O usuário também faz informação
O jornalista, ex-ombudsman da Folha de S.Paulo e atual responsável pelo portal iG, Caio Túlio Costa, concedeu
entrevista exclusiva à Revista PREVI sobre as mudanças que vêm ocorrendo na internet.
O jornalista Caio Túlio Costa é presidente da Brasil Telecom Internet, que abrange os provedores iG, iBEST e BrTurbo, e
professor de Ética Jornalística na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Antes, foi o primeiro ombudsman (representante
dos leitores dentro de um jornal) da imprensa brasileira e dirigiu a implantação do Universo On Line (UOL), um dos maiores
portais do país. Em maio, foi convidado a fazer palestra para os funcionários e para a direção, dentro da política de dar
subsídios para as mudanças que serão feitas na página da PREVI na internet.
Na palestra, Caio Túlio falou do que se está vivendo na internet e nas empresas que disputam esse mercado. Para ele, agora
é o momento de uma verdadeira revolução na rede mundial de computadores, o que se pode chamar de internet 2.0, aquela em que
se dá todo o poder ao usuário e o importante é a capacidade de interagirem. “É ver o que a pessoa quer e passar isso de volta
para ela”, resume. Com os mecanismos existentes, como e-mail, SMS (torpedos de celulares), blogues (diários eletrônicos), e
até jogos como o Second Life (ambiente tridimensional que simula vida real), existe um novo poder que obrigará jornalistas,
publicitários e outros profissionais das mídias tradicionais a repensar o modo de fazer dos veículos de comunicação. Caio
Túlio concedeu entrevista exclusiva à Revista PREVI, leia os principais trechos abaixo:
Começo de careira
Caio Túlio Costa – Comecei na cidade de Tupi Paulista, no interior de São Paulo, num jornal chamado O
Imparcial, de um sujeito muito importante em minha formação, Belmar Ramos. Eu trabalhava nesse jornal, fazia coluna social.
Foi isso que me levou a São Paulo para estudar jornalismo na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, onde fizemos
grandes jornais estudantis. Fazia ECA de manhã, trabalhava à tarde e estudava Filosofia à noite, e ainda militava no movimento
estudantil.
Depois, fui trabalhar na Leia Livros, revista fundada pelo Claudio Abramo e pelo Caio Graco, da Editora Brasiliense. Eu era
o faz-tudo ali. Depois fui para a Folha de S.Paulo, convidado pelo Otavio Frias Filho. Em 1981, fui o primeiro de uma geração
nova a chegar que fez coisas fantásticas como o apoio às Diretas Já, o projeto Folha, o Manual Geral de Redação etc. Botamos a
Folha na liderança do mercado nacional.
Criação do ombudsman
Caio Túlio - Esse era um projeto de meados dos anos 1980, mas só foi possível quando voltei da França, em 1989.
Fui secretário de redação da Folha de 1982 a 1987. Depois, fiquei dois anos na França como correspondente e voltei, a convite
do jornal, em 1989, para criar o cargo de ombudsman, o que fiz com enorme prazer. Em 1995, a direção do jornal me pediu um
projeto para internet, do qual resultou o Universo On-line, UOL, em que fiquei até 2002. Nesse ano fui demitido porque a
empresa achava que eu não seria capaz de fazer a renovação do negócio que eles queriam, de torná-lo mais rentável. Claro que
eu achava que seria capaz, mas, enfim, não era o que achava a direção da empresa.
Aí voltei a dar aula de Ética Jornalística e comecei a fazer mestrado e, depois, doutorado na USP. Também comecei a trabalhar
com o Eduardo Semler na Fundação Semco, em que fizemos projetos como de microdesenvolvimento regional, um projeto lindíssimo de
educação diferenciada etc. Quando venceu meu compromisso com o UOL, de não trabalhar em concorrentes por 30 meses, pude voltar
para o mercado e fui convidado para trabalhar no relançamento do portal iG.
Respeito ao leitor
Caio Túlio - De todas essas coisas que vivi, o que ficou foi uma humildade muito grande em relação ao leitor,
ao consumidor. Um respeito enorme. Mesmo quando a gente está tratando dos mais profundos problemas éticos do jornalismo, está-se
referindo ao direito de o cidadão ter acesso à informação, ao conhecimento. É isso que a comunicação faz, não importa por que
meio se acessa essa informação.
Preocupação com a qualidade do que o leitor recebe
Caio Túlio – Em geral as empresas não se preocupam. A fórmula mais burocrática que se encontrou foram os
Serviços de Atendimento ao Consumidor (SAC) e a mais criativa e humanista foi a do ombudsman. Isso explica um pouco porque
estamos criando o ombudsman também no iG.
Mudanças na internet
Caio Túlio – É uma mudança que faz com que você veja a internet não mais como uma mera mudança de plataforma,
mas como uma plataforma única, cuja razão é quem está do outro lado. Tudo o que você puder fazer para que quem esteja do
outro lado possa vivenciá-la será pouco. Pode ser resumido com “todo o poder ao usuário”. Se se puder sintetizar, o usuário
está no poder.
Disputa de mercado
Caio Túlio – Cada vez mais os veículos vão competir e isso é ótimo. Por que a internet é tão boa no Brasil?
Porque tem concorrência, se tivesse monopólio não seria tão boa.
internet muda comporta mentos?
Caio Túlio – Acho que sim, e isso é tratado num livro do Manuel Castels, chamado A Galáxia Internet. Ela, ao
mesmo tempo que individualiza, torna as relações mais frouxas e as comunidades mais sólidas. É paradoxal isso.
Morte do jornal com a internet?
Caio Túlio – Não acredito. Pode até existir a morte do suporte, não do jornalismo. O suporte pode mudar,
nem sei quando nem se isso vai acontecer, mas as regras do jornalismo são as mesmas.
Necessidade do ombudsman no portal
Caio Túlio – Para humanizar o portal, dar ao nosso internauta uma âncora ali dentro. E também porque vamos
passar por um período turbulento com as mudanças que vamos fazer no iG.
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