Revista Previ – Como surgiu a idéia de fazer um fundo de pensão para artistas, o CulturaPREV?
Rosemary – Há muito tempo ficava incomodada com coisas desagradáveis que acontecem com músicos, atores, pessoal de circo. Teve um momento que fiz uma consulta a um desses grandes bancos para saber como levantar uma previdência para a gente, mas ficava muito caro, em torno de R$ 1 milhão.
O tempo passou e no dia do enterro do Doutor Roberto Marinho me encontrei com a Marluce Dias, executiva da Globo, e perguntei se poderia me ajudar. Ela olhou, parou e disse: “eu acho muito bom”. Indicou-me e passei a ter vários encontros com o Luís Erlanger, diretor de Comunicação da Globo. Chamei o Stephan Nercessian, que é um grande amigo meu e presidente do sindicato dos atores do Rio, o presidente da ordem dos músicos, Vitor Neto, entre outros, e a gente começou a ter reuniões.
Depois, fui buscar uma audiência com o ministro Gilberto Gil, por meio da mulher dele, a Flora. Conversamos, falamos sobre os problemas e perguntei o que ele achava de a gente fazer esse plano de previdência. Gil disse que achava muito bom e falou para ir na frente que ele dava o suporte. Começamos a trabalhar e foi aí que a Funarte entrou e, junto com o Ministério da Cultura, convocou todos os presidentes de sindicatos do país inteiro para discutirmos e começamos a ter suporte do pessoal da previdência, porque, na verdade, o CulturaPREV é um desses fundos associativos que o governo criou. Não foi assim tão fácil, mas saiu.
Revista Previ – Por que a Petros foi escolhida para gerir e como funciona o CulturaPREV?
Rosemary – A Petros apresentou a melhor proposta em relação a taxas, custos etc. O lançamento foi feito há cerca de 15 dias com a presença do ministro Gil, do presidente da Petros, do presidente da Funarte. Isso tudo já está funcionando desde o começo do ano, mas não havíamos feito grande propaganda de lançamento. Agora estamos trabalhando em outras questões e pedindo ao Governo para fazer filmes na TV para a gente convocar todas as classes da cultura a se informarem e aderirem porque, por baixo, somos 1 milhão de artistas espalhados pelo país.
Revista Previ – Qualquer artista pode aderir?
Rosemary – O CulturaPREV funciona por meio dos sindicatos, as pessoas precisam se sindicalizar. Aí passa-se a descontar o que quiser por mês para fazer sua previdência e usar na aposentadoria. Mas tem uma elasticidade, se o artista precisar ele tira, depois coloca de novo. Se alguém quiser fazer algum tipo de doação para um artista ela é aceita e pode ser descontada no imposto de renda. Agora também estou pedindo um plano básico de saúde, que a Petros ficou de olhar e dar uma resposta em 2007.
Revista Previ – Esse é um plano de contribuição definida, com a diferença de que a contribuição não precisa ser mensal, e ao final de determinado período o artista vê o que tem na sua “conta” e pode utilizar esses recursos?
Rosemary – Exatamente, aquilo que você contribuiu é o que vai ter. Sendo que, na realidade, tem algumas coisas a mais, porque nossa categoria é complicada. Há pessoas de 30 anos de idade que estão pedindo para morar na Casa dos Artistas porque não têm trabalho. O problema não é cronológico, é social. E cada vez mais seremos nossos próprios patrões, então necessitamos de alguma coisa diferente.
O lançamento contou também com a
presença
de Wagner Pinheiro, presidente
da Petros,
que administrá o CulturaPREV
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Revista Previ – O que aconteceu até hoje, por que os artistas não tinham nada parecido com isso? É falta de cultura de previdência?
Rosemary – Eu, sinceramente, não sei. O que sei é que os artistas nunca tiveram nada disso. Saí do papel de espectadora de algumas coisas que me desagradavam e parti para a ação. Acho que muita coisa poderia ser resolvida lá atrás. Mas o mundo hoje mudou e está mostrando que nossa classe e outras têm de se adaptar. Outro dia escutei o Dadá Maravilha (ex-jogador de futebol) dizendo que havia me visto na televisão falando do CulturaPREV e que também fundou algo com os jogadores de futebol. Todos têm de atentar que a vida é isso aí e que, ganhando ou não dinheiro, é necessário ter responsabilidade consigo mesmo e com a família.
Revista Previ – Parece que na classe artística, como em outras, não existe essa preocupação com o futuro porque a pessoa acha que vai fazer sucesso, ganhar dinheiro...
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Rosemary – Essa cultura está mudando, já existe uma gama de profissionais bem-sucedidos que aplicam e estão bem na vida. Mas tem outra gama que precisa ser trazida para essa realidade. E aqueles que já estão com idade, que já não podem mais, a gente pode tentar, com esse nosso fundo, abrir algo. Já pedi ao ministro, dei a idéia de a gente fazer shows em capitais do país, deixando o dinheiro arrecadado para ajudar artistas e outras áreas, que passam a ter algum tipo de alento.
Revista Previ – Qual a última mensagem que você deixaria sobre o CulturaPrev?
Rosemary – É que esse é um fundo voltado para a cultura em geral. Todo mundo que faz algum trabalho voltado para a cultura tem de procurar se informar através do e-mail contato@alemdoaplauso.com.br e também pelo telefone 0800-253545. E eu convoco todos os meus colegas, do país inteiro, para que entrem no CulturaPrev, porque a partir de R$ 26,50 você já começa a pagar uma previdência.
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