pediu esmolas. Tampouco desistiu de si mesmo. “Terminei o primeiro e o segundo graus fazendo supletivo em escola pública”, diz. Na ocasião, aproveitava para merendar.

Durante esse período, o dono de uma lan house permitia que Ubirajara usasse a internet sem pagar. Foi lá que o jovem começou a planejar seu futuro, pesquisando sobre concursos públicos. “Eu pegava livros na biblioteca para estudar as matérias”, diz. Para dar conta da tarefa, diminuiu o ritmo dos bicos e, com o tempo, foi ficando craque.

O esforço valeu a pena. Antes mesmo de passar no concurso do BB, Ubirajara já tinha passado em outras quatro provas. “Não cheguei a me dedicar muito ao concurso do Banco”, conta. “O conteúdo é parecido com o de outros concursos que eu tinha feito, e só cheguei a estudar questões de uma prova anterior do BB uns cinco dias antes da data do exame.”

O estudo sistemático, no entanto, foi suficiente. Ubirajara acertou 133 das 150 questões e passou na 130ª colocação, entre 19 mil candidatos. A disposição para realizar tal façanha veio de seu amor próprio. “O que mais me moveu foi o desejo de provar para minha família que, mesmo com todas as dificuldades, eu podia ser alguém na vida.”

Mas a aprovação no concurso foi só o começo. Ubirajara teve ainda de enfrentar uma maratona burocrática para colocar os documentos em dia e não perder a chance de sua vida. O pior foi limpar seu nome na praça, sujo por causa de uma dívida. Parte foi paga com a ajuda de um amigo e o restante, parcelado.

O amigo, Carlos, que conheceu pela internet, ofereceu um quarto para Ubirajara morar, e ele finalmente conseguiu sair da rua. Depois foi só vestir a melhor roupa para tomar posse no Banco. Roupa? “Peguei umas peças emprestadas, uma de cada tamanho. Fiquei lindo”, conta, com ironia. Apesar dos trajes, ele conta que foi bem recebido pelos colegas do BB, que ficaram sabendo de sua história.

Hoje, Ubirajara está casado e mora em um bairro perto do Aeroporto Internacional de Guararapes. Ele pensa em ter filhos, mas quer primeiro consolidar sua estabilização financeira para oferecer a eles um futuro melhor. Enquanto isso, continua trabalhando duro, com a certeza de que sua evolução na carreira só depende de si mesmo. “Minha perspectiva de vida, hoje, é completamente diferente, mas sei que nada veio fácil para mim”, conclui.

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Conheça a história de Ubirajara, funcionário do BB

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