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Um conceito para exercitar no dia a dia
O conceito está presente no discurso das empresas, nos veículos de comunicação e até nas conversas informais, ao discutir a sobrevivência das próximas gerações. Na prática, essa demanda coletiva depende de uma conscientização individual
Nos últimos anos, o termo ‘sustentabilidade’ ganhou projeção em todo o mundo. O conceito – que começou a ser desenhado em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada na capital sueca, Estocolmo – está presente no discurso das empresas, nos veículos de comunicação e até nas conversas informais, ao discutir a sobrevivência das próximas gerações. Na prática, essa demanda coletiva depende de uma conscientização individual. Resumindo, sustentabilidade é a soma das atitudes de cada um. Nesta reportagem, com consultoria de especialistas, mostramos como aplicar no dia a dia os conceitos dos três pilares da sustentabilidade: econômico, ambiental e social. Mais do que garantir o futuro, o resultado final é uma receita de qualidade de vida.
Tudo começa com a economia
Garantir um futuro para você e para sua família é uma preocupação que, hoje, se estende ao planeta e às próximas gerações e, como vivemos cada vez mais conectados, as decisões tomadas em nosso universo particular podem se refletir em diversos setores da economia. Consumo responsável, uso consciente do crédito, planejamento financeiro doméstico são termos com que uma pessoa economicamente sustentável deve se familiarizar.
“Sustentabilidade é não desperdiçar”, define o economista Luis Carlos Ewald. Ele ficou conhecido como o ‘Sr. Dinheiro’, apresentando quadro do programa Fantástico, da Rede Globo, com dicas de economia doméstica e finanças pessoais. Para o professor de matemática financeira aplicada da Fundação Getulio Vargas, hábitos simples fazem a diferença: “Em nosso dia a dia, podemos evitar jogar comida fora, seja levando para casa o que restou da refeição no restaurante, seja prestando atenção às datas de validade dos produtos na hora da compra. Vale também não se apegar à moda e trocar todo o guarda-roupa a cada estação. Com isso, economizam-se vários insumos da natureza e vive-se bem”.
Para Ewald, quem se acostumou a acionar constantemente o cheque especial e rolar a dívida do cartão de crédito está jogando dinheiro fora em juros, que podem significar 10% do que ganha, como alerta o autor do livro Sobrou dinheiro: lições de economia doméstica (Editora Bertrand Brasil, 2003), que já vendeu 40 mil cópias.
A consciência para controlar o orçamento doméstico começa no planejamento familiar e se desdobra na instrução das crianças. “Primariamente, quem segue um conceito de vida financeira sustentável sabe se programar em relação ao número de filhos que será capaz de sustentar e educar.” Para o ‘Sr. Dinheiro’, a receita para introduzir em casa conceitos e, mais importante, ações para a administração responsável da verba familiar é simples: “educação, tempo e vontade”.
O papel de cada um no meio ambiente
Em matéria de ecologia, pequenas ações também fazem a diferença. Todos podem contribuir para a preservação do planeta. Estas afirmações parecem batidas mas são verdadeiras, como garante Heloisa Mello, consultora de Sustentabilidade. Quando se trata de meio ambiente, o que se faz em uma parte do mundo repercute nas outras. Se somos prejudicados pelo lixo que acumulamos e respiramos o ar poluído que produzimos ao circular de carro pelas ruas, podemos reverter esse quadro. Nossa sustentabilidade pessoal, agora e no futuro, também envolve cuidar do meio ambiente.
“Temos uma grande oportunidade de fazer a diferença. Não é preciso mudar completamente a rotina, mas fazer pequenas alterações que trazem mais qualidade de vida”, observa Heloisa. Substituir as sacolas plásticas pelas ecobags – bolsas de compras feitas de material reciclável – é um exemplo. “Uma campanha do Ministério do Meio Ambiente em parceria com ONGs e grandes supermercados conseguiu promover, em 2010, quase 30% de redução no uso das sacolas”, ilustra a consultora.
