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Só a mudança é permanente
19º Encontro Previ de Governança Corporativa debate ambiente de transformação.
Em sua 19ª edição, o Encontro Previ de Governança Corporativa teve como tema o cenário permanente de transformações na economia e na sociedade. Um panorama que desafia empresas e fundos de pensão a se reinventar constantemente. O evento aconteceu no dia 22 de outubro, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e marcou também o lançamento da 3ª edição do Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa da Previ.
“O momento é de ação para a retomada do crescimento sustentável”, observou o presidente da Previ, José Maurício Pereira Coelho, na abertura do Encontro. “Neste cenário, a governança é fundamental, pois ela traz segurança na turbulência e é essencial para a sustentabilidade no longo prazo”.
José Maurício destacou o bom desempenho da Previ nesse aspecto, reconhecida como referência no setor de previdência complementar fechada. “Não é por outro motivo que a Previ tem conseguido, mesmo em momentos difíceis para o país, se manter firme”, destacou.
“Temos a felicidade de já termos retornado ao equilíbrio. Divulgamos no dia 19 de outubro o resultado acumulado até setembro, no qual atingimos a marca de R$ 6,6 bilhões e o resultado mensal de R$ 2,3 bilhões”, disse o presidente. “Ou seja: saímos da fase de déficit e voltamos para a fase do equilíbrio”.
Paulo Caffarelli, então presidente do Banco do Brasil, destacou a importância da boa governança para o sucesso da Previ ao longo de seus anos de história. “Podemos perceber isso ao observar que outros fundos passaram por problemas de governança”, destacou. Cafarelli apontou ainda o papel da Instituição como motor para o desenvolvimento do país, com o investimento em grandes empresas.
Olhar histórico
Na palestra magna, o historiador Milton Teixeira traçou um paralelo entre a história da Praça Mauá, no Rio de Janeiro, região onde o evento foi realizado, e as transformações constantes na economia e na sociedade. Mostrando mapas históricos do final do século 18 e fotos com registros da praça, Teixeira concluiu: “Como dizia o arquiteto francês Le Corbusier, a melhor tradição é andar para frente. E essa é a lição que queremos passar com esse Encontro”.
Alessandra Simões, sócia da assessoria de estratégia de gestão de capital humano WePlace, resumiu em números o que esses ‘ventos de mudança’ estão fazendo com as empresas. “No período de 2015 até 2020, estima-se que 35% das empresas vão mudar seu core business (negócio central de uma empresa). No Brasil, esse número é de 31%”, disse. “Para enfrentar essa transformação será preciso que as organizações – e as pessoas que trabalham nelas – se adaptem.”
Para Ana Hoffmann, head da estrutura Microsoft de vendas para as indústrias no Brasil, o principal desafio é quebrar os paradigmas construídos nas empresas e na sociedade, que levou a estruturas muito hierarquizadas nas organizações. Essas estruturas seriam insuficientes para enfrentar o cenário de rápida transformação.
“Isso leva as empresas a ignorarem as competências necessárias para a gestão no cenário atual”, explicou. “As estruturas ainda são pensadas para desenvolver produtos que vão ficar em linha por muitos anos. Mas, na Microsoft, por exemplo, lançamos novas versões dos softwares a cada três semanas. Você não pode fazer isso com a mesma estrutura de produção de antes.”
A transformação também afeta setores tradicionais da economia, como o varejo e o segmento de shoppings. Marcelo Carvalho, copresidente da Ancar Ivanhoe Shopping Centers, no entanto, é otimista. “Temos cerca de cinco milhões de clientes cadastrados para usar o sinal de wi-fi grátis nos nossos shoppings”, disse. “Quando um deles se conecta, sabemos quem é, onde está indo, em que lojas entrou. O desafio estrutural é enorme, mas a oportunidade também.”
Pilares do Código
O evento também abordou diversos aspectos da governança corporativa, refletidos nos cinco pilares do novo Código de Governança da Previ: Integridade, Sustentabilidade, Transparência, Direitos dos Acionistas e Órgãos de Controle. Heloísa Macari, sócia da consultoria ICTS e diretora da Protiviti no Brasil, observou que a preocupação com a integridade é vital para as empresas. “Uma pesquisa global com cerca de 2,7 mil empresas mostra que houve prejuízos de US$ 7,1 bilhões em 2017 por causa de fraudes nessas companhias”, afirmou.
Segundo Heloísa, todos esses casos têm um ponto em comum: pessoas que não fizeram o que deveria ser feito. “É por isso que um Código de Ética tem de ser mais do que um livro que fica na gaveta. Ele precisa ser uma prática de rotina, incorporada à cultura das empresas”, alertou. “Isso precisa ser dito e reforçado diariamente nas organizações pelo exemplo de suas lideranças”.
Já Eliane Lustosa, diretora de Investimento do BNDES, que participou do evento como moderadora em um dos debates, abordou questões como transparência e a necessidade de assegurar maior diversidade aos conselhos das empresas. “Precisamos ter diversidade em todos os aspectos, não apenas de gênero, mas também de background, de capacitação, e que tenham a diversidade no seu conjunto”, argumentou. “O mundo evoluiu tanto, que ninguém detém o conhecimento de tudo. Por isso, a diversidade é importante, porque traz conhecimentos complementares que permitem o debate e ajudam as empresas a se manterem relevantes num contexto de mudança constante”.
Fernando Carneiro, membro do conselho global da consultoria Spencer Stuart, observou que as estruturas de governança precisam ir além do simples cumprimento das regras para atender e equilibrar as expectativas da empresa, dos investidores e dos stakeholders nesse novo ambiente de negócios. Para isso, os conselhos de administração cumprem um papel fundamental.
