Cobertura é amadora |
Nassif é diretor da Agência Dinheiro Vivo e colunista da Folha de S. Paulo |
Para o jornalista Luís Nassif na cobertura em relação aos fundos de pensão ficou clara a desinformação dos veículos de comunicação |
O jornalista econômico, Luís Nassif, nesta entrevista exclusiva para a Revista PREVI, analisa a cobertura
da mídia na atual crise, as denúncias aos fundos de pensão e a importância que eles têm para o País.
Leia os principais trechos abaixo.
Revista PREVI – Como o senhor analisa a cobertura da mídia nos escândalos envolvendo o governo federal e o PT?
Luís Nassif – Acho que é uma cobertura amadora. Tem fatos relevantes para serem apurados, mas que demandam trabalho e conhecimento técnico. Como é preciso dar uma manchete nova por dia, acabam destacando o que não tem a menor relevância e não aprofundando assuntos mais importantes. Misturam alhos com bugalhos. |
Revista – E a cobertura específica em relação à PREVI e aos fundos de pensão?
Nassif – Essa cobertura pode ser vista por dois ângulos. Primeiro, pela disputa
com o grupo Opportunity, que,
com raras exceções, tem sido enviesada
para o lado do próprio Opportunity.
Houve privilégio das ações do Daniel
Dantas – algumas publicações não deram
uma linha sequer sobre fatos graves que o atingiam e outras surgiram
com matérias que pareciam claramente
compradas. Mas o que mais me
chamou a atenção foi que a imprensa
pareceu não entender o lado técnico
do cruzamento de informações e das
operações de balcão. Ficou clara a
desinformação dos meios de comunicação,
culminando numa cobertura
enviesada, que protegeu aquele que
aprontou de fato. Em resumo: houve
generalização ou não se deu atenção
para a análise técnica.
Revista – A CPI dos Correios agiu corretamente ao quebrar o sigilo fiscal,
telefônico e bancário dos fundos
de pensão?
Nassif – O que causa espécie é o
fato de quebrar o sigilo sem definição
clara dos crimes. Acho que tem
que focar em alguns fundos de pensão
sobre os quais pesam suspeitas e
ir em cima. Porque quebrar o sigilo
bancário de todos é uma estratégia
para desqualificar os fundos num
momento em que estão em conflito
com o grupo Opportunity. O certo
seria focar em determinados fundos,
fazer investigações, auditorias e,
constatado algo de concreto, expor
à sociedade. Eu critico o método utilizado
por considerar que intenta
uma desestabilização antes da apuração
da culpa.
Revista – Qual é a importância dos fundos de pensão para o desenvolvimento
do país?
Nassif – O grande salto será quando a indústria dos fundos de pensão,
de longo prazo, servirem para financiar
o setor produtivo. Mas isso passa
por um modelo de governança
moderno e pela garantia de estarem
a salvo de interferências políticas. É
importante agora que a CPI analise
o modelo de privatização adotado
na década passada no Brasil, a partir
dos dados coletados. Para ter
discernimento não apenas das possíveis
irregularidades cometidas
agora, mas também do poder absoluto
que foi dado, naquela época, a
um gestor irresponsável – o que é
um verdadeiro escândalo em qualquer
lugar do mundo. Deve-se atentar
aos interesses dos investidores,
pois quem assinou esses contratos
tem que ser responsabilizado civil e
criminalmente. Outra coisa é que, se
por um lado temos uma parcela da
imprensa desfavorável aos fundos de
pensão, por outro precisamos evitar
o corporativismo desses fundos.
A partir da análise das operações de
balcão, deve-se apurar e denunciar,
para separar o joio do trigo. |
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