Na visão de Heloisa, a sociedade está mais consciente. “As pessoas estão começando a se sensibilizar em relação ao impacto que causam em suas próprias vidas”, analisa. Mas ainda temos muito a fazer. Da teoria à prática, a sustentabilidade passa pela educação. “É o fazer porque achamos algo importante, e não porque alguém mandou. Quando se começa a entender as consequências de nossas ações, nosso comportamento muda naturalmente”, explica.
É possível fazer a diferença principalmente no âmbito do consumo, sugere Heloisa. Podemos começar pelo consumo consciente para minimizar o desperdício e o descarte de lixo. “Se você mora sozinho, em vez de comprar embalagens grandes opte pelas pequenas, para evitar que os produtos estraguem. Já se tiver família grande, prefira embalagens maiores. Isso reduz o volume de resíduos e contribui para gastar menos matéria-prima – água, energia e outros recursos naturais. Produtos com refil também ajudam nesse propósito”, propõe a consultora. Evitar o desperdício é a chave. “Jogamos fora cerca de um terço dos alimentos que compramos. O ideal é ir ao mercado mais vezes, comprando quantidades menores, conforme a necessidade. O consumo consciente impacta positivamente o bolso e a saúde”, lembra Heloisa.
Ao alcance de todos nós também está trocar o consumo pelos afetos, como mostra a consultora: “Somos educados em uma sociedade que associa consumo a felicidade: se estamos tristes, vamos ao shopping . Em vez disso, podemos privilegiar as relações com nossos familiares e amigos; manifestações artísticas – ir ao teatro, cinema, exposições –, todas essas ações que têm mais conexão com o planeta. Podemos ser mais felizes em uma sociedade mais sustentável” (leia mais no quadro abaixo).
De bem com a sociedade e com você mesmo
Pensar no futuro também significa estar atento à dimensão social. Atividades de cultura e lazer – e também de voluntariado – influenciam a vida de todos nós. E como cada um pode conviver de forma sustentável? Marcia Belmiro, sócia-diretora da Humanitas Consultoria em Recursos Humanos no Rio de Janeiro e membro da Sociedade Brasileira de Coaching, acredita que o ponto de partida é elevar a autoestima. “Para isso, é necessário haver autoconhecimento. É preciso que cada pessoa identifique seus talentos, seus valores, suas características e também seus pontos fracos. Mas, antes de tudo, é fundamental querer mudar e agir de forma diferente”, observa.
Segundo a consultora, na esfera social, a maior dificuldade para a mudança é sair da zona de conforto. “Em geral, o cérebro humano trabalha no modo econômico de energia simplesmente por estar acostumado a essa situação. É muito mais fácil se manter em algo conhecido, mesmo insatisfatório, do que romper com um padrão e investir no novo. No entanto, o que alguns ignoram é que esse pensamento pode sabotar e, muitas vezes, impedir que consigamos caminhar em direção ao que desejamos”, explica Marcia.
O relacionamento com as pessoas, com a beleza e com a natureza também ajuda a estimular o que há de melhor em cada um de nós. “Uma pessoa tem maior propensão a entrar em processo depressivo quando não desenvolve relações com o mundo a sua volta. Hoje, algumas pesquisas já comprovam que relações verdadeiras de afeto são tão ou até mais eficientes para o bem-estar quanto uma alimentação balanceada e a prática de atividades físicas”, destaca.
Uma vida socialmente ativa também pode contribuir para o equilíbrio mental. Para Marcia, as pessoas mais felizes são as que buscam realizações importantes, que agreguem valor a sua vida. “A palavra-chave é construção. Não é preciso ser um workaholic, mas sim manter a mente sempre em funcionamento, até pela contemplação das coisas mais simples”, destaca. E reforça: “Entre em ação. O primeiro passo é que vai determinar o caminho que sua vida irá seguir, por isso é o mais difícil. Depois, tudo fluirá naturalmente”.