Segundo Carneiro, o conselho ideal deve incorporar diferentes habilidades, experiências e formações. Mas não adianta trazer profissionais em total desacordo com a cultura da empresa. “Ir contra essa cultura é ir de encontro ao fracasso”, destacou. “Essa transformação precisa acontecer ao longo do tempo, porque não basta derrubar paredes no escritório para transformar uma empresa tradicional no Google”.
Sustentabilidade nos negócios
A Sustentabilidade foi outro pilar importante abordado no evento. Carla Crippa, diretora de Sustentabilidade da Ambev, afirmou que o assunto não pode ser exclusividade de uma área nas organizações, mas deve ser abordado de forma transversal, com o envolvimento de todos os setores. “É preciso balancear os aspectos ambientais, sociais e econômicos”, disse. “E sempre com uma visão de longo prazo. Tratar de sustentabilidade exclusivamente com ações de curto prazo não faz sentido.”
O gerente geral de Sustentabilidade da Votorantim Cimentos, Luiz Germano Bernartt Júnior, por sua vez, destacou a dificuldade de manter uma cultura corporativa coerente em empresas com grande presença internacional para se adaptar aos valores locais de cada país, sem perder a sua essência. Além disso, observou que hoje as demandas dos investidores vão muito além dos aspectos financeiros. “Estar apenas em compliance não é mais suficiente. Isso é obrigação, uma condição para que a empresa se mantenha no negócio”.
Órgão de regulação
O papel dos órgãos reguladores também foi discutido. Flávia Mouta, diretora de Emissores da B3 (Bolsa de Valores, resultado da fusão entre a BM&FBovespa com a Cetip), observou que é importante que os organismos saibam que têm limites de atuação. “A regulação é sempre um reflexo do mercado, do comprometimento de empresas e investidores com as regras”, argumentou. “Fala-se muito em espírito de governança, e é claro que é preciso ter princípios, mas isso precisa ser balanceado com previsibilidade e segurança jurídica, o que nem sempre é fácil”.
Gestores de fundos também participaram do Encontro e destacaram a importância de aproximar investidores e conselhos de administração das empresas. Dirigindo-se à plateia, Eduardo Figueiredo, gerente de Investimentos da Standard Life Aberdeen, questionou: “Qual foi a última assembleia de acionistas de que vocês participaram? Quantas tiveram a presença do presidente do conselho? Quantas tiveram um ou mais investidores institucionais presentes? Se refletirmos sobre essas perguntas, talvez possamos dar um passo à frente no diálogo e na melhoria do engajamento dos investidores na vida das empresas”.
Pedro Rudge, sócio-fundador da Leblon Equities, observou que há uma tendência de aproximação entre investidores e conselhos em mercados como Estados Unidos e Europa, o que deve se repetir no mercado brasileiro. “Aqui no Brasil ainda não temos uma cultura participativa”, lamentou. “Mas isso tem melhorado com algumas iniciativas, como a instituição do voto a distância nas assembleias de acionistas.” Segundo Rudge, o mercado é um termômetro importante para os conselhos. “É importante diminuir essa distância. Isso seria benéfico para todos”.
Ser vivo
Para o diretor de Participações da Previ, Renato Proença, o Encontro foi bastante rico. “Esse é um momento de aperfeiçoamento. A governança corporativa é um ‘ser vivo’ que muda constantemente, como muda a sociedade e mudam as empresas. Por isso, aproveitamos a oportunidade para aprimorar o nosso Código de Governança”, explicou.
Proença observou ainda que os valores da governança corporativa precisam ser disseminados para que o mercado financeiro no Brasil se desenvolva à altura das necessidades do país. “A Previ tem um papel a cumprir nesse sentido, e o Código é uma ferramenta importante para isso”, concluiu.
Encontro serve de orientação para conselheiros
Vera Elias é conselheira fiscal da Neoenergia há dois anos. Para ela, eventos como o Encontro Previ de Governança Corporativa são importantes para manter os conselheiros atualizados e alinhados com os propósitos da Entidade. Segundo ela, a Previ está sempre na vanguarda. “Isso fica evidente até mesmo na versão atualizada do Código de Governança, que fala sobre a realização de Relatórios que não são hoje obrigatórios, como o Relato Integrado”, disse. “O código é tão bem estruturado que serve, inclusive, de inspiração para outras empresas e fundos de pensão”.
Para Arnaldo Vollet, conselheiro administrativo da Invepar, o tema do Encontro deste ano foi uma surpresa. “Um tema como ‘Só a Mudança é Permanente’ é importantíssimo, porque realmente temos de discutir o amanhã das empresas”, afirmou. “Precisamos pensar hoje o que devemos fazer para que elas cresçam com sustentabilidade, dando aos acionistas do fundo de pensão dividendos que permitam à Previ cumprir o seu compromisso de pagar benefícios aos seus participantes”. Vollet também elogiou o pioneirismo da Previ em relação à governança corporativa, não apenas dentro da Entidade, mas também no mercado. “Isso é fundamental para o crescimento das empresas e sua sustentabilidade”, disse.
Segundo Jaime Kalsing, conselheiro de administração da Tupy, o Encontro serve como uma espécie de direcionador de comportamentos, de decisões para aqueles que representam a Previ no conjunto das empresas participadas. “A orientação que a Previ nos passa está registrada no seu Código de Melhores Práticas e está em sintonia com as melhores práticas do mundo corporativo”, explicou. “Seguindo essas orientações a gente faz o nosso melhor, acrescentando valor às empresas”, concluiu.