Instrumento
social
O
Programa Berimbau ajuda a melhorar a vida de quem vive no entorno do
complexo hoteleiro de Costa do Sauípe
Você
provavelmente
já se encantou com o som do berimbau, com o qual se
acompanha o gingado da capoeira. É este instrumento de
percussão, que tem origem africana e a cara da Bahia, que
dá nome ao programa socioambiental da Costa do
Sauípe. O Programa Berimbau, criado pela Sauípe
S.A., com apoio da Fundação Banco do Brasil, da
PREVI, e de outros parceiros privados, toca 41 iniciativas para gerar
emprego e renda na região, educar sobre o respeito ao meio
ambiente, resgatar a cultura local e fortalecer o associativismo
comunitário.
E, desse modo, muda para melhor a vida de boa parte das 10 mil pessoas
que moram nas comunidades de Areal, Canoas, Curralinho, Diogo, Estiva,
Porto Sauípe, Vila Santo Antônio e Vila
Sauípe. Gente como Wilma Alves Bonfim Batista, 63,
Presidente da Associação de Artesãs de
Porto do Sauípe, que reúne 55 trabalhadoras.
Artesã desde os sete anos, dona Wilma está
há 13 na Associação. Diz que, desde
então, fez “um bocado de coisa: ajudei a comprar
geladeira, comprei blocos para fazer muro, argamassa para fazer laje e
mais coisas para deixar a casa chique”. A
Associação das Artesãs utiliza
principalmente piaçava para produzir tapetes,
chapéus, bolsas, esteiras, jogos americanos e outros artigos
que atraem os turistas que visitam a região. Com o apoio do
Programa, dona Wilma viu “as vendas aumentarem
100%”.
O
início
Em meados da
década de 1970, vastas
porções de terra no litoral norte da Bahia foram
utilizadas para a plantação de florestas de
eucaliptos e pinus, que causaram grande
concentração fundiária. Às
pessoas que venderam suas pequenas propriedades, sobrou a perspectiva
do trabalho sazonal de plantio. Por outro lado, houve o incremento da
infra-estrutura de transportes na região, aumentando o
interesse pelas belezas naturais e o afluxo de pessoas das
regiões vizinhas, ainda que apenas em curtas temporadas de
veraneio.
Somente em 1993, com a construção da Linha Verde,
é que o litoral norte foi mesmo
“descoberto” como destino turístico. O
resort Costa do Sauípe começou a operar em
outubro de 2000 reunindo cinco hotéis de padrão
internacional e seis pousadas temáticas, contando com lojas,
restaurantes e centros esportivos.
Desde as obras, o empreendimento atraiu a atenção
de uma grande quantidade de trabalhadores locais que viram ali a
possibilidade de aliar sua permanência na região a
um bom emprego. Com a inauguração, houve
também significativa demanda por
mão-de-obra qualificada na área de turismo e
hotelaria. Hoje, a Costa do Sauípe emprega
diretamente cerca de 2.000 trabalhadores, sem contar as
contratações extraordinárias na alta
temporada. Conseqüentemente, houve um adensamento populacional
na região e surgiu a necessidade de gerir esse crescimento
para minimizar danos provocados pela urbanização
acelerada daquelas comunidades. Assim, surgiu, em 2003, o Programa
Berimbau.
Principais
ações
Na
geração de emprego e renda o Programa atua
principalmente no desenvolvimento de cadeias produtivas com
raízes locais. Para a Associação de
Artesãs de Porto do Sauípe, hoje dirigida pela
Dona Wilma, o Programa Berimbau apoiou o suprimento de
infra-estrutura e disponibiliza uma loja na Vila Nova da Praia, o
centro comercial de Costa do Sauípe.
Para apoiar os agricultores, o Programa cedeu um galpão para
servir de entreposto comercial para a Coopevales, a cooperativa dos
agricultores locais. Hoje, são 150 famílias
ligadas à apicultura, 40 famílias no projeto de
auto-sustentabilidade no campo, 25 na extração do
coco e 50 famílias dedicadas à
fruticultura. Maria Bárbara Ribeiro Silva Filha,
25, trabalhava no campo e tinha duas caixas de mel. Com
espírito empreendedor, hoje tem dez caixas para
produção de mel e 24 mil mudas de abacaxi. Diz
estar “realizando um sonho de minha mãe, que era
trabalhar com a terra irrigada”. Recentemente, Maria
Bárbara comprou uma criação de 100
galinhas e está vendendo os ovos de suas aves para o resort.
