Wanderley divide-se entre o samba e o BB |
Músico, cantor e compositor carioca convive no dia-a-dia com o trabalho na Gerof e a carreira artística |
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Quem gosta de samba já ouviu – e cantou – a
música Água de Chuva no Mar, sucesso lançado
por Beth Carvalho que tem presença
nas rodas de bamba de Norte a Sul do País.
O que não se sabe é que um de seus compositores,
o músico e cantor Wanderley Monteiro,
divide seu dia-a-dia entre as apresentações artísticas e
o expediente no BB, na Gerência de Operações Financeiras,
da Diretoria de Finanças, Difin, no Rio de Janeiro. Rotina
cansativa que só a paixão ao samba explica.
“Tem dia que não almoço para sair mais cedo e cumprir
algum compromisso artístico. Meus companheiros
no Banco dão muito apoio e só tenho a agradecer”,
comenta Wanderley, que há seis anos se apresenta regularmente
na casa de samba Candongueiro, em Niterói,
e cumpre temporadas em outros espaços, como o Clube
Renascença, no Rio, e o Bar Samba, em São Paulo.
A rotina de shows em bares e casas noturnas começou há
mais de duas décadas, “primeiro por brincadeira, depois ficou sério”, conta. Mas o grande impulso na carreira aconteceu
no início da década de 90, após tentativa frustrada de
emplacar um samba-enredo na escola Unidos de São Clemente.
“Eu e meu amigo de infância Álvaro Maciel começamos
a compor e chegamos a fazer um samba para o bloco
Aventureiros do Leme. Daí decidimos disputar o enredo da
São Clemente para o Carnaval de 1994”, lembra.
O samba não foi o escolhido. Vendo o parceiro triste,
Álvaro resolveu escrever uma letra (posteriormente
musicada por Wanderley) inspirada no episódio: “Linda
melodia, linda poesia/ Não achei defeito algum/ Mas samba-
enredo/ Só ganha um”. A música, Vida de Compositor,
sensibilizou Beth
Carvalho. “Era um samba
que já nascia clássico”,
elogiou a cantora, a quem
coube lançar a canção,
em 1996. Wanderley, então,
passou a fazer nome
no cenário musical e a ter
a agenda lotada de shows.
A produção artística
também se multiplicou.
“Tenho hoje cerca de 200 composições, com diversos parceiros.
Zé Luís do Império, Carlos Caetano, Alcino
Corrêa, Délcio Carvalho e Luiz Carlos da Vila, entre muitos
outros”, lista Wanderley. “E canções gravadas por
Nilze Carvalho, Dorina, o próprio Zé Luís do Império, o
Luiz Carlos. Além, é claro, da Beth Carvalho”, resume.
Todos esses contatos e parcerias, segundo ele, só foram
possíveis a partir da freqüência em rodas de samba.
“Isso é a continuação do trabalho profissional. Quando
estou de folga, do Banco e dos compromissos musicais,
vou às rodas de samba encontrar as pessoas, conversar,
mostrar as composições, dar uma ‘canja’. É assim
que surgem novos trabalhos, novos projetos.” E foi dessa
forma, também, que pôde planejar seu primeiro trabalho
solo, o CD Vida de Compositor, lançado em 2004
pela Seven Music. “Foi nas rodas de samba que conheci
Paulão 7 Cordas, diretor musical do Zeca Pagodinho.
Ele aceitou produzir o CD, escolheu as músicas e chamou
músicos como o percussionista Marcus Esguleba e o violonista
Marcos Diniz”, ressalta.
O CD conta com participações especiais como a de
Tia Surica, tradicional figura da Velha Guarda da
Portela, no coro da faixa Quem Dera Coração. A presença
das já consagradas Vida de Compositor e Água de
Chuva no Mar ajudou nas vendagens, mas a gravadora não renovou o contrato. “Estou pensando agora no segundo
CD e para isso preciso de uma gravadora ou de
um patrocínio. Quero fazer outro trabalho bem profissional,
com os melhores músicos. Gostaria de incluir
composições de outras pessoas, mas sei que, com isso,
os custos aumentariam”, pondera o sambista.
Música em família
O envolvimento de Wanderley com a música começou
em casa. O pai, Pedro, tocava acordeon. Mas foi o
irmão mais velho, o violonista e cantor Alírio, quem o
presenteou com um cavaquinho e ensinou os primeiros
acordes. A partir daí, ainda na adolescência, começou
a tocar nos bares do Leme, da Barra e de seu bairro
natal, Botafogo. Aos 18 anos, já arriscava as primeiras
composições com o amigo Álvaro. A carreira só foi interrompida,
temporariamente, quando Wanderley
prestou concurso para o BB e passou, em 1987, tomando
posse em São Paulo, na antiga Agência Centro.
“Todos que passaram no concurso foram destacados para
o interior e capital de São Paulo. Nessa época me casei e dei
um tempo da vida de sambista.” Wanderley ficou um ano
e meio até ser transferido para o Rio, para uma agência
no Andaraí. Ali, no início da década passada, sua carreira
musical deslanchou. Em 1997, com o rodízio compulsório,
foi para a Barão de Mesquita, onde, há quatro
anos, passou para a Gerof.
A música em família, porém, prossegue. “Minha esposa,
Iracema, é cantora. E meus filhos, Caroline, Alan e
Camila também gostam de música. Lá em casa nem todo
mundo bebe, mas todo mundo samba”, brinca. A preocupação
com o bem-estar da família faz com que não
abandone suas responsabilidades como bancário. “Quero
melhorar minha posição no Banco e seguir carreira.
Se a música acontecer, são outros quinhentos”, diz. Para
ele, ainda é muito cedo para pensar em aposentadoria.
Mas já conseguiu comprar seu apartamento.
“Acho que a música sempre vai estar em minha vida, se
for para fazer alguma coisa depois de aposentado, será
isso. Aqui no Brasil, infelizmente, todo mundo que se
aposenta tem que continuar trabalhando, de uma forma
ou de outra, por causa da situação econômica do País.
No meio artístico não é diferente. Imagino seguir minha
carreira no Banco e garantir uma aposentadoria. Mas
ainda falta algum tempo, nunca pensei nisso. Concordo
que é hora de começar a pensar. Se possível, gostaria de
ter tempo e condições, no futuro, para também poder
dar muita atenção aos filhos e netos”, completa. |
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