Edição 166 Agosto/2012

vida boa

Um mundo para além da aposentadoria

Conheça a história da aposentada Cecília Azevedo

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Em julho de 1998, aos 46 anos, depois de 25 anos de trabalho no Banco do Brasil, me aposentei na agência Blumenau, em Santa Catarina. Entrei no BB aos 18 anos e, na época, percebi que eu queria ser muitas coisas ao mesmo tempo. Enquanto era funcionária do BB, fui professora de ensino médio, estudei quatro línguas – inglês, espanhol, francês e italiano – e fiz dois cursos superiores – Administração de Empresas e Hotelaria e Turismo. Casei-me também nessa fase de minha vida, mas não deu tempo de ter filhos.

Durante meus 25 anos de Banco, muita coisa aconteceu. Mas, depois que saí, as novidades no meu dia a dia aumentaram exponencialmente. Passei grande parte de minha vida trabalhando, estudando e, sem querer, me preparando para minha aposentadoria. Hoje, com o benefício que recebo pelo Plano 1, consigo ter o suporte necessário para realizar os desejos de uma vida inteira.

É engraçado pensar, hoje, em como eu tinha medo de me aposentar: eu via vários companheiros de trabalho sofrendo, por não saber o que fazer em seu tempo ocioso depois da aposentadoria. Graça a Deus, comigo foi diferente, porque a estrutura que tenho me permitiu realizar todos os meus sonhos.

Mudança de rumo

Seis meses após me aposentar, minha vida mudou completamente. Estava me acostumando com o fato de ser oficialmente uma aposentada quando me separei de meu marido, perdi minha irmã e meu cunhado e, paradoxalmente, ganhei meu melhor presente: minha filha Gabriela, que, hoje, aos 23 anos, é jornalista em São Paulo. Ao assumir a criação de minha sobrinha, que se tornou efetivamente minha filha e minha grande companheira, percebi que tinha ainda mais vontade de correr atrás de tudo o que sempre quis fazer na vida: viajar, estudar e ajudar o próximo.

Gabriela tinha mais ou menos 8 anos quando veio morar comigo, e desde o primeiro momento, me acompanhou em quase todas as minhas jornadas pelo Brasil e o mundo, nos 62 países que conheci. E, sempre que morei fora, o fiz legalmente, renovando meu visto.

Morei nos Estados Unidos por dois anos e, nesse tempo, fiz muitas coisas. Com a aposentadoria que recebo do BB, sabia que poderia me sustentar naquele país, sem problemas, enquanto estudava inglês na Universidade de Riverside, na Califórnia. Mas, mesmo assim, aproveitei as oportunidades que sugiram – já que não consigo ficar parada – e também ganhei algum dinheiro vendendo sanduíche natural, biquínis, sandálias Havaianas, e conheci o país inteiro.

Depois de dois anos com Gabriela na terra do Tio Sam, levei-a para aprender inglês e jogar tênis na Nova Zelândia. Lá, vendi sanduíche, trabalhei em restaurante, limpei vidros, administrei o lugar onde morava, que pertencia a um suíço. Ou seja, fiz muita coisa diferente do que estava acostumada, e isso só me trouxe boas recordações.

Faz três meses que estive em Cingapura com minha filha, e nessa viagem percebi o quanto sou feliz. Nossa! Pensar que conheci os lugares mais diferentes, interessantes, incríveis em todos os continentes. Ilhas Fiji, Bali e Tailândia são as minhas paixões porque são muito diferentes da nossa cultura. Ah, sem esquecer da Austrália, que, para mim, é o Brasil que deu certo.

É interessante pensar, hoje, que me tornei funcionária do BB por acaso, porque na década de 1970 era comum fazer concurso para ser funcionário público. E, nessas minhas andanças mundo afora, só tinha a agradecer por ter sido funcionária do Banco. Isso porque, além de adquirir aprendizados para a vida que apenas um emprego como o do BB pode dar – como zelar pelo seu dinheiro e manter seu crédito saudável –, o Banco me deu um suporte incrível por todos esses anos. Ele sempre cuidou de mim, das minhas finanças; me respaldou em momentos cruciais, como quando precisava alugar imóveis no exterior, pagar cursos, confirmar minha idoneidade.

Troca de experiências

Além da experiência cultural, aprendi muito, nessas viagens ao exterior, sobre como ser uma pessoa melhor, dar valor às coisas que realmente me fazem feliz e me tornar mais acessível, aberta às novidades e ajudar o próximo. Nos Estados Unidos, por exemplo, para ficar mais barato, dividíamos espaço com japoneses e árabes. Na Espanha, alugamos um apartamento com duas arqueólogas italianas. Eu ensinei português a elas, que me ensinaram seu idioma e também a cozinhar. Essa troca de conhecimento é incrível, um aprendizado que não tem preço.

O trabalho voluntário sempre fez parte da minha vida. E hoje, cursando Psicologia – estou no sétimo período –, vejo que posso colocar isso cada vez mais em prática. Em agosto, parto para Luanda, na África, a fim de implantar um programa voluntário de tratamento psicológico a ex-militares e deficientes de guerra, em parceria com a ONG Educasat. Vou agora, fico 30 dias, depois volto para desenvolver os projetos adequados à realidade local. Em dezembro, tenho nova viagem programada para aplicar os projetos. Acho que essa experiência pode me ajudar muito, no futuro, a realizar meu maior sonho: montar uma ONG de profissionais de diferentes áreas da Psicologia para desenvolver boas ações, gratuitamente, incluindo terapias com crianças e jovens adultos carentes.

Ao fazer um balanço de minha vida, posso concluir que existe um horizonte a ser descoberto além da aposentadoria.

Cecília Azevedo, aposentada do BB, estudante de Psicologia, voluntária e viajante.

Contato: cecilia_aze@yahoo.com.br

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