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Para abrir a cabeça e o coração
Esporte, atividades sociais, boa saúde. Longevidade e qualidade de vida para quem cumpriu sua jornada de trabalho e aproveita o tempo livre como nenhuma geração anterior
Maria da Conceição Esqueda tem 63 anos e sempre foi uma pessoa ativa. Praticou esportes na juventude e começou a jogar vôlei aos 27 anos. Aposentada, ela participa de torneios pela AABB de São Paulo. Este ano, conquistou pela quarta vez o título do torneio internacional US Open de Vôlei na categoria acima de 60 anos, além de competir pela equipe brasileira na categoria de 55 anos, em que ficou com a medalha de bronze. Um feito impensável para a geração anterior em sua família. “Minha mãe faleceu com apenas 59 anos e parecia bem mais velha. E meu pai, que se foi quatro anos antes, aparentava mais do que seus 60”, compara. “As mulheres de 60 da minha geração são espetaculares. É como se fossem as de 30 da época da minha mãe”.
Participando de torneios, Maria da Conceição, que mora em Peruíbe, na Baixada Santista, faz amizades com outros aposentados – do Banco do Brasil ou não – de todas as partes do país e também do exterior. Foi assim que ela conheceu Emília Mércia, também aposentada do Plano 1, 53 anos, medalha de bronze do US Open na categoria de 50 anos, e jogadora pela AABB de Natal. No vôlei desde os 30 anos de idade, Emília também acredita que o esporte ajuda a preservar sua saúde e boa disposição. “Fiz uma cirurgia e poderia ter osteoporose por causa disso, mas não tenho o menor sinal de qualquer doença”, diz.
De fato, exercícios e boa alimentação podem prolongar a vida e minimizar os males do envelhecimento. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que os índices de ansiedade e depressão são reduzidos em idosos que praticam atividades físicas. Além disso, a rotina de ginástica, dança ou musculação ajuda a dar condicionamento, controlar o peso e até melhorar o humor.
“A constância na prática de esportes é fundamental para o corpo se manter saudável na terceira idade”, explica o professor da Unifesp Ricardo Cassilhas. A frequência na realização das atividades resulta em condicionamento e evita problemas recorrentes dos chamados atletas de fim de semana. “É importante que os exercícios sejam realizados rotineiramente, com recomendação médica e acompanhamento de um profissional de Educação Física. A manutenção de uma dieta equilibrada, rica em frutas e verduras, também colabora para uma vida mais saudável”, explica Cassilhas.
O benefício da atividade física, no entanto, não se limita ao corpo. Tão ou mais importante é seu efeito sobre a mente. A combinação de exercício e amizade retarda o envelhecimento, de acordo com a pesquisa da Unifesp. Voluntários que praticaram atividades em grupo tiveram melhora na qualidade de vida, na memória, no raciocínio e no humor, segundo Cassilhas. Emília concorda: “A melhor parte do esporte é a confraternização”, diz ela, que não abandonaria as quadras por nada. “Viajo tanto para participar de torneios que, às vezes, a família reclama”, conta. Maria Conceição acrescenta: “A socialização é fundamental, especialmente para as pessoas mais retraídas. A gente vira advogado, psicólogo, conselheiro e confidente dos amigos”, diz ela, que também é auxiliar técnica de um time de vôlei para maiores de 60 anos. “O esporte abre a cabeça e o coração”, afirma.
Curtição aos 81 anos
O esporte também ajuda a curtir a vida, como faz Alcides Cassis, aposentado do Plano 1 que mora na cidade de Valinhos, no interior de São Paulo. Aos 81 anos de idade, ele vai ao clube todos os dias pela manhã e passa quatro horas jogando tênis, paixão que o acompanha desde os 25 anos. Para ele, o amor pelo esporte cria um ciclo virtuoso de bem-estar físico e psicológico. “Se eu não tivesse isso, já estaria morto”, diz Cassis. Com 16 netos e 4 bisnetos, ele se orgulha de ter transmitido a alguns deles o gosto pelo esporte. “Um dos meus netos é instrutor de tênis em São José dos Campos.”
Cassis conta que chegou a ser o 22º do mundo nas categorias master, mas agora uma degeneração macular no olho direito piorou seu jogo. Mas ele não se rende... “A doença pode vir que eu não deixo subir à cabeça”, diz. O aposentado continua participando dos torneios na categoria acima de 80 anos. E, se não houver concorrentes suficientes para fechar as chaves, vai jogar com os jovens de 75. “O importante é sempre competir, mas vencer é melhor!”
Emília, Maria da Conceição e Cassis são bons exemplos de uma nova realidade, a dos aposentados ativos, que mantêm qualidade de vida, saúde física e mental, e ainda possuem uma expectativa de vida mais alta que a de gerações passadas. Segundo dados do IBGE, se, em 1940, a expectativa de vida de um brasileiro ao nascer era de 36 anos, em 2010, ela chegava a 73,4 anos. E o tempo de vida também aumenta para os mais velhos. “Em 1980, um homem de 60 anos tinha a expectativa de viver até 75,2 anos. Em 2009, essa expectativa subiu para 80 anos”, diz Fernando Albuquerque, gerente do projeto Componentes da Dinâmica Demográfica, do IBGE. Para as mulheres de 60 anos, a expectativa, que era de chegar aos 77,6 em 1980, passou para 83 em 2009. Hoje, a população de idosos totaliza 18 milhões de brasileiros (quase 10% da população total). Em 20 anos, serão 32 milhões.