|nº 109| Dezembro 05

Nesta Edição » Entrevista - Luís Nassif
Cobertura é amadora
Nassif é diretor da Agência Dinheiro Vivo e colunista da Folha de S. Paulo
Para o jornalista Luís Nassif na cobertura em relação aos fundos de pensão ficou clara a desinformação dos veículos de comunicação
O jornalista econômico, Luís Nassif, nesta entrevista exclusiva para a Revista PREVI, analisa a cobertura da mídia na atual crise, as denúncias aos fundos de pensão e a importância que eles têm para o País.
Leia os principais trechos abaixo.


Revista PREVI – Como o senhor analisa a cobertura da mídia nos escândalos envolvendo o governo federal e o PT?

Luís Nassif – Acho que é uma cobertura amadora. Tem fatos relevantes para serem apurados, mas que demandam trabalho e conhecimento técnico. Como é preciso dar uma manchete nova por dia, acabam destacando o que não tem a menor relevância e não aprofundando assuntos mais importantes. Misturam alhos com bugalhos.
Revista – E a cobertura específica em relação à PREVI e aos fundos de pensão?

Nassif – Essa cobertura pode ser vista por dois ângulos. Primeiro, pela disputa com o grupo Opportunity, que, com raras exceções, tem sido enviesada para o lado do próprio Opportunity.
Houve privilégio das ações do Daniel Dantas – algumas publicações não deram uma linha sequer sobre fatos graves que o atingiam e outras surgiram com matérias que pareciam claramente compradas. Mas o que mais me chamou a atenção foi que a imprensa pareceu não entender o lado técnico do cruzamento de informações e das operações de balcão. Ficou clara a desinformação dos meios de comunicação, culminando numa cobertura enviesada, que protegeu aquele que aprontou de fato. Em resumo: houve generalização ou não se deu atenção para a análise técnica.


Revista – A CPI dos Correios agiu corretamente ao quebrar o sigilo fiscal, telefônico e bancário dos fundos de pensão?

Nassif – O que causa espécie é o fato de quebrar o sigilo sem definição clara dos crimes. Acho que tem
que focar em alguns fundos de pensão sobre os quais pesam suspeitas e ir em cima. Porque quebrar o sigilo bancário de todos é uma estratégia para desqualificar os fundos num momento em que estão em conflito com o grupo Opportunity. O certo seria focar em determinados fundos, fazer investigações, auditorias e, constatado algo de concreto, expor à sociedade. Eu critico o método utilizado por considerar que intenta uma desestabilização antes da apuração da culpa.

Revista – Qual é a importância dos fundos de pensão para o desenvolvimento do país?


Nassif – O grande salto será quando a indústria dos fundos de pensão, de longo prazo, servirem para financiar o setor produtivo. Mas isso passa por um modelo de governança moderno e pela garantia de estarem a salvo de interferências políticas. É importante agora que a CPI analise o modelo de privatização adotado na década passada no Brasil, a partir dos dados coletados. Para ter discernimento não apenas das possíveis irregularidades cometidas agora, mas também do poder absoluto que foi dado, naquela época, a um gestor irresponsável – o que é um verdadeiro escândalo em qualquer lugar do mundo. Deve-se atentar aos interesses dos investidores, pois quem assinou esses contratos tem que ser responsabilizado civil e criminalmente. Outra coisa é que, se por um lado temos uma parcela da imprensa desfavorável aos fundos de pensão, por outro precisamos evitar o corporativismo desses fundos. A partir da análise das operações de balcão, deve-se apurar e denunciar, para separar o joio do trigo.