Edição 160 Agosto/2011

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Bem para todos

Voluntários contribuem para capacitar e dar autonomia às famílias assistidas

O Brasil está descobrindo sua vocação social. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o número de voluntários no país passou de 22 milhões, em 2001 – Ano Internacional do Voluntariado –, para 42 milhões, em 2010. Além disso, pesquisa do Instituto DataFolha revela que 83% dos brasileiros consideram a atividade muito importante e uma ferramenta estratégica na luta pela cidadania. A PREVI contribui com esses índices, contando com participantes aposentados e funcionários do Banco engajados, que dedicam boa parte de seu tempo livre às causas sociais. E o mais importante: encaram o trabalho voluntário como um prazer.

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A solidariedade se tornou um princípio de vida para aposentados como Pedro Carlos de Castro Nogueira, o Seu Pedro, de 67 anos. Participante do Plano 1, ele exerce o voluntariado como uma missão. O tempo que passa com as crianças, os jovens e os adultos atendidos pelo Centro Espírita O Pobre de Deus e o projeto O Pão da Vida transforma sua rotina. Casado, com oito filhos e seis netos, Seu Pedro mora em Viçosa do Ceará – cidade a 348km de Fortaleza – desde 1996, quando deu início a seu trabalho. Ao contar um pouco de seu dia a dia na obra social, se emociona e comove quem o ouve, manifestando gratidão àqueles a quem ajuda.

“Todos os dias, de segunda a sábado, desço os 13 quilômetros de serra que separam Viçosa do Ceará de Oiticicas para dar assistência àquelas pessoas. Quatro dias pela manhã e dois à tarde, passo boa parte de meu tempo livre lá, realizando um trabalho que dá sentido à minha vida, à minha aposentadoria. Vou porque quero, porque me faz bem. Existe uma grande troca de energia entre nós, que somos voluntários, e as pessoas a quem ajudamos. Aos sábados, temos um campeonato de futebol em Oiticicas. Às vezes, eu me atraso e, quando vou chegando com a Kombi, vejo aquelas crianças na estrada me esperando, para ter certeza de que eu venho mesmo. Quando me veem, é uma alegria para elas e maior ainda para mim. Muitas seguem comigo no carro, e as outras vêm correndo atrás, a pé. Quando estaciono no ginásio, que construímos com ajuda de verba do BNDES, é uma gritaria danada. Aquilo me envolve e me emociona profundamente. Elas são como uma família para mim, e a felicidade que sinto na retribuição pelo meu trabalho não tem preço. Sou voluntário, quem me paga é Deus.”

Seu Pedro conta com o apoio da família. Afinal, as horas que ele passa fora de casa, ajudando outras famílias, fazem bem para o corpo e para a alma, dando sentido ao tempo livre que conquistou depois que se aposentou no BB, onde trabalhou por 30 anos.

“Quando me aposentei, deixei de ser bancário para ser voluntário. Nesse trabalho, eu me realizo. Procuramos criar projetos que deem assistência a essas famílias, seja material ou espiritual. Embora a instituição seja espírita, não fazemos distinção de religião. Na região em que vivemos, há muita gente precisando de ajuda, seja uma palavra amiga, um remédio, ou a capacitação para aprender um ofício e conseguir levar a vida por conta própria. Enquanto isso, provemos cestas de alimentos, assistência médica. E realizamos bazares, torneios de futebol. Enfim, coisas para fazer e gente para atender não faltam. O trabalho acontece em várias frentes. Além do jogo aos sábados, com cerca de 80 crianças, e nas noites de quarta-feira com os pais – um  momento de descontração e de interação com eles – , visitamos diariamente três ou quatro famílias para conferir o que precisam, e nos mobilizarmos para resolver suas necessidades. Também fazemos mutirão para fazer consertos e reformas residenciais, e  realizamos uma feira de material usado (roupas, calçados, utensílios domésticos) para que as famílias possam adquiri-los por preços simbólicos, gerando verba a ser revertida para o projeto”.

Para Seu Pedro, não há idade certa para começar a ser voluntário. Ele, que trabalhou no BB por 30 anos – dez deles em São Paulo e os outros 20 em Fortaleza –, já praticava trabalho social quando era funcionário do Banco. Pelo menos uma vez por mês, ele e alguns amigos se reuniam para dar assistência a um leprosário em Fortaleza levando alimentos, conversando e visitando os doentes.

Solidariedade premiada

O projeto O Pão da Vida foi o vencedor da categoria livre do V Prêmio Cidadania Herbert de Souza - Betinho, promovido pela Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (Anabb). Mais de 130 trabalhos foram inscritos no Prêmio, que reconhece os projetos apoiados por comitês de cidadania ou de instituições que contam com o voluntariado de funcionários e aposentados do BB. O evento, prestigiado com a presença de Seu Pedro, aconteceu em Brasília, no dia 11 de agosto, e contemplou O Pão da Vida com R$ 10 mil, a serem empregados na reforma da cozinha da instituição.

O Pão da Vida ensina a fabricar itens de panificação e confeitaria. Cento e onze famílias, um total de 642 pessoas, são assistidas pelo projeto, que busca melhorar a qualidade de vida dos beneficiados pela capacitação, geração de empregos e iniciação no mercado de trabalho. A renda obtida com a venda dos produtos, por sua vez, mantém a obra social O Pobre de Deus.

“Voluntariado é um trabalho que você faz por prazer. Existe uma satisfação interior que não dá para explicar, de conversar, conviver com essas pessoas e aprender que a vida é para ser vivida com alegria, e que nós reclamamos demais. O voluntariado para mim é como um remédio. É raro eu adoecer, mas o corpo é frágil. Afinal, já tenho 67 anos. Não tenho preguiça de ir ajudar aquelas pessoas, porque aprendo mais do que ensino. O contato com gente simples, que, embora tenha uma vida sofrida, sabe sorrir e nos ensina a viver, a superar as dificuldades, é recompensador. Faço esse trabalho porque quero, gosto, me faz bem e me torna uma pessoa mais feliz por saber que sou útil e importante”, completa Seu Pedro.

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