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ESPAÇO LIVRE » Perfil - Paixão por museus |
Tocado pela Arte
Aposentado do BB e presidente da Associação dos Amigos do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), Antonio Gonçalves confessa que jovem já havia sido tocado pelo “germe da arte”, mas ainda não se interessava por museus,
paixão a que hoje dedica boa parte de seu tempo
A história de Antonio Gonçalves começa no Banco do Brasil com a aprovação num concurso. A diferença é que isso aconteceu aos 18 anos, mas desde os 12 seu sonho já era trabalhar no Banco. Começou na agência Brás (SP) e depois de dois anos passou para a agência
Centro (também em São Paulo), em que ficou até se aposentar na década de 1980. Trabalhou a maior parte do tempo como instrutor no antigo Desed (departamento de desenvolvimento e seleção) e diz com orgulho que deu aula para mais de 15 mil pessoas. “E foi num período
importante da história do Banco, o do ingresso das mulheres. Em que era necessário ajustar a convivência dos públicos masculino e feminino. As mulheres entraram e a verdade é que havia muita resistência, foi necessário fazer uma minirevolução cultural no sentido de mudar as cabeças para aceitar uma convivência pacífica, produtiva e respeitosa como deve ser”, revela.
Mas, voltando à adolescência, foi nesse período que descobriu outra paixão que iria acompanhá-lo por toda a vida: a arte. Se hoje é presidente da Associação dos Amigos do Museu de Arte Contemporânea da USP (AAMAC) e vive boa parte de seu tempo entre as 10 mil obras do
acervo que considera o maior da América Latina, foi outra forma de expressão artística que primeiro o arrebatou. “Fui mordido pelo ‘germe’ cultural e da atuação comunitária na minha cidade natal, Barretos (SP), na adolescência. Lá havia uma pessoa, o Luís Carlos Arutim,
ator que me emocionava. Era alguém que gostava tanto do que fazia, o teatro, e se entregava ajudando a compor uma peça, aquilo foi um despertar.”
Se a arte apareceu na figura de Arutim (que faria novelas na Rede Globo, como Renascer, em que era o
turco Rachid),
as pinturas e as artes plásticas aconteceram em sua vida por outro contato pessoal. Aos 20 anos, casou-se com Lisbeth, aluna de Sociologia na USP como ele, que era filha do pintor paulistano Rebolo. “Isso me jogou no meio dos artistas plásticos e me propiciou contatos. Conheci pessoalmente
Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Volpi, Bonadei, Aldemir Martins, cheguei a ficar amigo de muitos deles”, afirma.
No começo da década de 1970, começou a participar de leilões, redigia catálogos, ajudava a escrever ou revisar texto de exposições etc. “E, principalmente, prestava muita atenção no que eles explicavam”, lembra. Mas o que nessa época ou até um pouco antes realmente lhe
interessava era a política, a resistência à ditadura. “Eu era ligado ao sindicato dos bancários de São Paulo, era um ativista. Dirigi também o Centro Acadêmico das Ciências Sociais da USP, além de trabalhar no Banco.” |
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Francisco Rebolo Gonsales
Paisagem, 1942
óleo sobre tela; 59,1 x 73,0 cm |
Situação funcional não deve ser alterada durante o processo de contratação
Há cerca de dez anos, Gonçalves foi convidado para ser membro da diretoria da Associação dos Amigos do MAC (AAMAC). “Já havia me interessado pelo assunto quando a Lisbeth participou da direção pela primeira vez, nos anos 90. Depois fui convidado por professores
que estavam na entidade para participar em cargos de diretoria. Fui aprendendo e hoje sou presidente da associação”, resume.
Sua paixão pelo museu é evidente, faz questão de dizer que o acervo é espetacular, “não só pela dimensão numérica, que são mais de 10 mil obras, é o maior acervo dos museus brasileiros, talvez da América Latina, mas também porque é um acervo de altíssima qualidade”. Para quem
não sabe, o museu foi fundado a partir de doações de Ciccillo Matarazzo e de sua esposa, Iolanda Penteado; depois
Flávio de Carvalho
Retrato de José lins do Rêgo, 1948
óleo sobre tela; 81x 65 cm |
passou a receber as principais obras premiadas das bienais paulistanas. Não é à toa que tem em seu acervo obras de artistas como Amedeo Modigliani, Tarsila do
Amaral, Joan Miró, Pablo Picasso.
O papel da associação que dirige é fazer uma interface entre o museu e a sociedade. “Não tem ninguém que
ganhe um centavo com isso; pelo contrário, as pessoas se dispõem a ajudar, pagam uma cota e também vão atrás de recursos para exposições”, diz. Para esse e outros trabalhos voluntários pela arte, faz um apelo: “cada pessoa pode ajudar, principalmente os funcionários do Banco do Brasil, os da ativa ou os aposentados. Todos têm muita coisa a dar no sentido de ajudar a desenvolver atividades culturais, de participar de ações comunitárias, seja aqui em São Paulo ou numa pequena cidade no Amazonas. O pessoal do Banco pode dar esse exemplo, envolver-se mais nas questões de cultura. Com isso ter prazer e dar retorno importante, ser útil socialmente. O Brasil inteiro
agradeceria se isso acontecesse”, conclui.
Sobre o MAC, museu que é público e pertence à Universidade de São Paulo, Gonçalves e todos que dele participam estão exultantes com a doação recebida no final de abril pelo governo do Estado do prédio em que funciona o Detran paulista, área total de cerca de 28 mil metros quadrados e que teve seu prédio principal projetado por Oscar Niemeyer. “O novo prédio vai ajudar a expor bastante coisa. Vai transformar o MAC e levá-lo ao padrão dos grandes museus europeus a partir de 2009. Isso dá uma nova dimensão”, conclui. |
O MAC EM SUA CASA
Para quem mora em São Paulo ou visita a cidade é
imprescindível conhecer o MAC pela qualidade e pelo
tamanho do acervo, provavelmente o maior do Brasil.
Para quem não está na capital a alternativa é fazer uma
visita ao MAC Virtual (http://www.macvirtual.usp.br).
Além de acessar imagens digitais de alta qualidade, há
ainda aplicações em três dimensões. |
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