Ela afirma que sua produção
já “está insuficiente para atender
à demanda”.
Entusiasta do Programa, Maria Bárbara afirma que aprendeu
muito com o Berimbau, que busca, segundo ela, “integrar de
uma maneira muito linda, o agricultor, o pescador, o
artesão, com o mesmo objetivo de crescer e multiplicar. E o
mais importante de tudo: o Berimbau ensina a pescar e dá
suporte para passar o peixe adiante, pensa na continuidade do
processo”.
No apoio à agricultura também destaca-se a
“Feirinha”, apelido carinhoso dado pelo pessoal da
região, hoje com o envolvimento de 50 famílias,
que vem atraindo cada vez mais gente em busca de produtos frescos e
orgânicos.
Na linha da preservação do meio ambiente foi
criada a Verdecoop, cooperativa formada por pessoas das comunidades do
entorno, que opera a coleta do lixo de Costa do Sauípe,
selecionando e comercializando o material reciclável do lixo
seco e se preparando para transformar em adubo o lixo
orgânico do complexo turístico, por meio de
processos 100% naturais de compostagem.
Marivani Santos Lisboa, 43, é coordenadora
administrativo-financeira da Verdecoop, onde está desde
2003. Diz que se sente “comprometida com o projeto, acredita
nele”, a ponto de recusar outras oportunidades profissionais.
Como fruto do seu trabalho, Marivani pode comprar
“máquina de lavar, fogão e geladeira
para minha mãe. Agora quero comprar um terreno e erguer um
quartinho para mim e minha filhota de sete anos”.
O mesmo brilho
nos olhos pode ser percebido em outras trabalhadoras da
cooperativa. Maria Hilda Matos dos Santos, 35, está
há cinco no projeto e diz que muita coisa mudou na sua vida
desde então. A cooperativa “é um sonho
que pretendia ver em pé funcionando como agora. A gente
é persistente!”, diz. Maria Hilda, no
início, também lavava roupa para completar a
renda. “Consegui geladeira, ferro, ventilador, aos poucos
estou terminando minha casa. Crio meus filhos, sou pai e
mãe.” Francisca Soares Barbosa, 37, e
Luciene Alves Batista, 44, também usam o dinheiro que ganham
para ajudar seus maridos nas despesas de casa e na
criação dos filhos.
Estas são algumas das ações do
Programa Berimbau, que também tem apoiado o desenvolvimento
da Copemar-LN, a cooperativa dos pescadores locais. Na área
do turismo comunitário há um intenso trabalho de
formação, e vale a pena destacar a parceria com a
Prefeitura Municipal de Entre Rios para a
realização do seminário Fazer Agora.
Além disso, o Programa Berimbau trabalha continuamente no
apoio de iniciativas de resgate da cultura local, como grupos de
capoeira e de samba de roda, nos valores efetivos da
educação e da capacitação
profissional para jovens da região. O Programa tem dado
sustentação ao Projeto Meninos do Porto, cuja
escola atende a cerca de 100 crianças. Outra parceria
é com o Programa BB Educar, da
Fundação Banco do Brasil, que já
alfabetizou mais de 200 adultos na região.
Potencial
transformador
O Programa Berimbau foi escolhido pela ONU, por meio do International
Trade Center (ITC), o programa modelo de desenvolvimento social com
base no turismo e recebeu o Prêmio Top Social 2004, concedido
pela Associação Comercial da Bahia. Esse
reconhecimento e as reavaliações por que passa o
Programa apontam o caminho que continua a ser seguido. O objetivo
é contribuir para a qualidade de vida das pessoas que vivem
naquela região e garantir um desenvolvimento equilibrado e
sustentável.
Em meio às belezas naturais e aos atrativos de conforto e
lazer da Costa do Sauípe, o berimbau ganhou novos
significados. Deixou de ser tão somente o instrumento
musical para tornar-se instrumento social.
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